Chico Buarque 80 Anos – Compositor que sempre teve veia dramática talhada para o teatro, Chico Buarque de Hollanda compôs canções que se tornaram clássicos do cancioneiro popular especialmente para peças, filmes, balés, musicais e séries.
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Entretanto, mesmo sem ter o intuito de levar as canções para a cena, o músico sempre deixou transparecer veia dramatúrgica em obra monumental que já soma 60 se contada sua primeira composição, Tem Mais Samba, idealizada para o musical Balanço de Orfeu, de Luiz Vergueiro (1920-1998) em 1964.
Romancista e dramaturgo de possibilidades ricas, Buarque teve sua obra levada para o teatro mesmo à sua revelia. Canções que nem sempre foram pensadas para personagens específicos ganharam a cena em musicais e peças que usavam de suas letras para delinear uma dramaturgia.
Confira abaixo uma seleção de seis espetáculos recentes que prestaram homenagens à obra monumental de Chico Buarque de Hollanda.
★ Na Bagunça do Teu Coração (1998)
Primeira incursão da dupla de diretores Charles Möeller e Claudio Botelho pela obra de Chico Buarque de Hollanda, Na Bagunça do Teu Coração é obra escrita por João Máximo e Luiz Fernando Vianna sob a direção de Paulo Afonso de Lima (1945-2017) e direção geral de Bibi Ferreira (1922-2019). A obra é dividida em momentos da vida de um casal, desde o encontro, o enlace, a separação, a conquista e a reconquista. Foram usadas canções que já haviam sido compostas para o teatro pelo compositor com algumas exceções, como Olhos nos Olhos, Todo o Sentimento e Eu te Amo, a bela parceria com Antonio Carlos Jobim (1927-1994) de 1980. O espetáculo foi gravado em CD e apresentou o primeiro registro de duas canções então inéditas em disco, Canção de Pedroca e Canto Fundo de Frederico.
★ Ópera do Malandro em Concerto (2006)
Outra incursão da dupla Möeller e Botelho pelo repertório de Buarque, Ópera do Malandro em Concerto é o desdobramento da versão dos diretores para a Ópera do Malandro, montada em 2003. Nesta nova montagem, estrelada por Alexandre Schumacher, Alessandra Maestrini, Soraya Ravenle, Lucinha Lins, Cláudio Tovar, Mauro Mendonça e Cláudio Lins, entre outros, foram mantidas algumas das canções originais da obra e adicionadas outras, compostas para a versão cinematográfica dirigida por Ruy Guerra em 1985. Na versão em concerto, estavam todas as canções, entre elas Sentimental, Aquela Mulher, O Último Blues, Rio 42 e Se eu Fosse teu Patrão, ausentes na montagem anterior, somando, ao todo, 25 canções.
★ O Grande Circo Místico – O Musical (2014)
Espetáculo com texto original de Newton Moreno e Alessandro Toller sob a direção de João Fonseca, O Grande Circo Místico – O Musical partiu do poema original de Jorge de Lima (1893-1953) e das canções compostas por Chico Buarque em parceria com Edu Lobo para trilha do balé do grupo do Teatro Guaíra em 1982 para narrar a história de uma trupe de circo itinerante que buscava sobreviver em meio a uma guerra. Inédita, a adaptação encorpou canções de outros trabalhos da dupla de compositores, como Salmo, produzido para o musical O Corsário do Rei, de Augusto Boal (1931-2009), e Valsa Brasileira, feito para A Dança da Meia-Lua do grupo Pau Brasil. No elenco, nomes como Fernando Eiras, Letícia Colin, Reiner Tenente e Ana Bird recontaram a história a partir de números como Beatriz, A História de Lily Braun, A Bela e a Fera e Valsa dos Clowns, entre outros.
★ Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos (2014)
Última incursão da dupla Möeller e Botelho pela obra de Chico Buarque após terem encenado Na Bagunça do Teu Coração (1998), Suburbano Coração (2002), Ópera do Malandro (2003), Ópera do Malandro em Concerto (2006) e Os Saltimbancos Trapalhões (2014), Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos partia de uma história esboçada pelo próprio compositor em Velho Francisco, canção que fez parte de seu álbum Francisco, de 1987. Concebida pelos diretores e estrelada por Claudio Botelho, Soraya Ravenle, Malu Rodrigues, Lílian Valeska, Felipe Tavolaro, entre outros, o espetáculo narrava, através das canções compostas por Buarque para peças, musicais, filmes e séries, a história das memórias do antigo dono de uma companhia de teatro itinerante, suas apresentações e todos os dramas que aconteciam nos bastidores. O musical marcou também o rompimento da dupla com o compositor após desavenças políticas.
★ Leite Derramado (2016)
Fora da seara musical, Leite Derramado lembrava outra faceta do compositor, a de romancista. Baseado no livro homônimo lançado em 2009 e vencedor do Prêmio Jabuti, o espetáculo dirigido por Roberto Alvim e estrelado por Juliana Galdino sob a produção da Cia Noir teve como foco o plano de fundo político do romance sobre um idoso quase centenário que viu a história de sua família se deteriorar à medida que surgiram os avanços sociais do Brasil. Avalizada pelo próprio autor, Leite Derramado foi o último grande trabalho de expressão da companhia de Alvim e Galdino antes de aderirem ao governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2019.
★ Gota D’Água [A Seco] (2016)
Considerada uma das principais obras da dramaturgia nacional, Gota D’Água chegou a ganhar outras montagens ao longo dos anos, mas a concebida pelo diretor e dramaturgo Rafael Gomes e pela produtora Andréa Alves, da Sarau Agência, buscou o ápice do minimalismo ao contar a história da Medeia tropical localizada em um conjunto habitacional carioca com apenas dois atores. Laila Garin e Alejandro Claveaux encenaram a obra que contava com outras canções além daquelas presentes na montagem original, entre elas Cálice e Baioque, esta última parte da trilha do filme Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues.