Entrevista Exclusiva

“Na minha idade é um privilégio poder aprender tanta coisa nova todos os dias“, diz Eduardo Oinegue

Aos 58 anos, apresentador do Jornal da Band e da BandNews FM se orgulha de ser um curioso nato

Publicado em 24/08/2022

Ele tem mais de 40 anos de carreira, dos quais 20 na Editora Abril, onde trabalhou nas duas revistas mais prestigiadas da casa, Veja e Exame. Nos últimos anos, recebeu o desafio de ancorar o maior jornal da Band TV e um programa na Bandnews FM. O jornalista, radialista, apresentador e palestrante Eduardo Oinegue é meu convidado de hoje.

Oinegue compartilha um pouco da sua experiência e métodos nessa conversa informal, além de avaliar o papel que o jornalismo brasileiro ocupa hoje na sociedade. Confira!

CHRISTIANO BLOTA – Estou muito feliz de ter você na coluna, Oinegue. Começo te perguntando: como surgiu o jornalismo na sua vida? Como você se descobriu jornalista?

EDUARDO OINEGUEEssa é uma coisa curiosa. O meu avô materno era médico e minha mãe cultivava a ideia de ter um filho médico. Durante um bom tempo, achei que fosse ser médico. Ganhei um microscópio da minha mãe, que pertencia ao meu avô, que eu guardo até hoje. Faltando dois meses para escolher o curso, cheguei à conclusão de que não tinha nada a ver comigo e que deveria poupar a medicina e os pacientes de serem atendidos por mim. A medicina saiu ganhando muito com a minha decisão (risos). E resolvi fazer jornalismo, assim do nada. Eu gostava de escrever, o professor de redação elogiava meus textos, eu curtia me comunicar… Mas foi uma decisão curiosa, porque não tem por trás uma inspiração, como um parente. Claro, meus pais assinavam jornais, eu lia, mas até aí quem faz direito também tem que se informar, ler. Tanto que, quando eu entrei na faculdade de jornalismo, na PUC-SP, o pai de um amigo muito querido falou: “para com isso, não faz jornalismo, porque não vai te levar a lugar nenhum. Faz direito e vem trabalhar comigo”. Fiquei meio desorientado, pensando que poderia fazer uma besteira – até porque o cara cravava que eu estava fazendo uma grande besteira. Não posso dizer que a faculdade reafirmou minha decisão, porque não achei a faculdade uma grande coisa, mas logo no primeiro ano comecei a trabalhar.

Oinegue logo emenda memórias divertidas da juventude…

EO – Na minha primeira tentativa de emprego, falei: “vou trabalhar na televisão!”. Minha mãe tinha sido atriz amadora na juventude e alguns colegas dela do teatro amador se tornaram atores profissionais – ela não se tornou, porque meu avô, pai dela, dizia que esse não era um ambiente adequado para uma pessoa como a minha mãe. Isso num momento em que ela tinha sido convidada a integrar uma das companhias de teatro mais destacadas da época. A carreira no teatro não andou, mas restaram os contatos. E um deles, o Felipe Carone, se prontificou a falar com o diretor de jornalismo da Globo São Paulo, o Dante Matiussi, que topou me receber. Então “botei” um terno, só que um garoto de 17 anos com um terno é só um garoto de 17 anos. Não importa se ele está com terno ou roupa de Papai Noel, você olha para ele e vê um moleque (risos). Eu fui lá e o Dante perguntou há quanto tempo eu estava formado. Quando eu disse que estava no primeiro ano da faculdade, ele falou: “então você volta para casa, estuda bonitinho e, depois que você se formar, a gente volta a se falar”. Então você veja como eu comecei a carreira: a minha primeira experiência no jornalismo foi ser demitido. Eu fui demitido antes de entrar. Conheci o jornalismo sendo demitido (risos). Naquele momento eu pensei: “ferrou! A televisão brasileira fechou todas as portas para mim, vou ter que procurar uma alternativa”. Então comecei a olhar nos classificados dos jornais e achei uma vaga em um jornal da Vila Formosa, que fica na zona leste de São Paulo. Saí da Globo e fui para a Folha da Vila Formosa. Marquei de conversar com o dono do jornal e, como eu morava perto da Avenida Paulista, tinha que pegar um ônibus para ir até o centro da cidade, onde pegava outro ônibus para ir para a Zona Leste. A vaga que tinham era de contato publicitário. Eu não tinha muita convicção de que queria isso ou aquilo. Uma vez demitido da televisão brasileira, só queria trabalhar em um jornal. No primeiro dia, tinha lá um vendedor de anúncios e fui com ele de moto a um centro de beleza para oferecer um anúncio. Quando a dona disse que não acreditava em publicidade, o vendedor respondeu que ia pagar um anúncio do próprio bolso para dizer que o lugar era uma espelunca. Arregalei os olhos ao ouvir aquilo e, quando voltei para o jornal, expliquei para o dono que não sabia fazer aquilo (risos). E perguntei se tinha alguma alternativa mais normal, tipo assim escrevendo… Ele me colocou para ajudar a fechar o jornal. Não sabia exatamente o que queria dizer “fechar o jornal”, porque os jargões são muito engraçados no jornalismo. Por um instante fiquei pensando que era o que me faltava. Mal cheguei e fechei um jornal? Comecei a trabalhar. Só que, se na primeira experiência profissional que tive já fui demitido, na segunda eu não recebia, o cara não pagava.

