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Amor Perfeito: Jorge Florêncio diz que Jesus negro é “presente divino” e torce por final feliz de Marcelino

À coluna, ator elogia Levi Asaf e defende representação negra de Cristo também na Record

Publicado em 21/06/2023

O público de Amor Perfeito, novela das seis da Globo, tem se emocionado com as conversas de Marcelino (Levi Asaf) com Jesus (Jorge Florêncio). A fé e a pureza do protagonista mirim fizeram transformar a imagem de Cristo em um ser humano de carne, osso e muita sabedoria. O intérprete do Deus do cristianismo, aliás, quebrou protocolos ao representá-lo como um homem negro.

“Jesus é a personificação do amor, ele é amor. Acredito que seu maior legado em sua passagem aqui na Terra seja esse, o amor incondicional ao próximo, sobre todas as coisas. Para além de raças, crenças e culturas, penso que seu maior desejo era uma palavrinha que nem se usava antigamente: empatia! Olhar para nosso semelhante sem julgar, entender sua necessidade e de alguma forma acolher, ajudar, servir”, afirma Jorge Florêncio.

À coluna, o ator comenta a preparação física (emagreceu para perder o corpo sarado) e bíblica (com o auxílio de um amigo estudante de teologia) para interpretar um de seus papéis mais importantes na carreira. Florêncio ainda elogia a parceria com Levi Asaf e torce pelo final feliz do personagem, diferente da obra original, Marcelino Pão e Vinho.

Leia abaixo a entrevista exclusiva com Jorge Florêncio, intérprete de Jesus em Amor Perfeito:

Jesus (Jorge Florêncio) e Marcelino (Levi Asaf) em Amor Perfeito
Jesus (Jorge Florêncio) e Marcelino (Levi Asaf) em Amor Perfeito

PAULO PACHECO: Como o papel de Jesus chegou até você?

JORGE FLORÊNCIO: Eu fui chamado pela produtora de elenco Marcella Bergamo para fazer um teste. Fiz e passei pra dar vida a um papel que não seguiria até o final da trama. Em novembro de 2022, a equipe entrou em contato comigo, disse que o perfil do personagem havia mudado e que infelizmente eu não poderia mais fazer parte do elenco. Em janeiro, a produção faz novo contato me sondando para outro personagem. Eu estava ensaiando para sair em turnê com um musical, e de fato não deixaria a peça se não fosse algo de relevância na novela. O diretor artístico André Câmara me ligou convidando para fazer ninguém menos que Jesus. Eu, é claro, aceitei de cara. Um misto de muitas sensações, muita alegria, emoção, e uma certeza: “Deixa estar, que o que for pra ser vigora”. Não estamos sozinhos e tudo tem seu tempo pra acontecer, não o nosso tempo, mas o tempo do divino, e acontece. A fé é e sempre será minha grande aliada.

PP: Esperava um dia, até pelas suas características, interpretar o Deus do cristianismo?

JF: Sempre que assistia às encenações da Paixão de Cristo em igrejas, sim, eu muitas vezes me vi ali, vivenciando toda aquela saga de Jesus Cristo. Confesso que nutri esse desejo em algum lugar. Agora, de fato, nunca imaginei essa experiência em uma novela, ainda mais na Globo, que não tem em suas obras esse perfil bíblico. Foi uma surpresa e tanto, literalmente um presente divino, eu acredito nisso.

PP: Qual sua relação com religião e fé?

JF: Costumo dizer que não tenho uma religião, mas carrego comigo uma fé inabalável. Embora tenha sido criado no cristianismo e já tenha ido a diversos templos de exercício da fé, não acredito que seja obrigatório estar dentro de uma casa, igreja ou templo para exercer minha fé. Para mim, Deus está em todos os lugares e, principalmente, dentro da gente. Acredito que a conexão com a fé, com o divino, parte em primeiro lugar de dentro da gente, do nosso coração. Para mim, a comunhão com Deus, é intimista e se manifesta diariamente à nossa volta, seja através da natureza, dos ventos, sol, chuva, de um bom dia! Basta a gente estar aberto e preparado para perceber essas manifestações constantes no nosso entorno. Deus se comunica com a gente através do outro, é só a gente aprender a ouvir.

