Escalada para O Sétimo Guardião, Ana Beatriz Nogueira afirma sobre Aguinaldo Silva: “Eu queria fazer uma novela deste homem”

Publicado em 23/03/2018

Seja no teatro ou na televisão, Ana Beatriz Nogueira não para de trabalhar. A atriz emenda um trabalho no outro e, geralmente, tem desempenhos notáveis. Atualmente, ela vive a Isadora, em Malhação: Vidas Brasileiras, na Globo. A personagem é uma mulher que vê o marido ser preso por corrupção e não sabe realmente o que fazer.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Nogueira deu detalhes da experiência de trabalhar na novela adolescente, rodeada de jovens atores, e mencionou até a palavra “frescor” para definir a sensação. Além disso, ela respondeu se está assistindo a reprise de Celebridade (2003, Globo), em que teve um papel de destaque.

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A atriz também explicou como decidiu tornar público o fato de ter esclerose, um doença degenerativa. Ela revelou que tem planos concretos para ajudar pessoas que tenham dúvidas sobre o tema. Para finalizar, Nogueira contou que já tem outro trabalho garantido na Globo. Ela estará em O Sétimo Guardião, nova novela de Aguinaldo Silva.

Isadora, é a mulher que vai ter uma reviravolta na vida né? O marido do nada é preso. É isso? 

“Isso, o marido já começa preso. A apresentação das personagens é assim: ele está sendo preso e a família reagindo aquilo. Na Operação Lava Jato. Isadora é uma mulher que da noite para o dia não sabe que vida ela teve. Nem como teve.”

Mas ela não sabia?

“O que chegou para mim, não. Eu estou fazendo como quem não sabe. Novela é uma obra aberta não, é? Mas ela é uma criatura atordoada, sem saber o que fazer, não fazia ideia. A gente pode imaginar um pouquinho. O Brasil está aí. A gente liga o Jornal Nacional, a gente entende. Enfim, eu não sei se ela é uma mulher que não sabia nada, ou se fez que não sabia também, porque uma maneira de ser cúmplice é fingir que não viu, né? Isto eu não sei. Mas é porque está muito no início. Eu vou entrando na novela aos pouquinhos, eu não gravei tanto assim, né? Mas é isso. É uma mãe com pouca vocação para a maternidade.”

Tem uma filha só?

“Tem uma filha só. É uma mãe que mais pede colo do que dá. Tô tentando, né?”

E como você descreveria o caráter dela? É uma mãe ausente?

“Eu acho que é uma característica na verdade. A falta de vocação para a maternidade não é que seja um defeito. Às vezes, a pessoa faz o melhor, mas não é exatamente aquela mãe que a gente vê sempre, né? Muito zelosa, muito cuidadora. Eu acho que ela também está perdida. O que eu quero dizer é que ela é tão infantil quanto a filha. Não é uma questão de caráter, sabe? É de característica.”

E como ela vai lidar com essa queda? Por que vai cair o padrão, né? Como ela vai reagir? Ela é perua, né?

“Sabe que eu não sei até agora. Eu só sei dizer que ela é atordoada. Ela não é para o clássico, não chega a ser uma perua, ela é colorida, pode ser assim?”

 

Eduardo ( Edson Celulari ), Isadora ( Ana Beatriz Nogueira ) e Pérola ( Rayssa Bratillieri ) em Malhação: Vidas Brasileiras
Eduardo Edson Celulari Isadora Ana Beatriz Nogueira e Pérola Rayssa Bratillieri

E qual a importância de falar sobre este tema de política, da Lava Jato em uma novela para jovem?

“Maravilhoso, né? Os jovens são o presente, o futuro, a mudança. E essa novela não tem só este tema, né? Têm muitos temas instigantes e essa moçada que eu tô conhecendo, né? Eles são incríveis, são talentosos. Bom, eles chegaram aqui através de meses de testes, né? São atores que querem muito estar aqui. São seríssimos no estudo, na dedicação, eu fico encantada porque a gente recebe muito frescor, essa coisa boa. É uma delícia estar com eles em cena. Eu acho extraordinário. Eu passo o dia todo encantada olhando o trabalho deles.”

E qual a sua relação com as redes sociais?

“Terrível. Eu sou péssima. Eu estou fazendo um esforço incrível para aprender, porque eu não tinha rede social. Há cinco meses, eu tenho Instagram. Foi o máximo que eu consegui. Volta e meia alguém me diz: ‘você não cortou a foto’. Eu falo: ‘ah deixa a foto, tem que cortar a foto?’. É isso.”

