#TBTdaTelevisão: Janete Clair, 94 anos de Nossa Senhora das Oito

Publicado em 25/04/2019

O #TBTdaTelevisão desta semana relembra a novelista Janete Clair, que completaria 94 anos nesta quinta-feira, 25 de abril. Falecida em 1983, ela até hoje é citada como uma das maiores autoras de telenovelas do Brasil e serve de referencial a todos os colegas do gênero. Especialmente a Gilberto Braga e Glória Perez, que aprenderam muito da carpintaria da coisa com ela.

Janete Clair antes da TV, no #TBTdaTelevisão

Jenete Stocco Emmer nasceu na cidade mineira de Conquista em 1925. Em virtude de seu pai falar com forte sotaque, o “Janete” acabou grafado errado na certidão de nascimento. Em 1950, ela se casou com o dramaturgo e homem de rádio Alfredo de Freitas Dias Gomes, dando início a uma união que duraria até a morte dela e renderia os filhos Guilherme, Alfredo e Denise. A saber, Alfredo é pai da também novelista Renata Dias Gomes, uma das responsáveis pelo texto da recém-concluída Malhação – Vidas Brasileiras.

No rádio, o início de tudo

Rumos Opostos (1948) foi a primeira radionovela de Janete Clair, escrita para a Rádio América. A segunda viria apenas em 1952 pela Rádio Clube do Brasil: uma adaptação de Anna Karenina, romance de Leon Tolstói. De maneira que apenas a partir de 1956, após escrever também para outros gêneros de programas no rádio, Janete engrenou como autora de novelas. Perdão, Meu Filho foi a primeira de uma série de histórias patrocinadas pela Sidney Ross e exibidas pela Rádio Nacional, com sucesso crescente. Só para ilustrar, outras foram A Noiva das Trevas, A Canção do Rio, Inocente Pecadora e Alba Valéria. Além de Um Estranho na Terra de Ninguém, considerada por ela sua melhor criação radiofônico.

Janete Clair enfim chega à telinha

Apenas em 1964 Janete escreveu sua primeira novela para a televisão. Produzida pela TV Tupi do Rio de Janeiro, O Acusador foi dirigida por Fábio Sabag e teve Jardel Filho no papel principal. Para a Tupi Janete escreveria ainda Paixão Proibida, exibida em 1967. Passada na época da Inconfidência Mineira, a história girava em torno do grande amor vivido entre os personagens de Sérgio Cardoso e Miriam Mehler.

O início de Janete Clair na Globo

Logo após Paixão Proibida, Janete ingressou na TV Globo. A história que envolve esse seu ingresso é bastante conhecida. Emiliano Queiroz havia iniciado a novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, com trama centrada na filha do czar russo Nicolau II, que teria sobrevivido ao massacre da família e ido refugiar-se numa ilha da Jamaica. Leila Diniz era a protagonista, fazendo par com Henrique Martins, também diretor da história ao lado de Régis Cardoso.

Um acidente muda os rumos de uma novela – e de uma carreira

Com elenco inflado, baixa audiência e altos custos, Emiliano foi afastado por Glória Magadan, a poderosa chefe do núcleo de dramaturgia da Globo. Ao ser apresentada a Janete, indicada para prosseguir com a novela por Daniel Filho, Glória disse a ela: “Eu tenho um abacaxi para você”. Após ler os capítulos já escritos e situar-se, Janete se decidiu por um terremoto na ilha, que mataria quase todos os personagens e manteria apenas os seis principais, iniciando-se ali uma nova história. Incluindo uma passagem de tempo de 20 anos, com Leila Diniz passando a interpretar tanto Anastácia quanto sua filha. A novela não se tornou nenhum grande sucesso, mas começou a agradar mais e livrou a Globo de um desastre.

