
Cine Holliúdy estreia na noite desta terça-feira (07), na Globo, trazendo um divertido embate entre o cinema e a TV na fictícia cidade cearense de Pitombas. Inspirada no longa-metragem homônimo escrito e dirigido por Halder Gomes, a série resgata o humor regional na TV brasileira.
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Para a adaptação da produção, a direção artística foi assumida por Patrícia Pedrosa, que tem uma trajetória de sucesso na televisão. Entre as obras que ela já dirigiu estão: Mister Brau, A Fórmula, Chapa Quente, A Grande Família e Shippados – série da Globo exclusiva para o Globoplay, ainda sem data de estreia.
Em entrevista cedida à emissora, Patrícia contou como recebeu o convite para participar da série Cine Holliúdy e também como foi a preparação do elenco. A história tem como personagem principal Francisgleydisson (Edmilson Filho), que luta para manter a sétima arte viva em Pitombas após a inesperada chegada da TV na região – patronizada pelo trambiqueiro prefeito Olegário (Matheus Nachtergaele).
Para a diretora artística, sua maior preocupação foi encontrar uma afinação entre os atores, que tinham suas experiências individuais com o teatro, cinema e TV. “O Edmilson já dominava o personagem, já que está com ele desde 2004, mas foi extremamente disponível, se entregou totalmente para essa preparação”, afirmou Patrícia, elogiando o trabalho do interprete de Francis.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Como esse projeto chegou a você?
“Quando o Guel Arraes me convidou para fazer a direção artística, eu ainda não tinha assistido ao filme, mas sabia de todo o sucesso que tinha feito quando lançado. Como a série é inspirada no longa, a gente pega aquela atmosfera e cria novos personagens e uma nova dramaturgia. Apesar de termos a mesma ambientação e o Francisgleydisson, estamos inseridos em outro contexto. O amor ao cinema continua presente, mas agora a “briga” do cinema com a televisão está mais forte. E damos mais espaço para a produção de filmes do Francis”.
O que mais lhe chamou a atenção no roteiro?
“Os personagens são muito carismáticos, todos, sem exceção. Ao mesmo tempo em que você torce pelo Francis, que está lutando para manter o cinema de uma forma honesta e criativa, você também torce pelo vilão. O Olegário é extremamente carismático, mesmo sendo um político corrupto, que dá volta nos outros, que está sempre tentando se aproveitar de alguma situação. Ter os gêneros do cinema também é bacana, temos ficção científica, terror, suspense, filme de luta”.
Como foi a preparação de elenco?
“Minha maior preocupação era com a afinação do elenco. Temos atores que vêm do Ceará, com uma baita experiência no teatro e no cinema, mas que nunca fizeram televisão. Por outro lado, temos grandes atores que fazem televisão há muito tempo. Precisávamos trabalhar também a composição dos personagens. Além disso, grande parte do elenco não tinha experiência em fazer cenas com bastante marca de ação, com o balé da comédia. Então, trabalhamos muito com isso. Você pode notar, nas cenas, que eles não param para falar, estão sempre em movimento. Eu acredito nesse tipo de trabalho. A preparação aconteceu durante três semanas, sendo que a última foi feita já nas locações, em Areias. Para mim, os atores têm que estar muito seguros com os personagens, com o texto, para poderem embarcar nas marcas que a direção passa na hora da cena”.
O protagonista, Edmilson Filho, é um rosto superconhecido no Ceará, fez muito sucesso com o filme no cinema e, agora, está na série. Como foi a experiência com ele?
“O Edmilson é aquele cara por quem você já se apaixona logo de cara. Ele vem com uma verdade, com uma coisa regional tão forte, tão espontânea, tão genuína, que leva o nosso elenco para um lugar muito interessante. O Edmilson já dominava o personagem, já que está com ele desde 2004, mas foi extremamente disponível, se entregou totalmente para essa preparação”.
Quais são as diferenças do Francis em relação ao filme?
“A gente tentou preservar ao máximo o Francis. Ele é uma joia. A maior diferença é que, na série, ele não é casado e não tem filho”.