E fazer uma novela para adolescente, tem um trato diferente? É uma responsabilidade a mais?

“Eu acho que novela é para todos, viu? Esta novela é também para adolescente. Eu imagino que os pais queiram também entender. Eu mesmo como tia, eu volta e meia levo um coió, porque eu pergunto coisas que eles falam: ‘nada a ver’. Daí você pergunta outra coisa e eles dizem: ‘nada a ver’. Bom, vou falar sobre o tempo, né? Está chovendo. Está fazendo Sol. Porque, às vezes, a gente se sente atrasada em relação a eles, porque muda muito rápido tudo. E eles trazem estas novidades pra gente. O tempo todo. Eu estou falando em casa, no trabalho. Então, eles vão ensinando a gente como é que eles estão vivendo, eles mesmo nos comunicam como é.”

Como está sendo contracenar com essa galera jovem? 

“Eu amo contracenar com a galera mais jovem. Na última novela, Rock Story, eu contracenei com o Rafael Vitti e Marina Moschen, que estavam vindo de ‘Malhação’, inclusive.  É uma delícia. É isso o que eu digo. Tem um frescor que faz a gente também sair de um lugar confortável e olhar para eles e ver como é que vai fazer dessa vez. Porque a gente está fazendo junto com eles, e não fazendo também. Essa novela é dos jovens. Nós estamos aqui fazendo um apoio para estes jovens que são jovens atores brilhantes, o melhor apoio que a gente pode, parece que a gente está vindo ensinar alguma coisa, e não é bem assim, porque a gente aprende o tempo todo com eles. É um frescor que é contagiante e isso é muito bom para gente.”

Com relação a maternidade, muitas mulheres optam por não terem filhos, qual foi sua situação, você optou? Uma mulher que sempre trabalhou muito e emendou trabalhos…

“Aí a gente se envereda por vida pessoal, vamos deixar a vida pessoal na pessoal, mas maternidade é a coisa mais linda, eu acho lindo. Uma mãe, um filho, essa relação.”

Sua personagem tem vocação para ser mãe? 

“A minha personagem, eu acho que ela não tem muita vocação para a coisa. Ela é uma mãe infantil. Você não vê, às vezes, uma mãe que é tão infantil quanto o filho? A gente vê por aí. Eu digo infantil, por não ser madura suficiente. A gente encontra na rua, não é difícil encontrar.”

A gente está começando ‘Malhação’, mas você não vai conseguir terminar, né? Porque você já vai para a novela do Aguinaldo Silva, que estreia em novembro, né? 

“Foi bastante tempo, eu não sei o mês certo, mas acho que uns cinco meses de ‘Malhação’, até porque ‘Malhação’ é uma novela maior.”

Vai emendar mais uma vez um trabalho no outro?

“Eu adoro! Eu gosto de férias de 15 dias. Porque também, se eu não fizer outra novela, eu vou para o palco. Então, eu não vou tirar férias de qualquer jeito.”

Você já sabe o que você vai fazer?

“Já, estou estreando dia 06 de abril, ‘Mordidas’. É uma comédia inversa, dirigida pelo Victor Garcia Peralta. Eu, Zélia Duncan, Regina Braga e Luciana Braga. Não percam! Teatro Fashion Mall, Rio de Janeiro.”

Como é que você está vendo essa crise toda na cultura, que está caindo muito sobre o teatro? Como é que você está driblando isso?

“Eu faço sempre muito teatro. Eu descanso de um veículo no outro. E também me alimento de um no outro, porque um me devolve melhor para o outro, sabe? Agora está difícil! Nas minhas últimas peças, eu tenho me identificado muito com a Guida, quando ela falou do empréstimo do banco, por que eu estou nessa do empréstimo do banco, há algum tempo. Para não deixar de fazer, as vezes, a gente consegue e às vezes a gente fala com paciência aqui, não deu, eu digo financeiramente, eu vou estar sempre fazendo, nem que seja pegar peça que já fiz e viajar com a peça.”

Resistência, né?

“Também é necessidade. Isso vai de cada um, eu não acho que todo ator tem obrigação de fazer teatro. É que eu sinto falta mesmo. Eu acho que se eu não fizer, eu fico estagnada como atriz. Minha formação é de teatro.”

Você está acompanhando a reprise de ‘Celebridade’? 