PP: E como se preparou para interpretar Jesus?

JF: André Câmara, diretor artístico da novela, me pediu que emagrecesse para viver o papel. Desde então, minha rotina de treinos se modificaram. Deixei de ir com tanta frequência à academia e passei a focar nos treinos mais curtos e com menos carga. Meu objetivo era ficar menor e com corpo menos marcado. Ainda sigo nesse ritmo, já perdi quase 10 quilos. Sempre gostei de treinar muito e pesado, claro, com orientação de profissionais, mas nesse período tive que abrir mão da vaidade em prol do trabalho.

Assim que soube que faria Jesus, logo busquei entender um pouco mais sobre o Evangelho. Sempre achei uma leitura difícil e confusa, e, mesmo sabendo que a temática central da novela não é sobre passagens bíblicas em si, julguei importante fazer esses estudos por conta própria, e para isso conto ainda hoje com as orientações do meu amigo e estudante de teologia João Marcos Freitas, que também é artista e músico. Nossos diálogos são sempre leves, descontraídos, cercados de humor e acompanhados de um forte café, que não dispenso (risos). Nunca imaginei que falar do Evangelho poderia ser tão divertido e enriquecedor para mim enquanto artista e ser humano.

PP: As cenas com Levi Asaf, o Marcelino, emocionam o público. Como é contracenar com ele? Nos bastidores da novela, vocês também são muito próximos?

JF: O Levi é um amor, muito talentoso e carismático. Arranca sorrisos por onde passa e ilumina sempre com sua chegada! Busco sempre me conectar com o olhar dele para que, de algum modo, as lentes da câmera captem nossa relação. Essa pureza é essencial para nossas cenas e tenho certeza de que, em algum lugar, isso chega ao grande público. Sempre que estamos juntos nos bastidores a gente busca essa interação, que sem dúvidas influencia muito nas cenas.

PP: A história original de Marcelino tem um final trágico. Se dependesse de você, qual seria o desfecho perfeito para ele?

JF: Sem sombra de dúvidas, que ele finalmente encontre sua mãe e que possam seguir juntos também com o pai, completando uma linda família. Quero acreditar que esse será o desfecho (risos).

PP: Jesus ganhou várias representações nos últimos 2023 anos, a maioria como homem branco. Para você, quem foi Jesus?

JF: Jesus é a personificação do amor, ele é amor. Acredito que seu maior legado em sua passagem aqui na Terra seja esse, o amor incondicional ao próximo, sobre todas as coisas. Para além de raças, crenças e culturas, penso que seu maior desejo era uma palavrinha que nem se usava antigamente: empatia! Olhar para nosso semelhante sem julgar, entender sua necessidade e de alguma forma acolher, ajudar, servir.

PP: Na TV, Jesus repetiu as representações como homem branco. Acredita que o seu Jesus caberia em uma trama bíblica da Record, por exemplo?

JF: Por que não? Uma vez que a gente lida com a palavra de Deus a partir do coração, alguns preconceitos certamente desaparecem e dão lugar ao sentimento soberano para se falar em nome dele, o amor. Amor Perfeito, brilhantemente escrita por Duca Rachid, Elísio Lopes Jr. e Júlio Fischer e dirigida sensivelmente pelo André Câmara, traz essa pluralidade e diversidade a nossa trama, tornando a obra singular. O nome da novela já diz muito do que me chama a atenção para vivenciar esse personagem. Jesus é a própria personificação do que é o amor, então, para mim, falar de Jesus Cristo é, acima de todas as coisas, falar em amor, que é o seu legado de sua passagem pela Terra. Antes de julgar, apontar, questionar, façamos o exercício do amor, da escuta, do olhar e certamente nossos dias serão mais leves, assim como Jesus busca fazer com o pequeno Marcelino na novela.

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