CB – E mesmo assim você continuou lá?

EO – Eu fui trabalhar em um outro jornal em Itapevi, e fui indo cada vez mais longe da capital. Depois, surgiu a oportunidade de fazer o jornalzinho da Associação dos Escreventes dos Cartórios Oficializados do Estado de São Paulo. E assim foi durante a faculdade, até que eu cruzei com um cara que falou: “olha, eu queria que você fizesse uma reportagem descrevendo todos os serviços de quem pega a estrada saindo de São Paulo e indo até a porta de um determinado condomínio na Castelo Branco”. Fiz, ele gostou e, como ele trabalhava na Editora Abril, me convidou para trabalhar numa revista chamada Guia Cozinha. Quando conclui a faculdade, fiz o curso Abril e fui escolhido para trabalhar na Veja São Paulo.

CB – Você lembra com quantos anos, Oinegue?

EO – Tinha 20 ou 21…

CB – Era bem novo para entrar na Veja.

EO – E fiquei na Abril até os 40, ou seja, fiquei 20 anos lá. Na Veja São Paulo, trabalhei como repórter durante 11 meses, depois fui convidado para trabalhar na editoria de política da Veja. Aos 22 anos, fui convidado para chefiar a sucursal da Veja no Recife. Fui e foi legal. Cuidava de uma área muito grande: Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Pernambuco, naturalmente. Lá, entrevistei Fernando Collor de Mello, Miguel Arraes, Tasso Jereissati…Tinha uma equipe, e fazíamos reportagens sobre vários assuntos: polícia, política, comportamento, clima, tudo. E o Fernando Collor disse que iria ser candidato a presidente. No primeiro momento parecia uma piada, mas era realidade. Quando ele lança a candidatura, em 1989, me convidam para ser o número 2 da sucursal de Brasília, sendo que o 1 seria correspondente de Paris que desistiu. Então eu fiquei seis anos chefiando a sucursal da Veja em Brasília. Cheguei lá aos 24 anos e fiquei até os 30. Ou seja, eu fui precoce para lá, mas contou como elemento de sorte o fato daquele que dizia que seria candidato a presidente da República não só foi, como ganhou. Eu não conhecia Brasilia, nunca tinha pisado no Planalto Central, não entendi nada do jogo do poder, mas eu tinha um diferencial. Eu conhecia o Collor, a mulher dele, seus irmãos, seu porta-voz. Conhecia toda aquela turma que cercava o Collor, o que me dava alguma vantagem na comparação com os grandes jornalistas de Brasilia.

CB –  E você sabia, você tinha todo o background porque você acompanhava a vida política dele, né?

EO – Sim. Tem uma capa da Veja que é o Collor com o título “O Caçador de Marajás”… Eu fui o repórter daquela capa.

