É tudo improviso

Ao “interromper” ano de despedida de Faustão, Globo age como concorrentes

"Sumir" com um programa do nada parece prática de SBT ou Record

Publicado em 17/06/2021

Já são folclóricas as ligações de Silvio Santos ao SBT. Cada vez que o telefone toca no canal, tudo pode acontecer: programas podem ser criados ou acabar, podem mudar de nome, de formato e até de apresentador. O “Silvio Brincando de Televisão” já é algo ao qual o público da emissora está acostumado.

Mas o público da Globo não está acostumado com mudanças tão bruscas. Quando o canal anunciou, no início do ano, que o Domingão do Faustão estava entrando em sua última temporada, isso foi enxergado como a costumeira organização da emissora. Assim como Jô Soares teve um ano inteiro para fazer uma temporada de despedidas do Programa do Jô, Fausto Silva mereceu estratégia semelhante.

Nesta temporada de despedida, a promessa era apostar em edições especiais de quadros grandes do dominical. A Super Dança dos Famosos, que está acontecendo e que reúne grandes campeões de todas as temporadas, seria uma destas atrações que sinalizariam o fim da clássica atração. Ou seja, tudo estava caminhando para um ano de emoções, com as costumeiras celebrações de fase final.

Por estas e outras, o anúncio de que Globo e Fausto Silva anteciparam o fim da parceria pegou todo mundo de surpresa. Ao abolir a ideia de fazer uma temporada inteira de despedidas e, ainda, recrutar um substituto para dar sequência aos quadros especiais, a emissora abre mão de sua costumeira organização.

Se fosse no SBT, na Record TV ou até na RedeTV!, a estranheza não seria tanta. Aliás, o SBT fez isso com Gugu Liberato (1959 – 2019), que, quando anunciou sua transferência para a Record, acabou vendo seu compromisso com Silvio Santos abreviado. Inicialmente, Gugu só estrearia na nova emissora em 2010, mas o SBT optou por liberá-lo antes, pois não via sentido em manter no ar um apresentador que já estava com um pé na concorrência. Assim, Gugu estreou na Record em 2009, quando Celso Portiolli assumiu o Domingo Legal.

Desconforto

Sendo assim, o fim abrupto da parceria entre Faustão e Globo pode ter a ver com o anúncio bastante antecipado de sua transferência para a Band. Por mais que a emissora carioca tenha ficado muito mais flexível nos últimos anos, ainda parecia um tanto desconfortável manter no ar um artista que já se anunciava num novo canal. Isso deve ter pesado na decisão de antecipar a saída.

Ainda assim, a solução apresentada fica com cara de coisa improvisada, que não combina com o tal “padrão Globo de qualidade”. Do nada, o Domingão do Faustão não existe mais, e seu atual quadro principal, a Super Dança dos Famosos, agora é de Tiago Leifert. Aliás, o mesmo Tiago que reverenciou Faustão com muita elegância no domingo passado, quando Fausto se ausentou por estar internado. Com que cara Tiago assumirá esta bomba agora?

Por isso, o melhor que a Globo poderá fazer agora será antecipar o quanto for possível a estreia do novo programa de Luciano Huck. Quanto menos tempo o “Domingão sem Faustão” ficar no ar, melhor para o canal. Trata-se de uma situação um tanto bizarra, e até meio constrangedora.

Quanto ao Faustão, os tantos anos de casa mereciam uma despedida à altura. Um dos últimos grandes comunicadores da Globo sairá de cena pela porta dos fundos, sem nem ao menos dar uma palavra à audiência. Por tudo o que o animador representa, sua despedida merecia ser memorável.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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