E como é a personagem da Letícia Colin?
“Ela é nossa mocinha. Como a Marylin e a Socorro são as personagens “importadas”, a gente podia ter atrizes mais conhecidas do público justamente para dar esse balanço legal com o elenco. Ela é muito boa atriz e fez a Marylin com muita graça. O curioso é que a TV veio parar em Pitombas por conta dela, mas ela é a grande defensora do cinema e se junta ao Francis para lutar por isso. Então, tem a resistência do velho diante do novo, uma disputa muito interessante do cinema com a TV”.
O que dizer sobre Maria do Socorro e Olegário?
“A gente quis fugir um pouco desse prefeito tradicional de cidade do interior do Nordeste, para trazer uma coisa nova, desde o figurino até a interpretação. Este é um prefeito mais despojado, mais “playboy” do sertão, um cara mais à frente do tempo dele, mas que tem também uma coisa muito selvagem. Você vê isso em todas as cenas. A maneira como ele se relaciona com as pessoas da cidade se reflete no figurino, não só na interpretação. Se está falando com o povo, ele se veste de um jeito. Quando está com a mulher dele, ele fala e se veste de outro. A gente foi construindo esse conjunto de pequenas personalidades e nuances dentro de um ator só e esse personagem só podia ser do Matheus. No caso da Maria do Socorro, ela estava falida em São Paulo e vê a oportunidade de ter uma vida melhor com esse novo marido. Num primeiro momento, a gente questiona se ela está vindo por interesse ou não. Mas, ao longo da série, ela vai se encantando por essa cidade, por essas pessoas e por esse homem. Você realmente acredita na relação deles e que ela ama esse cara. Ela é uma pessoa boa, com boas intenções”.
Você vem há algum tempo trabalhando com comédia. Quais são os desafios de dirigir esse gênero?
“Fazer rir é difícil. Eu acredito muito na comédia de situação. E quando você tem um bom texto, como é o caso deste de ‘Cine Holliúdy’, eu só fico querendo não estragá-lo. As situações são muito boas. Fica muito mais fácil filmar a comédia quando a situação já é engraçada por si só. Um grande desafio da comédia é segurar o público ligado o tempo todo e ter ritmo, que é o que faz com que ele não queira desligar. Além de uma história boa, tem que ter essa combinação com o ritmo, com a interpretação e a composição dos personagens, o público tem que se identificar com essa história. Apesar de ser uma história muito fantástica, só vai funcionar se o público conseguir se enxergar nos personagens e se realmente acreditar que isso está acontecendo naquela cidadezinha de Pitombas. É preciso ter o pé no chão, trazer os atores para perto do público”.
Você pontua com os atores todos os olhares, os gestos, a intenção. Você tem sempre esse cuidado nas suas produções?
“Eu sou obsessiva e perfeccionista. Fazer televisão é uma corrida contra o tempo, são muitas horas por dia de gravação. Acredito que são esses pequenos detalhes que mudam uma cena. O diretor tem esse trabalho de ter a visão do todo, de entender aquela cena, de saber porque aquele personagem está ali, o que ele quer, o que vai fazer. O segredo é nunca desistir a cada plano, tem que estar o tempo inteiro concentrada no que está acontecendo”.
Aconteceu um intercâmbio de experiências entre as equipes, do filme e a que foi montada para a série. Qual a maior riqueza desta troca?
“No cinema, quando você tem orçamento baixo, tem que ser muito criativo para conseguir fazer as coisas. Fiquei completamente apaixonada por essa equipe. A gente tem o know how da TV, essa coisa das marcas de cenas – que foi bem diferente para eles –, a agilidade, a prática”.
A série retoma o humor do Nordeste, com características bem brasileiras. Acredita que o público vai se identificar?
“Eu acredito que sim, porque a gente está conseguindo contar, com muita leveza e muito humor, histórias que fazem parte do dia a dia do povo brasileiro. É uma história para toda a família, com situações que vão fazer as pessoas darem muitas gargalhadas. É uma delícia trabalhar no set com essas figuras tão incríveis e engraçadas”.