TV no Mundo | Jair Bolsonaro tem razão ao privatizar ou extinguir a TV Brasil?

Publicado em 14/11/2018

Olá para você que acompanha o Observatório da Televisão. Eu sou Renan Vieira! E este é o TV no Mundo! Vem comigo hoje vamos falar aqui sobre TV pública, mais precisamente de TV Brasil e outros modelos que temos no mundo. Idealizada lá em 2007 para ser uma televisão inclusiva, complementar à programação comercial oferecida pelas redes privadas, a TV Brasil cumpriu em partes seu objetivo.

Deu voz para grupos sociais que dificilmente têm espaço na televisão privada. Além disso, dialogou com segmentos menores da sociedade brasileira e impulsionou os investimentos no setor audiovisual, no target infanto-juvenil. Mas por que, então, Jair Bolsonaro fala em extingui-la ou privatizá-la?

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Sim, o presidente eleito disse isso em entrevista à Record. Ele entende que a EBC, que é a Empresa Brasileira de Comunicação, criada no governo Lula, gera um custo muito alto para o retorno que dá. Isso quer dizer que a estatal, obviamente, recebe dinheiro público e não dá lucro, não tem audiência relevante.

A televisão pública no mundo

Será que o governo Bolsonaro tem razão? Primeiro, a gente pode avaliar como é a TV Pública em outros países. Ressaltando, antes, claro, que televisão pública é diferente de governamental. A gente tem aqui, pertinho do Brasil, exemplos interessantes, como a TPA, a TV Pública Argentina e a TVN, Televisión Nacional, do Chile. Ambas têm trajetórias e importância histórica diferentes para seus mercados.

No caso argentino, a TV Pública, nos últimos tempos, nunca disputou regularmente a audiência com a televisão aberta e o segmento pago que é muito forte por lá. Já no Chile, a TVN já foi muito importante, com altas audiências, liderança na produção de teledramaturgia e até exportação de roteiros originais.

Ambas as emissoras tem uma plástica muito semelhante às redes privadas. inclusive, exibem publicidade nos intervalos. Por falar em comerciais, que tal a BBC? A maior emissora do Reino Unido é uma potência, é pública e não tem anunciantes em seus intervalos. Exemplo para o mundo todo, a rede britânica é financiada pelos próprios telespectadores. que pagam para tê-la em casa.

E esse é um modelo de grande sucesso único em todo o planeta. Vale ressaltar que o modelo de negócio da televisão lá no Reino Unido e, também, em outros países da Europa começou com o segmento público e, somente, depois de algum tempo é que a TV privada ganhou algum espaço.

Mais exemplos

Em Portugal, por exemplo, a tradicional RTP dominou o mercado até o início dos anos 90, quando chegaram as comerciais SIC e TVI. Na França, a France Televisions veicula publicidade em seus canais, mas não no horário nobre. Na Itália, a prestigiada RAI, apresenta comerciais durante a sua programação. Já na Espanha, a RTVE, por lei, só pode passar propagandas culturais ou esportivas.

A Alemanha, a maior economia da Europa, também tem um modelo sólido de televisão pública com a ZDF e a ARD. Já os Estados Unidos, diferentemente do Canadá e da Austrália, não conseguiu fazer da PBS uma potência. E vale ressaltar que a NHK, do Japão, e até a CCTV, da china, seguem muito prestigiadas.

A partir desse cenário dá para a gente entender que a televisão pública tem sua importância em praticamente todos os mercados importantes do mundo. Diferentemente da TV Brasil, elas possuem tradição porque foram a primeira opção de televisão para os telespectadores. E mesmo com a chegada dos canais privados, elas se mantiveram protegidas pelo Estado.

Isso significa entregar uma programação de qualidade, como e caso da BBC, a mais valorizada programação televisiva do mundo, ou da própria RAI. Tudo isso chega ao telespectador em uma embalagem que lembra as redes comerciais, mas essencialmente responsável socialmente.

E mais!

Iniciar uma televisão pública em um mercado moldado pelas redes privadas é muito, mas muito difícil. Porque televisão é, sobretudo, hábito. O telespectador acostumado com o Big Brother Brasil, por exemplo, levaria mais tempo para aceitar um programa de caráter mais cultural.

Aí é que a TV Brasil peca demais. Entrega um produto com embalagem de televisão pública, o que não é que a audiência espera. De fato, ela acha chato. É possível ter uma emissora nos moldes das grandes redes europeias? Sim, é. Mas, para isso, é preciso criar uma televisão pública de verdade, que invista em uma programação sólida, com programas técnica e artisticamente bem produzidos e livres dos interesses do governo.

E mais! faltou conhecimento, faltou dar estrutura para realização de programas. Com mais de 10 anos no ar, a TV Brasil não é reconhecida pelos brasileiros, infelizmente. confundem ela com Rede Brasil, Canal Brasil. Não sabem sintonizá-la, o sinal não é bom em várias partes do país e, mesmo, na região metropolitana de São Paulo, a maior do país.

É uma pena que, nesse período, perdemos a chance, enquanto sociedade, de compreender que a TV pública é necessária para, como eu disse no começo do vídeo, complementar a programação das redes privadas e ir além até, além dos interesses empresariais.

Vejamos os bons exemplos e façamos melhor, avancemos. Bom, semana que vem tem mais vídeo! Do que você quer que eu fale? Obrigado e até a próxima.

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