Ao anunciar que Olho por Olho, de João Emanuel Carneiro, será produzida para o Globoplay, e Travessia, de Gloria Perez, “furará” a fila e substituirá Pantanal no horário nobre, a Globo afirmou que a estratégia tem a ver com a valorização do Globoplay. Com a novidade, o canal mostra disposição em continuar investindo em novelas no streaming, e o bom retorno de Verdades Secretas 2 mostra que isso é um caminho possível.
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No entanto, a colunista Carla Bittencourt, do Notícias da TV, trouxe outra informação sobre a decisão. Segundo ela, a nova direção de teledramaturgia da Globo, encabeçada por Ricardo Waddington e José Luiz Villamarim, avaliou que Olho por Olho não tinha apelo popular para segurar o (possível) sucesso de Pantanal. Assim, o mais lógico seria recorrer a Gloria Perez e Walcyr Carrasco, novelistas de pegada mais “popular”.
Se este foi o principal motivo para a troca, não dá para saber. Mas fica claro que a mudança expõe a visão da nova direção de dramaturgia da emissora, o que deve ditar os rumos e as escolhas das próximas novelas. Ao que tudo indica, esta nova diretoria deve valorizar folhetins mais “raiz”, que não “assustem” o espectador tradicional de telenovelas.
A gestão de Silvio de Abreu foi muito criticada, mas é fato que o novelista prezou pela constante renovação de temáticas e estilos no horário nobre. Entre 2015 e 2019, anos em que Silvio esteve à frente da teledramaturgia do canal, a Globo apostou em novelões, como O Outro Lado do Paraíso, A Força do Querer e A Dona do Pedaço; thrillers, como A Regra do Jogo; dramalhões, como A Lei do Amor; e até mesmo realismo fantástico, com a malfadada O Sétimo Guardião.
Ao mesmo tempo, a faixa das nove se abriu para experimentações, algo não muito comum no horário. As duas últimas novelas inéditas da faixa, Amor de Mãe e Um Lugar ao Sol, deixam isso bem claro. Além de lançar duas novas autoras no horário, Manuela Dias e Lícia Manzo, as duas produções também se destacaram pelo verniz que buscava um teor mais realista, quase documental, em meio ao novelão. Trata-se de uma proposta que agrada entusiastas de novidades, mas que não atinge um público mais tradicional.
Já a nova gestão, parece, está mais disposta a apostar em tramas a prova de erros. Tanto que a primeira aposta desta nova era é Pantanal, remake de uma novela que fez um sucesso estrondoso no passado. Ou seja, é uma trama cujo apelo já foi testado e aprovado. Além disso, desperta a atenção do saudosista e a curiosidade do público mais jovem. A possibilidade de dar errado sempre existe, claro, mas trata-se de uma hipótese remota.
Em seguida, virão Gloria Perez e Walcyr Carrasco, dois “medalhões” acostumados a assinar sucessos estrondosos no horário. A dupla é responsável pelas maiores audiências do horário das nove dos últimos anos. A Força do Querer e A Dona do Pedaço alcançaram excelentes resultados.
Se a “trinca” formada por Pantanal, Travessia e a novela de Carrasco funcionar, é bem possível que o horário das nove continue caminhando por caminhos mais certeiros e tradicionais. Enquanto isso, a experimentação ficará restrita às novelas do Globoplay. Aí é o resultado de Olho por Olho que vai dizer.
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