Opinião

Análise: The Voice com Fátima Bernardes é “rolê aleatório” necessário para Globo e apresentadora

Em "dança das cadeiras", Patrícia Poeta assume Encontro e Fátima pisa os dois pés no entretenimento

Publicado em 14/04/2022

A “dança das cadeiras” na Globo pegou quase todo mundo de surpresa. Entre as mudanças, Maria Beltrão sairá da GloboNews para assumir o É de Casa com Thiago Oliveira, Rita Batista e Talitha Morete; Patrícia Poeta e Manoel Soares comandarão o Encontro diretamente de São Paulo; e Fátima Bernardes irá para o The Voice Brasil. Esta, aliás, foi considerada a troca mais aleatória de todas. Entretanto, o reality musical é a melhor opção possível para a apresentadora e o canal.

No ar desde 2012, o The Voice saturou. Após sucessivas vitórias de Michel Teló (em seis das dez temporadas) e edições temáticas (com crianças e idosos), o programa entrou em uma espiral de mesmice e perdeu fôlego na disputa por audiência (em 2020, por exemplo, virou saco de pancadas de A Fazenda, da Record).

A última grande novidade havia sido a saída repentina de Tiago Leifert para cuidar da filha, diagnosticada com câncer na retina. André Marques, “queimado” no No Limite, não deu fôlego ao reality. Agora, finalmente, ganhou o chacoalhão de que precisava.

O fator surpresa, por si só, atrairá público para o The Voice. Todos estão curiosos para acompanhar o desempenho de Fátima Bernardes no entretenimento. Ela também. No Encontro desta quinta-feira (14), a apresentadora disse que na atração matinal ainda tinha um pé no jornalismo, pois ainda repercutia as notícias do dia e pautas relevantes para a sociedade.

“Quando deixei o Jornal Nacional, tinha a meta de trabalhar com entretenimento. Vim para cá, botei um pé no entretenimento mas fiquei com o outro pezinho no jornalismo. Só que eu estava querendo trazer o meu outro pé para o entretenimento. Com a possibilidade de fazer o The Voice, isso aconteceu. Estou muito feliz com esse desafio”, afirmou ela.

Fátima ficará no Encontro até junho, quando irá comemorar 10 anos à frente do programa. Depois, irá se dedicar exclusivamente ao The Voice, com estreia prevista para outubro. A apresentadora deixará de trabalhar todos os dias e aparecerá na TV somente às terças e quintas. Este é um sonho antigo da ex-titular do Jornal Nacional, que nos últimos anos virou até motivo de piada do público em razão das ausências constantes no matinal (“Encontre a Fátima” e “Encontro sem Fátima” são alguns exemplos).

No The Voice, Fátima terá compromissos com a Globo durante apenas três meses, podendo tirar férias tranquilamente. Este, porém, é o motivo menos importante para a mudança de turno da apresentadora. Desde sua troca do jornalismo para entretenimento, ela se permitiu faturar como garota-propaganda e emprestar sua credibilidade para empresas alimentícias e outras marcas.

Na competição musical, abre-se um leque comercial ainda maior para Fátima. A Globo oferece espaços da atração a operadoras de celular e TV a cabo, bancos, seguradoras, universidades e mais setores, seja nos intervalos, seja em inserções durante as apresentações.

Segundo a tabela comercial, o The Voice é a atração mais cara para se anunciar na linha de shows da Globo. Em 2021, a emissora cobrou R$ 493,4 mil por uma peça publicitária de 30 segundos. Uma propaganda de apenas seis segundos não saía por menos de R$ 197.360,00, preço superior ao cobrado por meio minuto do intervalo do Encontro (R$ 110 mil). Fátima deverá abocanhar boa parte desta quantia.

O The Voice com Fátima parece um “rolê aleatório”, mas é vantajoso para a Globo, que finalmente decidiu mexer profundamente no reality, e para a apresentadora, tanto pela carga de trabalho quanto pelo dinheiro. Em outubro, saberemos se a mudança também será vantajosa para o público.

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