ENTENDA

Maldivas repete truque banal de investigação que manchou Máquina Mortífera

Ambas as tramas usaram o mesmo recurso bem preguiçoso para solucionar casos

Publicado em 21/06/2022

A série brasileira Maldivas repetiu um truque banal de investigação que manchou o drama americano Máquina Mortífera (2016-2019). A situação é a seguinte: uma morte é tratada como suicídio até que detetives, após terem “lampejos de Sherlock Holmes”, passam a enxergar o caso como assassinato porque a vítima era canhota, e o disparo de arma teria ocorrido com a mão direita dela.

Logo no primeiro episódio, Máquina Mortífera (Globoplay, HBO Max) apresentou uma investigação cujo ponto de virada foi justamente esse estalo de “genialidade” dos policiais. Maldivas fez uso desse mesmo recurso no sexto episódio da temporada de estreia, mudando assim o curso da trama principal.

[Atenção: spoilers de Maldivas a seguir]
Maldivas tem como espinha dorsal a apuração do desaparecimento de Patrícia Duque (Vanessa Gerbelli), primeiramente tratada como morta após um incêndio ocorrer no apartamento dela, dentro do condomínio que dá nome à série.

Os detetives do caso, Denilson (Enzo Romani) e Habacuque (Marcelo Varzea), discutem a continuidade das investigações após ficarem em uma sinuca de bico; Denilson é a favor de seguir em frente, Habacuque clama pela desistência. O cenário ganha novas cores com uma revelação de Sandro (Caio Scot), o especialista forense da delegacia.

Foto do caso tratado como suicídio na série Maldivas
Foto do caso tratado como suicídio na série Maldivas

Ao fazer um exame de balística, ele comparou o caso atual com um do passado, no qual Antonela Vargas, mãe de Verônica (Natalia Klein), teve a morte decretada como suicídio. Sandro tinha apontado, na época, uma inconsistência: “A lesão [em Antonela] foi na têmpora direita [parte lateral da cabeça], relembrou. Ela era canhota. Uma pessoa que toma a decisão de se matar não vai arriscar atirar com a mão errada.”

A revelação “genial” reabriu o caso, pois a arma daquele crime estaria com Verônica, a colocando como principal suspeita do desaparecimento de Patrícia. Verônica teria envolvimento na morte da mãe e na “morte” da ex-síndica do Maldivas.

Máquina Mortífera “ridícula”

Com o peso de adaptar para a TV uma das franquias de ação mais consagradas do cinema, Máquina Mortífera foi bombardeada de críticas logo no primeiro episódio. O ataque teve como alvo o enredo totalmente batido, com investigações policiais toscas até. 

A revista The Hollywood Reporter chamou a atração de “ridícula e previsível”, enquanto a Variety foi dura: Máquina Mortífera regurgita fórmulas baratas de todo tipo de séries policiais.”

No caso, os detetives Roger Murtaugh (Damon Wayans) e Martin Riggs (Clayne Crawford), trabalhavam em uma investigação apresentada assim por Bernard Scorsese (Johnathan Fernandez), o especialista forense da trama: “Este é Ramon Alvarez. Buraco de bala na têmpora direita. Parece suicídio”. Havia resíduos na mão direita do homem morto.

Roger e Martin conversaram com a mulher de Ramon para saber mais sobre a vítima. Lá, foi Roger que teve o insight revelador. Ele viu uma luva de beisebol de Ramon, notando que ele era canhoto (no beisebol, o canhoto usa a luva na mão direita para arremessar a bola com a esquerda).

Damon Wayans no primeiro episódio de Máquina Mortífera
Damon Wayans no primeiro episódio de Máquina Mortífera

Por que Alvarez usou a mão direita dele, se ele era canhoto?, perguntou ao parceiro. Caso resolvido, olha só que brilhante.

Máquina Mortífera usou e abusou dessas soluções simplórias. Fato é que o público não achou tão ruim talvez até por isso, sem a necessidade de se prestar tanta atenção na narrativa. A série foi um sucesso, inclusive no Brasil, registrando bons índices de audiência na Globo. 

Registra-se que o drama policial iria além das únicas três temporadas caso não houvesse problemas sérios nos bastidores causados pelo ator Clayne Crawford. ⬩

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