CB – Claro que me lembro dessa capa…

EO – Também fui o cara que, a partir de Brasilia, coordenou toda a cobertura da Veja que derrubou o Collor. Eu era o chefe da sucursal da Veja em Brasília nessa época. É minha a primeira reportagem sobre a queda do Collor, que é de fevereiro de 1992, cujo título é “Dossiê Explosivo”, dizia que Pedro Collor teria um dossiê capaz de “produzir” o impeachment do irmão dele em 72 horas. São duas páginas de Veja, assinadas por mim. Depois, o Luiz Costa Pinto, tremendo repórter da equipe de Brasília, começou a seguir o Pedro e a Veja fez a entrevista com o Pedro, além de um monte de reportagens. Fomos até premiados com o Esso. Fiquei em Brasília chefiando a sucursal de 1989 até 1995, quando voltei para São Paulo como editor chefe da Veja. Depois me tornei redator-chefe da Veja e, em seguida, diretor de redação da Revista Exame. Com 40 anos saí da Abril. Fiquei 20 anos lá e falei: “chega, quero fazer outras coisas”. Então decidi empreender e montei uma editora, a Análise Editorial, da qual eu sou sócio até hoje. Meus sócios nessa empreitada são dois jornalistas talentosíssimos: Alexandre Secco e Silvana Quaglio. Silvana, que preside a empresa, tem passagem por grandes redações, como Veja, Folha de S. Paulo, O Globo, Tv Globo, Estado de S. Paulo, Valor Econômico e BBC de Londres.

CB – É uma editora de livros, Oinegue?

EO – É uma editora especializada em anuários jurídicos: faz, por exemplo, o Análise 500, que é um anuário dos advogados mais admirados do Brasil. Tem o, dos diretores jurídicos e financeiros, o Diretório Nacional da Advocacia. Além das publicações, a Análise faz uma cobertura jornalística do setor, que pode ser lida no aplicativo ou no site. Também atuei como consultor de imagem e reputação, trabalhando para grandes empresas e entidades. Depois, fui convidado para ser publisher do portal iG. A Oi tinha comprado o iG e eles queriam transformá-lo num produtor de conteúdo importante. Fizemos um investimento expressivo, contratando 180 jornalistas – figuras como a Thais Arbex, hoje na CNN Brasil, e Andréia Sadi, por exemplo, hoje na Globo News, passaram por lá. Foram dois anos. Nesse período, a gente contratava pesquisas eleitorais e a Band dividia as pesquisas com o iG, então passamos a fazer parcerias. Eu participava do Band Eleições e do Canal Livre como jornalista convidado e representante de um parceiro das pesquisas eleitorais. Até que me convidaram para ser colunista das rádios Bandeirantes e BandNews FM, o que passei a fazer todos os dias depois que saí do iG. Depois começamos a discutir a possibilidade de eu apresentar um programa, mas a equação não fechava: nem a equação financeira nem os horários, até que chegamos em um acordo para eu apresentar o Jornal da Noite e também um programa na BandNews FM ao meio dia. Fechamos.

CB – E ali iniciava sua trajetória na Rede Bandeirantes…

EO – Pois é. Estava tudo certo para eu estrear, primeiro na rádio, e dali a alguns meses de ensaio, na TV, quando o Brasil tomou aquele choque, aquele susto, que foi a morte de Ricardo Boechat. Boechat que eu havia tentado levar para a editora Abril no final dos anos 90 ou início do ano 2000. Na época ele trabalhava nas Organizações Globo e cheguei a encontrá-lo mais de uma vez no Rio de Janeiro para ver se conseguia convencê-lo a entrar para o time de Veja. Não deu certo. Já trabalhando como colunista do Grupo Band, participei de várias edições do Canal Livre que ele apresentou. Tinha uma boa relação com ele, de respeito profissional, admiração – ele era incrível, um sujeito extraordinário. Quando ele faleceu, alguém tinha que apresentar o Jornal da Band. O “Johnny” [João Carlos] Saad e o Fernando Mitre resolveram apostar no meu nome – um cara que nunca tinha feito televisão como apresentador, só como comentarista. Resolveram apostar num nome novo nesse sentido, porque novo de idade eu não sou.

CB – E surgiu o desafio de substituir o Boechat. Você sentiu alguma comparação?

EO – Vamos deixar bem claro? Boechat é insubstituível, assim como Pelé é insubstituível. Você pode colocar alguém para fazer o que ele faz. Não fará do jeito que ele fazia. E quem tentar imitar vai quebrar a cara. Nesse sentido, não fui convidado para substituir ninguém. Fui convidado para apresentar o Jornal da Band, que é o que eu faço com uma alegria incrível, com um orgulho incrível.

CB – O que eu sinto como jornalista e ouvinte é que você deixa sua marca na Bandeirantes justamente porque você é o Oinegue. Você entrou no rádio e na televisão com o seu estilo, você não quis imitar ninguém e isso para mim faz toda a diferença…

EO – Você está sendo generoso. Obrigado. Acho importante esse cuidado de não copiar quem quer que seja, pelo simples fato de que não funciona. Você não vai copiar direito e vai ficar falso. Você é o único que pode ser o Christiano, não dá para ter outro. As pessoas são únicas. Se você tentar imitar alguém nem vai ser o outro nem vai ser você. Vai ficar num meio do caminho, o que é esquisito, sem estilo algum. O que a gente pode usar como fonte de inspiração? A seriedade dos grandes jornalistas, a busca incessante da verdade, o compromisso com os fatos, isso sim. Você tem que olhar para os melhores e falar: “tenho que ser tão sério e comprometido quanto ele”. Como fazer isso? Fazer do meu jeito. Decidi apresentar o Jornal da Band do meu jeito com dicas e pistas das pessoas que eu respeito: o Johnny Saad, o Fernando Mitre, o Rodolfo Schneider, o Andre Basbaum…Toda hora eles me dão alguma dica, orientação, comentário… É uma construção e isso é muito bom. Como tem troca grande também com o Paulo Nogueira, a Camila Moutinho, o Luciano Dorin e o Rodrigo Vanni, que é o alto comando do Jornal da Band. Quando falo esses nomes, são as pessoas a quem eu me reporto, mas, ao mesmo tempo, tem a Lana Canepa, a Joana Treptow, Paloma Tocci, que são pessoas que me ajudam sem nenhum interesse, porque eu não contrato, não demito, não dou aumento nem nada, e elas me ajudam a crescer. Não posso deixar de citar toda a equipe da Bandnews FM, liderada pela Sheila Magalhaes e pelo Felipe Felix.

Oinegue compartilha, então, uma parceria especial.

EO – Quando eu fui escolhido para ser o apresentador do Jornal da Band, todos os dias, depois que acabava o jornal, a Lana Canepa ficava na bancada e a gente fazia as passagens de bloco, a escalada, cabeças divididas etc. E ela ficava lá o tempo que fosse, durante um bom tempo, para eu pegar o jeito de fazer, porque tem uma técnica. Em um dos dias, falei para ela: “sinto que estou andando em círculos, não consigo ver a melhora”. Ela pegou um pedaço de papel, riscou um círculo e disse: “é porque você está olhando do ângulo errado”. Ela começou a simular uma mola, uma espiral para cima e continuou: “você está avançando, até que você olha de cima e vê só o círculo, mas, quando você vê de lado, percebe que está avançando”. Escrevi “Lana Canepa”, coloquei a data, dobrei e está na minha carteira até hoje como demonstração de carinho. Talvez ela não tenha ideia do quanto isso foi importante. O treinamento começou em fevereiro e eu entrei no ar em maio de 2019.

CB – Foi rápido, Oinegue! E você tem uma coisa que o Boechat também tinha: o mais importante é o conteúdo, claro, mas você tem uma impostação de voz natural e uma dicção muito boa. Sabemos que você tem o conteúdo, mas transmitir, por mais que você tenha treinado, vem de forma natural da sua parte…

