“Eu escolho a Ana Francisca“, respondeu Darlene, uma criança de 10 anos que foi criada como escrava por Jezebel (Elizabeth Savalla). A emocionante cena ocorreu quando a vilã foi desmascarada e expulsa de casa por Ana Francisca (Mariana Ximenes).
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Jezebel quis a todo custo que Darlene fosse embora com ela, afinal, quem iria preparar seu chá? “Darlene, o que você está fazendo que não está carregando as malas? Você é muito molenga, Vamos!?”, rechaça a megera antes de Ana Francisca encorajar Darlene a escolher com quem quer ficar.
“Ela tem adoração por mim. Meu torrãozinho de açúcar“, alega Jezebel. Mas aos prantos, Darlene se nega a ir com a vilã e dá um abraço em Aninha, posicionando-se sobre seus direitos. A cena é de impacto, mas não foi o suficiente para despertar a reflexão sobre racismo e escravidão infantil em 2003, quando Chocolate com Pimenta foi leva ao ar pela primeira vez.
O autor Walcyr Carrasco, com histórico de abordagens de apelo social e prestação de serviço em suas histórias, fez de tudo para que a trama de Darlene abrisse espaço para a discussão do tema, mas naquele ano o mundo era completamente outro. Passou batido por público e imprensa.
Artistas negros até pouco tempo atrás eram estigmatizados na TV e quase nunca agraciados com destaque e protagonismo. Agora, com a reprise da novela alcançando êxito de audiência no Canal Viva, chama a atenção o alerta que o famoso escritor fez.
Para se ter uma ideia, de 1º de janeiro a 18 de junho deste ano, 26 denúncias de violação de crianças e adolescentes envolvendo trabalho infantil foram registradas no Ministério Público do Trabalho (MPT) do Ceará, publicou o Diário do Nordeste mês passado.
O número representa um aumento de 62,5% em relação ao 1º semestre de 2019, quando foram registradas 16 denúncias. Chocolate com Pimenta se passa no século 20, mais de 30 anos após a Abolição da Escravatura. Todavia, um século depois disso, agora em 2020, ainda é preciso falar, reforçar e discutir sobre racismo e escravidão infantil.
Ainda no Diário do Nordeste, especialistas apontaram para este aumento do trabalho infantil em 2020, que acabou impulsionado pelo isolamento social por conta da pandemia de covid-19. Nos seis meses iniciais deste ano, já foram 26 denúncias. Fica o alerta, se souber de algum caso, denuncie: 0800 644 3444.