#TBTdaTelevisão: As novelas de 1990, no embalo de Verão 90

Publicado em 31/01/2019

Nesta semana, a Rede Globo lançou uma nova novela das 19h, Verão 90. Após um breve prólogo passado nos anos 1980, é a primeira metade da década de 1990 que concentrará o desenrolar da história criada por Izabel de Oliveira e Paula Amaral. Por isso, Fábio Costa relembra no #TBTdaTelevisão as novelas exibidas em 1990. Algumas histórias não são citadas porque Verão 90 chega a 1990 às vésperas do Plano Brasil Novo, ou Plano Collor, que confiscou as aplicações dos brasileiros na poupança. Esse foi nosso recorte para a abordagem.

Verão 90 recriará cenário e sequência da novela Rainha da Sucata; saiba mais

No horário nobre global, dois grandes sucessos e uma novela implantada às pressas; no #TBTdaTelevisão

Joana Fomm
Perpétua em Tieta (Divulgação/ TV Globo)

O ano começou com Tieta, estreada em agosto de 1989 e que em março de 1990 chegava a seus últimos capítulos. Betty Faria interpretou o papel-título da história centrada em Santana do Agreste, cidade nordestina que ainda não conhecia a luz elétrica e cujos provincianos moradores tinham como maior diversão cuidar da vida alheia. Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, a saber, a novela apresentou Joana Fomm num papel memorável. Perpétua, a irmã carola e invejosa de Tieta. Sempre interessante destacar a ousadia da adaptação da obra de Jorge Amado. Por exemplo, Tieta vivia um caso com seu sobrinho seminarista, Ricardo (Cássio Gabus Mendes). Quase todos os personagens, à exceção do padre e das beatas, viviam com plenitude sua sexualidade.

Eô, eô: Rainha da Sucata celebrou os 25 anos da Globo com elenco de estrelas

Na sequência foi ao ar Rainha da Sucata, de Silvio de Abreu. A novela celebrava os 25 anos da emissora e reuniu um elenco estelar poucas vezes alcançado. O tema central da novela era a mudança de mãos pela qual passava o dinheiro do País na época. As reviravoltas da economia levavam pequenos comerciantes a enriquecer e os quatrocentões a falirem, inadequados aos novos tempos. Maria do Carmo Pereira (Regina Duarte) era o retrato da mudança. Antes pobre, sua família ganhou muito dinheiro com o negócio de sucata iniciado por seu pai, Onofre (Lima Duarte).

Ela chega aos anos 1990 muito rica, no entanto, é alvo do preconceito de gente como os Figueroa, outrora milionários e hoje em dificuldades. Edu (Tony Ramos), herdeiro do clã, é o grande amor de Maria do Carmo. Mas ela não sabe que terá que disputá-lo com Laurinha (Glória Menezes), madrasta do rapaz. O dinheiro de Do Carmo é a salvação para a bancarrota dos Figueroa, e ela se casa com Edu. Só que ele se rende ao amor dela, antigo e verdadeiro.

Às 19h, uma história jovem e uma comédia

Lucas (Taumaturgo Ferreira) e Duda (Malu Mader) em Top Model (Divulgação/ TV Globo)

No ar desde setembro de 1989, Top Model foi um grande sucesso do horário das 19h da Globo. Escrita por Walther Negrão e Antonio Calmon, este estreando em novelas, foi ao ar até maio de 1990 e era centrada na rivalidade dos irmãos Kundera. Antigo hippie, hoje surfista quarentão, Gaspar (Nuno Leal Maia) mora na beira da praia e cria os cinco filhos, frutos de diversos relacionamentos. Esse núcleo é muito querido do público e favoreceu o tratamento de questões da adolescência como menstruação e sexualidade. Alex (Cecil Thiré), por sua vez, é um empresário que disputa tudo com o irmão. Entre eles está o romance entre a modelo Duda (Malu Mader) e o grafiteiro Lucas (Taumaturgo Ferreira), que é filho de um dos Kunderas.

A novela seguinte do horário foi Mico Preto. Luís Gustavo interpretava Firmino do Espírito Santo, funcionário público que não tem sorte na vida. Por um equívoco, ele se torna procurador da milionária Áurea Meneses Garcia (Márcia Real), que desaparece. Os filhos de Áurea – Fred (José Wilker), Adolfo (Tato Gabus Mendes) e Zé Luís (Miguel Falabella) – manobram para que Firmino não exerça o poder nas empresas. Antes do desaparecimento, Áurea já era alvo de um plano dos filhos para interditá-la, em virtude de seu plano de posar nua para uma revista masculina. A comédia escrita por Marcílio Moraes, Leonor Bassères e Euclydes Marinho tornou-se cult com o passar dos anos.