EO – O papel te obriga a ser bom em imagem. O papel são imagens sem imagens, sem som e sem nada. Você escreve e descreve uma casa que ninguém está vendo. Você tem que falar que algo é grande sem que ninguém possa ver – sendo que na televisão você mostra. Na televisão você fala: “olha o tamanho desse lugar” e as pessoas veem. Na Veja, fiz uma reportagem especial sobre a Amazônia, fiquei quase três meses lá e escrevi 46 páginas. Como você descreve o tamanho de uma vitória-régia? Como você descreve a destruição ambiental? Como você descreve a dor da miséria dos ribeirinhos? Você acaba tendo que fazer metáforas, comparações, você exerce ou desenvolve um músculo muito específico que ajuda na hora que você vai transplantar essa descrição para o rádio, principalmente, ou para a televisão. Na televisão, comentários um pouco mais curtos e, no rádio, comentários mais elaborados. Gosto muito de economia, negócios, política, questões sociais. Então não me considero um jornalista de política, nem de economia, nem de educação… Não tem nada que eu possa dizer: “o Oinegue é a maior referência nisso”. Sou curioso. Quando vou mergulhar num assunto, eu debulho tudo. Se vou explicar por que a taxa de juros no Brasil é tão alta, leio, comparo, faço tabela, pego quadro, comparo com dez países… Realmente sou muito aplicado. Sempre achei que, em respeito a quem paga um exemplar de revista, um assinante, um ouvinte, eu tenho a obrigação de entregar alguma coisa que justifique o retorno dele amanhã. Eu quero ele lá amanhã.

CB – Mas você acha que, nessa sua linha de raciocínio, a base foi o papel, foi o jornalismo impresso?

EONão tenho a menor dúvida, até porque eu construí minha vida no papel. Mesmo na editora e no Portal iG, você pode fazer vídeo, rádio, o que for, mas você escreve. Eu tenho 41 anos de jornalismo, mas a minha experiência em televisão é menor do que a de qualquer um que trabalha no Jornal da Band, mesmo os mais novos, a não ser os estagiários. Ou seja, tenho que aprender sobre edição e várias coisas, mas eu tenho a entregar também muita coisa. Pelas coisas que eu já vi e vivi, me considero um felizardo por poder, nessa altura da minha vida profissional, aprender. Tem muita gente que, na minha idade, já não está mais aprendendo nada, porque não tem curiosidade ou oportunidade de aprender.

O jornalista explica como esses aprendizados impactam no seu dia a dia profissional.

EO – Acho que uma revista, como é a BandNews no meio do dia – nesse sentido de dar notícias de comportamento, de economia –, precisa de diferentes assuntos. As pessoas têm interesse em educação dos filhos, elas querem comprar comida, querem reformar a casa, querem vender alguma coisa. Eu gosto de buscar essa sintonia com a vida das pessoas ao invés de obrigá-las a migrar para a minha.

CB – Oinegue, depois de um tempo em televisão e rádio, você percebe quando um companheiro seu de trabalho está um pouco tenso. É algo comum, às vezes você não está num dia bom, às vezes aparece algo de última hora e você vê que o profissional treme um pouco. Mas eu não senti isso em você. Você entrou nessa função de forma natural. É uma impressão ou você realmente se sente assim?

EO – Acho que é uma impressão que eu passo. E fico feliz de passar essa impressão, porque acho importante. Se você vai para um hospital levando seu parente machucado, o que você espera não é um médico nervoso e inseguro, você espera um médico que saiba o que está fazendo, passe segurança. Claro que, toda vez que você vai entrar no ar, é uma tensão. O rádio e a televisão são muito diferentes. Embora hoje tudo tenha imagem, no rádio você não fala para a câmera. A câmera flagra você no ambiente de trabalho, como se fosse uma câmera de segurança. Às vezes, estou de terno, e a Débora Alfano ou o Fábio França falam “pô, hoje você veio com uma roupa de festa, o que está acontecendo?”. É parte do jogo essas brincadeiras. Agora, no Jornal da Band você tem que ter um pouco mais de cuidado. Na rádio há vários programas com vários âncoras, cada qual com uma opinião. Na TV é diferente. A TV pode ser mais informal do que já foi um dia, mas ainda não chega a ser tão informal quanto um programa de radio.