“Eu vejo uns pedacinhos em casa, aqui, porque sempre tem uma TV ligada. Ah, eu morro de saudade, porque ‘Celebridade’, além de um trabalho maravilhoso, era minha turma toda de geração de amigas, então, parecia uma festa. Porque era Malu, Isabela Garcia, Julinha Lemmertz, eu, Deborah Evelyn, Marquinhos Palmeira, nós somos da mesma ‘tchurma’, desde a adolescência. Então, muita gente dizia: ‘eu nunca vi isso’. Porque tinha uma coisa de encontro mesmo, todo dia. E um elenco maravilhoso. Nivinha Maria, ‘Cacau’, Claudia Abreu, todos em uma novela de Gilberto Braga, enfim.”

Isadora (Ana Beatriz Nogueira) em Malhação: Vidas Brasileiras
Isadora Ana Beatriz Nogueira em Malhação Vidas Brasileiras Divulgação TV Globo

Eu queria saber como é que você enxerga essa juventude que está chegando nas artes, porque a gente vê muitas pessoas comentando que essa geração está chegando no salto 15, já se achando, com não sei quantos seguidores. Eu queria saber qual sua opinião sobre isso…

“Eu não vejo isso, talvez por falta de rede social. Eu não posso falar do mundo virtual, mas na vida, como ela é, eu não vejo nada disso não, pelo contrário, eu vejo jovens maduros, incríveis, interessantes. Eu devo estar indo contra a maré, então, talvez. Eu não sei, então se eu sou uma sortuda, mas os que eu encontro conhecidos ou desconhecidos, ou que eu troquei um bom dia, ou enfim, me encanta demais essa juventude.”

Recentemente, você deu uma entrevista importantíssima sobre esclerose, e eu queria saber qual foi o retorno desta entrevista?

“Eu fiz propositalmente. Porque eu podia não falar nunca, eu não tenho sequela, eu não tenho sintoma, mas eu digo, eu quis falar justamente, eu acho que a gente tem que sair um pouquinho do umbigo da gente. Do sucesso pessoal, de carreira. Eu tinha vontade de fazer isso há muito tempo. Há muito tempo. Porque já tem tanta gente, que eu acho que eu estou ajudando, sabe? Eu estou fazendo uma página no Facebook, vocês vão me achar uma débil agora, eu estou tendo aula de Facebook. Eu não sei mexer. Eu fico louca com isso. Eu estou fazendo um esforço para colocar as coisas que eu quero colocar ali. Nesses nove anos  que eu tenho o diagnóstico, foram assim, coisas mágicas para mim, para que assim, para que as pessoas procurem por essas coisas, quem sabe uma coisa que foi legal para mim, pode ser legal para outra pessoa. Não para responder perguntas, porque eu não sou médica e nem poderia fazer isso. A doença se manifesta de várias maneiras, é como você ter um câncer benigno, um câncer maligno, então, eu não posso dizer nada. Só que eu me sinto uma sortuda e que eu precisava fazer algo além do meu ego e carreira, etc.”

E você está sentindo bem psicologicamente depois de ter feito?

“Melhor! Eu tinha vontade já há alguns anos. E todo mundo me dizia ‘Pra quê, Ana?’. Depois as pessoas ficam griladas. Se a pessoa ficar grilada, é ela quem não entendeu a matéria. Nestes nove anos, o que eu vi de gente faltando por causa de alergia, conjuntivite, eu falo: ‘olha aí, lá foi mais um, outro lá’. Então, assim é normal. O que eu tenho, não é vírus e bactérias.  É uma questão cognitiva. Quem perde sou eu, o patrão não. Eu é que vou perdendo as funções. Eu espero que muito lentamente, lá pelos cem anos. Mas, eu digo para quem está me empregando, não. Muito pelo contrário. Acho que quem cuida da saúde com mais atenção, acaba sendo mais CDF com isso sabe.”

Você já pode adiantar alguma coisa da novela do Aguinaldo?

“O que eu posso adiantar é que eu sou fã do Aguinaldo. Eu tenho vontade de trabalhar, sei lá. Eu pensava: ‘poxa, eu queria fazer uma novela deste homem’. Eu sei que chama Ondina, a personagem, e ela vai ser dona, não sei se é prostíbulo exatamente, mas é inclusivo. Eu mesma soube disso pelo jornal, não foi o Aguinaldo que me contou não. Talvez seja um cabaré inclusivo. É isso.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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