Crítica de TV

Com estoque de novelas infantojuvenis escasso, SBT tem chance de oferecer outras atrações na grade noturna

Momento é ideal para que a emissora reveja sua programação

Publicado em 25/05/2023

Nesta quarta-feira (24), o SBT exibiu o 307º (e último) capítulo de Poliana Moça, novela de Íris Abravanel inspirada na obra de Eleanor H. Porter. Uma primeira parte da história, As Aventuras de Poliana, também assinada por Íris, foi exibida de maio de 2018 a julho de 2020, em 564 capítulos.

Somadas, as duas novelas protagonizadas por Sophia Valverde totalizam a marca de 871 capítulos. Embora haja personagens comuns às duas partes, inclusive com os mesmos intérpretes, são duas obras distintas, o que não permite que se possa considerar a “saga de Poliana” como nossa novela mais longa, posto que segue com Redenção, de Raimundo Lopes.

Protagonizada por Francisco Cuoco no papel do médico Fernando Silveira, a novela da TV Excelsior teve 596 capítulos, levados ao ar de maio de 1966 a maio de 1968. As Aventuras de Poliana permaneceu no ar por mais tempo (dois anos e dois meses), mas isso porque não eram levados ao ar capítulos inéditos aos sábados, e sim compactos da semana – mesmo assim a prática não durou a novela toda.

Atualmente, o SBT ocupa três de seus seis horários de novelas a produções dedicadas ao público infantojuvenil: às 20h45, a recém-estreada A Infância de Romeu e Julieta, inspirada em William Shakespeare, coprodução da emissora com o Prime Video; às 21h30, a (segunda) reprise de Cúmplices de Um Resgate, versão de uma novela mexicana, exibida originalmente entre 2015 e 2016; e às 13h, a (terceira) reprise de Chiquititas, segunda versão de uma novela argentina, levada ao ar pelo SBT entre 2013 e 2015.

O público infantojuvenil se renova em pouco tempo, e hoje irmãos mais novos, sobrinhos e até filhos dos espectadores das primeiras novelas da leva mais recente do SBT no filão – iniciado com Carrossel, em 2012-2013 – compõem a audiência das produções inéditas ou em reprise.

Leve-se também em conta que crianças não se incomodam muito com reprises daquilo que lhes agrada, ainda assim exibir sempre as mesmas novelas nos últimos 10 anos tem claramente enfraquecido o núcleo de dramaturgia da emissora de Silvio Santos em termos de audiência. A sensação de que “é tudo igual”, somada ao fato de que as histórias se alongam demais – uma das mais curtas, Carinha de Anjo (2016-2018), teve “apenas” algo em torno de 400 capítulos -, só cresce.

Aproveitando que a pandemia fez com que uma segunda reprise de Chiquititas tenha ocorrido antes da hora, talvez – a novela cobriu a vaga deixada por As Aventuras de Poliana a seu término, diante da imprevisibilidade de retomada das gravações e indefinições quanto a Patinho Feio, projeto considerado por algum tempo -, e que seria desejável descansar um pouco Poliana e sua turma, até para que as crianças queiram tornar a vê-los dia a dia, e lembrando que Carinha de Anjo também foi recentemente reprisada, o que poderia o SBT fazer para não saturar mais ainda suas novelas infantojuvenis, que já deram mais certo?

Já que Carrossel e Chiquititas já ganharam as tardes – com direito até a pulo de mais de 100 capítulos na reprise da primeira, no ano passado, sem mais, nem por quê -, para firmar ainda mais a faixa caberia seguir com os repetecos das novelas “de criança” nesse início da faixa vespertina, que anda mesmo sem muitas opções para este público, ao menos em TV aberta.

À noite, se o SBT considera que não é o caso de antecipar a entrada no ar do Programa do Ratinho para as 21h30 quando Cúmplices de Um Resgate terminar, o que causaria um embate direto com a novela das 21h da TV Globo, Terra e Paixão, por que não exibir uma novela adulta, brasileira ou mexicana, ainda que em reprise, e com isso habituar o espectador novamente a essa opção na emissora?

Isto é, desde que um título que tenha o perfil do canal, não algo com proposta diferenciada como a versão mais recente de A Usurpadora, fracasso de audiência por vários motivos em 2021. Quem sabe o mesmo ibope em torno de 5 pontos conquistado por Cúmplices de Um Resgate hoje não pudesse se manter com Amor e Ódio (2001-2002), Canavial de Paixões (2003-2004) ou mesmo Revelação (2008-2009), que seria inédita para muitos espectadores e poderia ter agora um horário um pouco melhor? Ainda, do mesmo Walcyr Carrasco que está no ar na TV Globo temos no acervo do SBT Fascinação (1998). Novelas brasileiras da casa elevaram os índices em plena hora do almoço em 2022…

Em termos de mexicanas, para não recorrer às mesmas de sempre, novelas como Maria Isabel e Amor Real (estreladas por Adela Noriega), A Madrasta (com Victoria Ruffo e César Évora) ou Esmeralda (com Letícia Calderón), poderiam manter, se não ampliassem, os índices atuais do SBT. E isso para nem falar de estrangeiras inéditas, como Os Ricos Também Choram ou Rubi em versões mais recentes, já disponíveis no Globoplay.

E opções não faltam, mesmo que de conteúdos de acervo. Por que não um Quem Não Viu, Vai Ver com os humorísticos da casa? Séries estrangeiras que poderiam interessar a uma audiência jovem sem amplo acesso à TV paga e ao streaming? Game shows?

Televisão é hábito, como já diria o lendário executivo da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Para que outras atrações possam dar certo nessa faixa das 21h30 (e em qualquer faixa), o SBT precisa arriscar com produtos que não sejam novelas infantojuvenis de produção própria, muito longas e que ressurgem na tela rápido demais, mais de uma vez. E nos deixar criar o hábito de vê-las.

As informações e opiniões expressas nesta crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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