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Série da Globo “previu” deputada federal trans antes de Erika Hilton; atriz comenta “premonição”

Discípula de Zé Celso, Wallie Ruy fala à coluna sobre papel em Aruanas; leia entrevista

Publicado em 13/07/2023

O final da segunda temporada de Aruanas, exibido pela Globo na última terça-feira (11), previu um fato histórico: uma deputada federal transgênero no Congresso Nacional. Gravado em 2021, mais de um ano antes da eleição das duas primeiras parlamentares trans da política brasileira, Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), o último capítulo conta com a atriz Wallie Ruy no papel da deputada Ayla.

Na série, a congressista participa da CPI das ONGs, que investigava os movimentos de combate ao crime ambiental. A participação ganhou tons de “premonição” porque foi ao ar no mesmo dia em que Erika Hilton discursou com firmeza contra a transfobia durante a CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro.

Coincidência ou premonição? Wallie Ruy brinca sobre o orgulho de ter sido pioneira, ainda que na ficção. “Eu vim antes! Posso falar que fui a primeira travesti no Congresso!”, brinca. “Agora nós temos a Erika Hilton e a Duda Salabert, mas são duas travestis ocupando a Câmara com mais de 500 pessoas cisgênero. É complexo, mas não podemos retroceder. Que venham mais Aylas!”, reivindica.

Para compor a personagem, Wallie se inspirou em Erika Hilton e Duda Salabert, que atuavam como vereadoras na época das gravações, além de outras representantes trans na política, como Erica Malunguinho (então deputada estadual em São Paulo) e Linda Brasil (atual deputada estadual em Sergipe).

A atriz comemora o avanço da representatividade prevista na série: “Inicialmente, esta personagem seria um deputado homem, mas já chegou até mim como travesti por decisão da direção. Se dois anos atrás, quando gravamos, não tínhamos uma travesti [no Congresso], quisemos recontar para que tivéssemos pessoas transvestigêneres permeando esse espaço de poder”.

Wallie Ruy foi discípula de Zé Celso

Wallie Ruy e Zé Celso Martinez
Wallie Ruy e Zé Celso Martinez

A exibição de Aruanas serviu como alívio para Wallie Ruy, que se recupera da morte de José Celso Martinez Corrêa, seu mestre no Teatro Oficina. Ao lado do dramaturgo, ela conquistou seus primeiros grandes papéis, incluindo uma representação dos políticos mais conservadores da política nacional.

“O Zé tirou as vendas dos meus olhos para eu enxergar o infinito por dentro também. Eu me afirmo travesti em 2008 e entro para o Oficina em 2015. Somente ali eu me desnudei de todos os tabus. Interpretei Pau-Brasil pela Universidade Antropofágica, e ele escreveu uma personagem para mim que era a fusão de todas as personificações horrendas do nosso Congresso à época. Ele se chamava Bolsanaro Feliciano da Cunha!”, recorda, citando Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Eduardo Cunha.

Wallie participará do ato no Teatro Oficina pelo sétimo dia da morte de Zé Celso, nesta quinta-feira (13). Emocionada, a atriz prefere encarar a despedida como uma homenagem à vida de seu grande mentor: “É sempre uma celebração. Zé sempre me inspirou nesse lugar de gargalhar em vez de sofrer, porque ele mesmo dizia que a vida é trágica, mas cômica”.

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