Celebração

Zezé Motta chega aos 80 longe do teatro, mas sagrada como uma das grandes atrizes do Brasil

Há quase 20 anos sem fazer um espetáculo, artista segue presente no audiovisual, na música e na militância

Publicado em 27/06/2024

Atriz e cantora que ganhou as redes também como figura militante em prol dos direitos das mulheres, de pessoas negras e de mulheres 60+, Zezé Motta celebra 80 anos de vida nesta quinta-feira, 27, sagrada como um dos principais nomes da cultura das artes no Brasil.

Celebrada pela publicidade e com agenda de shows agitada, Motta chega aos 80 anos, contudo, distante do teatro, onde deu os primeiros passos da carreira artística ainda na década de 1960.

Foi no elenco do musical Roda Viva, de Chico Buarque de Hollanda, que a atriz estreou como parte do coro, mas ganhando a atenção de sua colega de elenco, Marília Pêra (1943-2015), que a levaria para o elenco de outros dois espetáculos sob sua produção, A Moreninha (1968) e A Vida Escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato (1969), todos musicais.

Grande artista, Zezé nunca foi a atriz que canta ou a cantora que atua, mas sim uma atriz e cantora que sempre permeou pelas duas linguagens, a ponto de, em 1976 estourar para o Brasil e parte da Europa como a personagem principal do filme Xica da Silva, dirigido por Cacá Diegues, e, dois anos depois, se lançar com sucesso no mercado fonográfico com a edição de seu primeiro álbum solo, Zezé Motta (1978).

Neste trabalho, Motta entrava em cena com repertório colhido de nomes como Luiz Melodia (1951-2017), de quem gravou Magrelinha e a inédita Dores de Amores, Caetano Veloso (Pecado Original), Gilberto Gil (Babá Alapalá), Rita Lee (1947-2023) e Roberto de Carvalho (Muito Prazer, Zezé) e Chico Buarque e Francis Hime (Trocando em Miúdos), entre outros.

Entretanto, ainda que tenha se tornado nome essencial do cinema brasileiro, figura carimbada nas telenovelas e com discografia incontornável para estudiosos do período que compreende o fim da década de 1970, Zezé Motta sempre foi figura de forte presença teatral, tendo trabalhado com nomes como Augusto Boal (1931-2009) na icônica montagem de Arena Canta Zumbi (1969), com canções de Edu Lobo, e Arena Conta Bolívar, no mesmo ano.

O fato é que Zezé é nome também incontornável dentro do teatro musical brasileiro, tendo composto o elenco de espetáculos como a primeira montagem brasileira de Godpsell, em 1974, Orfeu Negro, com canções de Antônio Carlos Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980) no ano anterior e O Abre Alas (1999), musical estrelado por Rosamaria Murtinho sobre a vida da compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935).

O musical marcou a primeira parceria de Motta com a dupla de diretores Charles Möeller e Claudio Botelho, responsáveis também pelo último trabalho da atriz nos palcos, o soturno 7 – O Musical, com texto assinado por Möeller e canções divididas entre Botelho e Ed Motta. O espetáculo, uma adaptação de contos dos irmãos Grimm, contou com elenco de peso formado por nomes como Rogéria (1943-2017), Eliana Pittman, Alessandra Maestrini, Alessandra Verney, Gottsha, Marya Bravo e Ida Gomes (1923-2009), entre outros.

A montagem, que estreou em 2007, permaneceu em cena até 2009 e marcou também a última passagem de Motta pelos palcos em uma obra teatral – a artista ainda é figura tarimbada em cena com shows em que celebra sua trajetória e os repertórios de nomes com Jards Macalé, Luiz Melodia, Elizeth Cardoso (1920-1990), Caetano Veloso, entre outros.

Há pelo menos 15 anos, Zezé Motta não é mais vista na pele de uma personagem nos palcos, ainda que siga lembrada como uma das principais atrizes do Brasil, com carreira fonográfica reanimada – ainda que espaçada – e com presença frequente nas redes sociais fazendo se ouvir a voz de uma artista que sempre lutou contra o racismo e todos os outros preconceitos que passaram por seu caminho desde que nasceu Maria José Motta de Oliveira em 27 de julho de 1944 em Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.