Maneco

Mulheres Apaixonadas e Laços de Família: obras de Manoel Carlos são eternas

Anos depois de serem produzidas, novelas do autor ainda mexem com o público

Publicado em 24/08/2020

Grande nome da televisão brasileira, Manoel Carlos encerrou sua contribuição em folhetins com Em Família, exibida em 2014. A trama sem brilho e a baixa repercussão da novela não fizeram jus à obra do autor, dono de grandes clássicos da TV. A constante revisitação de emissoras às suas principais novelas mostram que o autor se mantém relevante, mesmo aposentado.

As reprises de Mulheres Apaixonadas (no Viva) e Laços de Família (na Globo) reafirmam a força do texto de Maneco. São obras que, sempre que são vistas ou revistas, seguem mexendo com a audiência, mesmo já tendo alguns anos de estrada.

A trajetória de Por Amor, que ganhou nada menos que duas reprises na Globo, e mais duas reprises no Viva, é outra prova de que o público ainda aprecia o texto em tom de crônica de Manoel Carlos. Aliás, se levarmos em consideração que o Vale a Pena Ver de Novo sempre preferiu novelas mais recentes, só o fato de exibirem tramas de 20 anos atrás já prova o quanto Maneco ainda toca o público.

Trinca vitoriosa

Por Amor, Laços de Família e Mulheres Apaixonadas formam uma trinca vitoriosa da obra de Manoel Carlos na Globo. Três novelas das oito (ou nove) dirigidas por Ricardo Waddington, o diretor mais feliz na função de dar ritmo ao texto peculiar de Maneco.

Manoel Carlos tem uma galeria de novelas de sucesso bem mais extensa, mas estas três representam o auge do autor. Foi aqui que ele consolidou, em definitivo, sua heroína Helena, entregando-a a atrizes que deram conta do recado.

Com Por Amor e Laços de Família, Manoel Carlos fez de suas Helenas as grandes heroínas, com todos os demais coadjuvantes orbitando ao redor dela. Já Mulheres Apaixonadas marcou uma mudança de eixo narrativo, no qual o autor apostou em várias histórias correndo paralelamente, quase como num “revezamento” de protagonismo.

Foi uma ousadia que deu certo, pois o autor conseguiu equilibrar as várias histórias que se propôs a contar. No entanto, ele começa aqui um processo de “esvaziamento” da heroína Helena. A clássica personagem perde força nas novelas a partir daí. Páginas da Vida, Viver a Vida e Em Família têm Helenas menos impactantes.

Atemporal

É evidente que muito do que Manoel Carlos narra em suas novelas parece datado. Quando Laços de Família foi reexibida no Viva, as cenas em que Pedro (José Mayer) perseguia Cíntia (Helena Ranaldi) incomodaram bem mais do que na exibição original. Afinal, hoje fala-se mais sobre assédio e a cultura do estupro, e o comportamento de Pedro tornou-se bem mais reprovável.

O mesmo vale para o excesso de machismo de Atílio (Antonio Fagundes), Marcelo (Fabio Assunção) e outros personagens de Por Amor. O comportamento tóxico de boa parte dos personagens masculinos, ainda bem, vem fazendo cada vez menos sentido. Laços de Família e Mulheres Apaixonadas também trazem abordagens machistas, que hoje em dia chamam a atenção.

Porém, isso não tira o brilho da obra de Manoel Carlos. A sensibilidade do autor ao criar grandes situações e histórias a partir de acontecimentos banais fala mais alto no momento de revisitar suas novelas. E estes sentimentos são universais, daí o sucesso que suas novelas seguem fazendo, anos depois de exibidas. Assim, rever Mulheres Apaixonadas e Laços de Família é rever Maneco em sua melhor forma.

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