Nos primeiros anos da Globo, Janete Clair e Glória Magadan, no #TBTdaTelevisão

Posteriormente, entre 1967 e 1969 Janete Clair escreveria três novelas para a Globo seguindo a cartilha de Glória Magadan. Passadas na Espanha, Sangue e Areia e Rosa Rebelde foram protagonizadas pelo casal que chegava à emissora carioca, egresso de São Paulo: Glória Menezes e Tarcísio Meira. Entre as duas Glória fez Passo dos Ventos, tendo Carlos Alberto como seu par enquanto Tarcísio foi estrelar A Gata de Vison com Yoná Magalhães.

Da Espanha das invasões napoleônicas ao Japão, Glória Magadan preferia qualquer cenário para as novelas que não fosse o Brasil. E isso incomodava Janete, que em suas muitas novelas de rádio e nas primeiras incursões na TV centrou as tramas em nosso País. Só com Véu de Noiva, em 1969, Janete pôde trocar na Globo a Europa e a América Central pelo Rio de Janeiro e os duques, duquesas e ciganos por pessoas normais, profissionais liberais, vendedoras, mecânicos, pilotos de automóvel…

Quase 20 novelas em menos de 20 anos: Janete Clair, Nossa Senhora das Oito

Quase 20 novelas ao longo de duas décadas e quase todas no horário nobre, às 20h. Em virtude dessas circunstâncias, Janete foi consagrada com apelidos como “Nossa Senhora das Oito” (que inclusive batizou um livro sobre a novelista, escrito por Mauro Ferreira) e “A Maga das Oito”. Só para ilustrar, depois de sua entrada na Globo assumindo Anastácia no segundo semestre de 1967 Janete só tiraria um período que se pôde chamar de férias em janeiro de 1973, ao encerrar Selva de Pedra. Nada menos do que nove novelas, sendo que uma, Os Acorrentados (1969), foi exibida pela TV Rio e escrita ao mesmo tempo que o fim de uma (Passo dos Ventos) e o início de outra (Rosa Rebelde). Talento, disciplina e paixão pelo trabalho que fazia levaram Janete a cometer essa verdadeira loucura.

O início das preocupações sociais na obra de Janete Clair

Mesmo que com o passar dos anos tenha começado a alternar (um pouco a contragosto, é verdade) o horário das 20h com autores como Lauro César Muniz e Gilberto Braga, Janete seguiu muito produtiva e fazendo cada vez mais sucesso com suas irresistíveis histórias de amor. A partir de Pecado Capital (1975) ela demonstrou preocupações sociais mais apuradas da novelista, desejosa de ir além do que os críticos injustamente a acusavam de representar. De tal forma que a tragédia urbana que as novelas mostravam era alinhavada por seus romances de sempre, conflitos familiares e os dramas da classe média.

O grande sucesso e as grandes críticas a Janete Clair

Janete Clair foi tachada de autora de obras alienantes no Brasil da ditadura. A mesma autora escreveu em suas novelas a respeito de obras do “Brasil Grande”, como grandes usinas hidrelétricas (Fogo Sobre Terra, 1974) e o metrô (Duas Vidas, 1977), analisando seus efeitos nocivos e desagregadores. Ela se magoava com as duras palavras de seus detratores. No entanto, provava com seu sucesso o quanto eles estavam errados.

O Astro e Pai Herói, entre 1977 e 1979, alcançaram índices de audiência superiores aos de eventos como os jogos do Brasil na Copa do Mundo, o que além de assombroso atesta como as novelas de Janete Clair mobilizavam as emoções de milhões de pessoas numa massa crescente de telespectadores desejosos de desanuviar um cotidiano difícil às 20h. No ar entre 1980 e 1982, Coração Alado e Sétimo Sentido enfrentaram problemas com a Censura, essa constante no trabalho da autora. A interrupção de sua carreira quando faleceu ainda jovem, aos 58 anos, em 1983, abriu uma lacuna na teledramaturgia brasileira, que ainda apresenta elementos básicos consagrados pela obra de Janete Clair. Ela faz falta.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade