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O #TBTDaTV relembra a novela Escalada, última das 20h em preto e branco na Globo, que completa 45 anos

Em 1975, novela contou 30 anos da vida de um homem e do País

Publicado em 09/01/2020

Em 6 de janeiro de 1975, a TV Globo lançou aquela que seria a última novela em preto e branco do seu horário das 20h. Escrita por Lauro César Muniz, Escalada contou em 199 capítulos a história de Antônio Dias (Tarcísio Meira), dos anos 1940 aos anos 1970, na atualidade da exibição. Hoje parece comum, justamente porque foi bastante replicado no decorrer do tempo, mas à época era uma proposta pouco usual. O #TBTDaTV relembra a novela, que teve três fases distintas, que equivaliam praticamente a novas novelas, com trocas de elenco e ambientação.

Lauro César Muniz na Globo antes da novela Escalada

O autor de novelas Lauro César Muniz (Luisa Romano / UOL)
O autor de novelas Lauro César Muniz (Luisa Romano / UOL)

Lauro César Muniz trabalhou nas TVs Excelsior, Tupi e Record antes de ingressar na Globo, em 1972. Seu primeiro trabalho foi a novela O Bofe, que assumiu em substituição ao criador da história, Bráulio Pedroso, na ocasião acometido de hepatite. Logo após a novela, o escritor integrou a equipe de roteiristas do seriado infantojuvenil Shazan, Xerife & Cia. e assinou sua primeira novela na casa do começo ao fim: Carinhoso (1973/74), escrita especialmente para Regina Duarte protagonizar.

A atriz viveu Cecília, uma aeromoça que regressa ao Brasil após anos de ausência, disposta a conquistar o amor de adolescência, Eduardo (Marcos Paulo). Só que ele é noivo da obsessiva Marisa (Débora Duarte). Ademais, Cecília acaba se apaixonando pelo irmão mais velho de Eduardo, Humberto (Cláudio Marzo). O argumento foi inspirado no filme Sabrina (1954), dirigido por Billy Wilder, com Audrey Hepburn, William Holden e Humphrey Bogart nos papéis correspondentes a Cecília (Sabrina), Eduardo (David) e Humberto (Linus). O grande sucesso de Carinhoso, que foi ao ar às 19h, credenciou Lauro a uma posição difícil: alternar-se com Janete Clair no horário das 20h. Foi justamente com Escalada que sua estreia no horário ocorreu. No entanto, antes ele escreveu com Gilberto Braga outra novela das 19h, Corrida do Ouro (1974/75).

A história da novela Escalada

Logotipo de Escalada
Logotipo da novela Escalada, de Lauro César Muniz

A primeira fase se passa na década de 1940. Antônio Dias é um caixeiro-viajante que chega à cidade de Rio Pardo, no interior paulista, no rastro de seu suposto amigo Miguel (Lutero Luiz). “Suposto” porque Miguel rouba uma grande quantia de Antônio justamente para rumar para Rio Pardo e aplicar um grande golpe na sociedade local, que o tem na conta de Professor Miguel, figura respeitável e de confiança da Diocese. Antônio decide ficar na cidade, onde se divide amorosamente entre duas mulheres: a rica Marina (Renée de Vielmond), herdeira da família Alcântara Magalhães, e Cândida (Susana Vieira), de uma família menos rica, os Freitas Ribeiro.

Antônio entra para os negócios que envolvem a cultura do algodão, forte na região, e por ser “forasteiro” ganha a antipatia de Armando (Milton Moraes), irmão de Marina. O outro irmão da moça, Felipe (Ney Latorraca), não apenas gosta de Antônio como também se torna seu sócio. Marina acaba se casando com Paschoal (Cecil Thiré), ao passo que Antônio se une a Cândida. O insucesso nos negócios o leva a deixar Rio Pardo e tentar a vida noutro lugar. Após 89 capítulos, a novela Escalada iniciou uma nova fase, com uma passagem de tempo.

Na segunda fase, a construção de Brasília e a discussão sobre o divórcio

A segunda fase de Escalada se passa na segunda metade da década de 1950. Antônio prossegue casado com Cândida e os dois criam o filho Ricardo (Júlio César), embora o casamento não esteja lá grandes coisas. A vida de Antônio tem uma guinada quando ele conhece Valério Facchini (Sérgio Britto), homem rico de negócios ligados ao ramo de construção. O primeiro contato dos dois não é nada amistoso, já que Antônio invade a sala de Facchini após um belo chá de cadeira. Mas seu temperamento corajoso e obstinado fazem com que Facchini enxergue nele a figura ideal para liderar candangos na construção de Brasília, grandiosa obra na qual sua empresa está inserida. O casamento infeliz também abre espaço para a figura de Roberta (Sandra Bréa), filha de Facchini, que se encanta por Antônio.

O casamento de Marina e Paschoal, após uma longa temporada nos Estados Unidos e o regresso ao Brasil, também vai de mal a pior. E é justamente nesse ponto de suas vidas que Marina e Antônio se reencontram e a antiga chama demonstra jamais ter se apagado. Ele se desquita de Cândida para viver enfim seu grande amor. A trama de Cândida e Antônio teve bastante força e contribuiu para a discussão do tema do divórcio, que não existia ainda em nosso ordenamento jurídico. Posteriormente, o Congresso Nacional aprovou a lei que rege o assunto, em 1977. Com efeito, a novela Escalada contribuiu para isso.

Perto do final, a velhice plena em total contraste com a juventude de tantas lutas

O capítulo 184 marcou a chegada da terceira e última fase, passada na década de 1960. Estabilizado na vida e finalmente ao lado da mulher que sempre amou, Antônio tem ainda um objetivo a concretizar: suplantar o inimigo de sempre, Armando, agora “cunhado”. Não há maiores dificuldades a essa altura, já que Armando ficou cada vez mais combalido pelas sucessivas mudanças da economia, que não o favoreceram. E suas fazendas vão parar nas mãos do antigo caixeiro-viajante forasteiro.

Na Record TV, uma nova versão nos anos 2000

Em 2005, Lauro César Muniz voltou à Record depois de mais de 30 anos de ausência. Seu primeiro projeto foi uma nova versão de Escalada, com elementos de O Casarão (1976), também sua. Cidadão Brasileiro (2006) foi protagonizada por Antônio Maciel (Gabriel Braga Nunes), cuja vida foi contada da década de 1950 até os anos 2000, atualidade da exibição. O protagonista aqui se dividiu entre Carolina (Carla Cabral), com quem se casou, e Luiza (Paloma Duarte), a quem sempre amou. Fausta (Lucélia Santos) foi a personagem equivalente a Miguel/Tadeu. Ademais, na produção da Record o autor pôde explorar diversos elementos que a Censura barrou ou barraria nos anos 1970, na versão da Globo. Só para ilustrar, personagens como hippies e guerrilheiros políticos em meio à repressão da ditadura militar se encaixam aí.

Assista no vídeo abaixo ao último capítulo da novela Escalada:

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