Quanto à apreensão, eu fiz muita palestra para muita gente, com públicos de tamanho variado, às vezes públicos mais restritos, mas muito qualificados, às vezes públicos maiores. O maior público que eu já falei tinha mais de mil pessoas. Dá um friozinho na bariga? Até dá. Mas dá certa tranquilidade, quando você olha para aquela câmera que está olhando pra você e pensa: “tem uma pessoa que está de olho em mim, porque ela confia na Band naquele momento e, se eu estou lá, é porque a Band confia em mim”. A reverência, o respeito a quem está do outro lado te dá uma… Não digo uma aliviada, porque não é isso, mas te dá serenidade. Dá segurança também se você sabe do que você está falando: você não está lendo palavras, ainda que você esteja lendo palavras, mas você sabe do que está falando. Se cair o TP, você sabe o que está fazendo ali. Agora, se você não domina o conteúdo, complica.

CB – Perfeito. E você tem humildade, sabe ouvir. Isso é muito importante fora da tela, por trás da tela, como diz a minha coluna.

EO – Tem que ser! O Roberto Civita citava sempre uma frase do Henry Luce, o criador da Time, que era: “even editors need editors”, ou seja, “até os editores precisam de editores”. Não existe alguém que tem o poder extraordinário que conseguiu construir um texto à prova de críticas. A experiência diminui a sua taxa de erro, mas não elimina. A minha postura profissional lá dentro abre espaço para críticas. Senão, alguém poderia ficar com um texto ruim, sem falar nada, por receio de me abordar e eventualmente fazer algum comentário porque tenho quase 60 anos e a pessoa tem menos de 30, por exemplo.

CB – É um ambiente de trabalho saudável, né?

EO – O ambiente é muito bom! Há espaço para as pessoas deixarem a sua marca. Os repórteres, editores, pauteiros e apresentadores do jornal da Band e a equipe da Bandnews FM  deixam sua marca e isso eu acho muito legal. Temos muita liberdade e, claro, espírito crítico. A inação é a pior coisa e no Jornal da Band e na BandNews FM a gente foge da inação. Tenho muito orgulho daquele horário do meio dia às 14h, muito! A Débora Alfano é uma colega extraordinária; o Fábio França, um tremendo cara. E tem os colunistas. A Juliana Rosa, por exemplo, chegou há um ano, mas parece que está há 10. E em um momento muito delicado do jornalismo, porque tudo está muito extremado, as pessoas estão enlouquecidas. Do grupo de WhatsApp da família aos canais, está todo mundo tenso. O Brasil não ficou um país ruim, nós temos nossos desafios políticos, sociais, mas o Brasil é um país muito legal. Não vamos ser tão otimistas e dizer que está tudo bem, mas também não vamos fazer o outro extremo. Acho que esse equilíbrio a gente consegue – ou eu que estou muito esperançoso.

CB – Oinegue, o nome da minha coluna é Por Trás da Tela justamente para as pessoas que acompanham os meus entrevistados possam saber um pouquinho da vida delas. Quando você não está no rádio ou na televisão, quando você está por trás da tela, o que você gosta de fazer?

EO – Gosto muito de ler e conversar. Sair para jantar, bater papo, descobrir novas pessoas. Vou te contar uma história curiosa: tive um chefe, que foi meu pai profissional durante muito tempo, o Tales Alvarenga, já falecido. Eu era recém-chegado na Veja, onde trabalhava Elio Gaspari, José Roberto Guzzo, figuras importantes mesmo. Na hora do almoço, saía um bando de repórter para comer. Eu estava lá há umas três semanas e, um dia, o Tales Alvarenga me chamou e disse: “você sai para almoçar todos os dias com os seus colegas jornalistas. Nesse almoço, vocês falam mal de mim e dos outros, falam de futebol, mas vocês não aprendem nada. A Veja paga para você ligar para quem você quiser e convidar para almoçar. É só trazer a nota fiscal. Convida um empresário, um médico, um banqueiro, um político, quem você quiser – alguém que preste, de formação, que tenha alguma coisa para contar”. Achei interessante e isso virou uma obsessão. Eu fazia as listas com os 20 empresários que queria conhecer. Os 20 médicos. Os 20 advogados. E começava a ligar para as pessoas, com o direito de ouvir “não”. Por que eles estariam interessados em conhecer um repórter sem objetivo? Eu não estava fazendo matéria. Alguns até achavam estranho e perguntavam: “se você não está fazendo pauta, por que quer falar comigo?”. E eu passei a ter três, quatro almoços por semana. Tinha época que eu tinha jantares também. Estava lendo o jornal e marcava os caras que saíram na matéria e eu queria conhecer. Fazia listas com 30, 40 nomes. Eu mantive isso, não na frequência de antes, mas eu gosto muito. Leitura é uma coisa que também me agrada, às vezes livros de história, relatórios, matérias. Por exemplo, agora que estamos em época de eleição, gosto de ler como eram as eleições na época da república velha, quantos por cento de taxa de renovação você teve nos vários países etc. Fico lendo e sei que um dia vou usar, vai ser útil. Gosto de jogar tênis, mas machuquei meu joelho esquerdo e tive que fazer quatro cirurgias. No final da primeira cirurgia, peguei uma infecção e foi um horror, então não estou podendo jogar, mas faço academia, pilates e estou doido para voltar para as quadras. Se tiver que falar uma paixão, é tênis.

