Opinião

Ataque a Gabriela Ribeiro prova que machos se incomodam com a Copa do Mundo mais feminina da TV

Repórter da Globo foi assediada nas redes sociais por pergunta a Richarlison

Publicado em 06/12/2022

Esta Copa do Mundo é a primeira em que as mulheres ocupam posições dominadas por homens na TV. Narradoras, comentaristas e mais repórteres, tanto na Globo quanto em outros canais, ajudam a tornar a cobertura esportiva mais plural e menos machista. Finalmente, elas têm espaço para compartilhar o gosto por futebol. Este avanço, porém, desagrada uma minoria barulhenta de homens conservadores.

Enquanto no Catar mulheres são privadas da liberdade e jornalistas são vítimas de assédio, no Brasil o ataque é virtual e coordenado. O alvo da vez foi a jornalista Gabriela Ribeiro, que pela primeira vez cobre a seleção brasileira pela Globo. Ao entrevistar Richarlison, perguntou se a equipe precisava da vitória contra a Coreia do Sul. O atacante, com sua irreverência característica, brincou que era óbvio, pois era um jogo de mata-mata.

A intenção de Gabriela Ribeiro com a pergunta foi clara: após uma derrota na fase de grupos e uma série de lesões, vencer de forma convincente era importante para o grupo? Richarlison entendeu e respondeu corretamente, indo além do comentário bem-humorado (veja aqui).

A máfia masculina nas redes sociais foi implacável. Editou apenas a reação irônica do atacante, como se Gabriela não soubesse que uma derrota eliminaria o Brasil na Copa. A indagação de muitos sentidos virou uma pergunta idiota, que nenhuma pessoa faria… ou, na visão dos agressores, nenhum homem faria.

O recorte tenta invisibilizar toda a trajetória de Gabriela Ribeiro como repórter e apresentadora esportiva, tanto na RPC (afiliada da Globo no Paraná) quanto na Globo em São Paulo. Anula seu currículo para ser a responsável pela cobertura da seleção brasilera. Deslegitima a presença feminina em uma “coisa de homem”.

Para esta parcela nojenta do público, esta coluna tem uma má notícia: a tentativa de destruir a reputação de uma repórter (e de todas) não dará certo. Cobrir a Copa do Mundo é coisa de mulher. Nenhum vagabundo machista impedirá o progresso e a inclusão feminina (e feminista) como formadoras de opinião no jornalismo esportivo.

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