CB – Oinegue, um passarinho me contou que você é um excelente cantor…

EO – Adoro karaokê. Adoro cantar. E sou tão descarado cantando, tão sem vergonha que se eu chego no karaokê, não preciso beber, eu tomo água e canto.

CB – O que você gosta de cantar?

EO – Frank Sinatra e Elvis Presley são as minhas músicas de trabalho (risos).

CB – Poxa, eu preciso ouvir!

EO – Vamos marcar um karaokê. Eu costumo dizer: “vou abrir com a minha música de trabalho” e às vezes digo: “esses são o sucesso do meu primeiro LP” (risos). Quando eu fui no programa do Faustão e fui homenageado lá sem saber de nada antes, colocaram os meus filhos para falar a meu respeito. Depois colocaram uma amiga querida, a Sandra, falando: “ele não pode sair daí sem cantar”. Ali, confesso, fiquei com um pouco de vergonha, mas pouca – não a quantidade que achei que fosse ter sabendo que eu estava ao lado do Faustão, bicho.  A Luciana Mello estava lá, puxou uma música e cantamos juntos um trechinho. Foi muito divertido. Infelizmente, com a pandemia, não tinha karaokê. Eu tenho um aplicativo no meu celular de karaokê, mas não tem a menor graça. A graça é…

CB – … estar com o povo!

EO – Sim, é isso que eu curto! Eu adoraria ter sido cantor – não cantor de banda, eu queria ser cantor de ópera ou cantor de musical. Ia ficar louco! Adoro!

CB – Quer dizer que o jornalismo quase ficou com um desfalque?

EO – Hoje considero impensável trabalhar em outra coisa que não envolva comunicação. É uma área interessante, e que exige muita responsabilidade. Ainda mais no momento atual, em que se discute tanto a verdade, a mentira e fake news. Você não tem como ignorar que, algo feito dentro do jornalismo pelos critérios profissionais de jornalismo são mais confiáveis do que aqueles que tentam fingir que estão produzindo conteúdo jornalisticamente, mas no fundo estão difundindo ideologias para um lado ou para o outro. Estão tentando, ao invés de oferecer para as pessoas um olhar sobre o que de fato está acontecendo, estão produzindo um estrago. E sempre digo uma coisa: se você escrever um boato, ele pode ser verdadeiro. Ele pode não ser verdadeiro, mas ele pode ser verdadeiro, é bom checar. O rumor é um cheiro de notícia, ainda que não checado. Você publicar sem checar é irresponsável, mas pode ser verdade. Não recomendo, nem faço. Agora a fake news não é nem erro nem boato, a fake news é “como é que eu faço para destruir alguém”. O boato pode destruir, mas chegou informação para você e você empacotou sem checar. O erro, você apurou alguma coisa, se equivocou, mas a fake news é uma mentira fabricada. Então, o jornalismo profissional é anti-fake news. E isso, neste momento da nossa vida, é fundamental.

CB – Perfeito. Oinegue, que bom conversar com você, cara. Obrigado!

EO – Eu que agradeço.

CB – Você sabe, estou te ouvindo e a sensação que eu tenho é que eu estou na Rádio Bandeirantes, só que eu sou o privilegiado de acompanhá-lo sozinho. E a partir de agora o meu público, as pessoas que me seguem…

EO – Que legal!

Até a próxima!

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