Verão 90 faz ótima estreia, mas parece novela de nicho

Às 18h, as dificuldades econômicas do povo também se fizeram presentes

Gente Fina estreou na mesma semana do confisco da poupança, às 18h, substituindo O Sexo dos Anjos, de Ivani Ribeiro. Foi a estreia de Luiz Carlos Fusco como autor titular e tratou da crise econômica que se abate sobre a família de Guilherme (Hugo Carvana) e Joana (Nívea Maria). Eles saem com os filhos e o avô, Olavo (José Lewgoy), de um apartamento em Copacabana para uma casa emprestada em São Cristóvão. Antes de tudo, a nova vida e a falta de dinheiro disparam os conflitos da história.

Na sequência, em agosto estreou Barriga de Aluguel, novela que Glória Perez pretendia fazer havia alguns anos. Em virtude de não conseguir engravidar, a jogadora de vôlei Ana (Cássia Kiss) decide contratar uma mãe de aluguel. A escolhida é Clara (Cláudia Abreu), filha do religioso Ezequiel (Leonardo Villar), que se divide entre os empregos de balconista e dançarina. As implicações éticas e jurídicas dos avanços da ciência empolgaram os espectadores.

As atrações da Rede Manchete e a novela “extra” da Globo

Christiane Torloni e Raul Gazolla em Kananga do Japão
Christiane Torloni e Raul Gazolla em Kananga do Japão (divulgação)

Em março de 1990, a Rede Manchete exibiu os últimos capítulos de Kananga do Japão, de Wilson Aguiar Filho. O argumento, aliás, era do próprio Adolpho Bloch, dono da emissora. A trama se passava na década de 1930, e o ponto no qual convergiam os destinos dos personagens era o Grêmio Recreativo Kananga do Japão. Era nesse clube noturno, em plena Praça XI, Centro do Rio de Janeiro, que Dora (Christiane Torloni), cuja família perdera tudo com o crack da Bolsa de Nova York, conhecia Alex (Raul Gazolla), um cafetão. O rico painel histórico traçado pela novela, unindo ficção e realidade, merece destaque.

Marcos Winter, Cláudio Marzo e Marcos Palmeira em Pantanal (Divulgação)
Marcos Winter, Cláudio Marzo e Marcos Palmeira em Pantanal (Divulgação)

No final do mês estreou um dos maiores sucessos da emissora e da nossa teledramaturgia. Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, estampou diversas capas de revista e foi o assunto do ano na televisão. Passada no Centro-Oeste brasileiro entre as décadas de 1940 e 1990, a saga da família liderada pelo fazendeiro José Leôncio (Cláudio Marzo) chamou muita atenção. Com toda a certeza, para além dos tórridos banhos de rio dos personagens jovens, das transformações da bela Juma (Cristiana Oliveira) e das belas imagens da região, ao som de muita música sertaneja, ficou a mensagem de que a telenovela pode e deve se afastar de fórmulas consagradas e propor coisas novas ao público.

Araponga, “um jeito novo de fazer novela”

Com efeito, a grande audiência conquistada pela novela da Manchete levou a Globo a fazer sensíveis modificações em sua programação. Escrita por Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar, Araponga seria a substituta de Rainha da Sucata, mas foi designada para as 21h30, num embate direto com Pantanal. Araponga era o codinome do ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) Aristênio Catanduva (Tarcísio Meira). Ele acaba envolvido com a jornalista Magali (Christiane Torloni) e a investigação da morte do senador Petrônio Paranhos (Paulo Gracindo). “Um jeito novo de fazer novela” era o slogan da novela, que tinha um ritmo diferente das produções da época.

No #TBTdaTelevisão, “o limite entre o amor e o ódio” na novela das oito criada às pressas

Na vaga que seria de Araponga, a Globo colocou no ar nos últimos dias de outubro de 1990 Meu Bem, Meu Mal. Amor e ódio, sentimentos opostos. No entanto, separados por uma linha tênue. A Venturini Designers é a empresa de Dom Lázaro (Lima Duarte), homem amargurado pelo suposto adultério da mulher, que gerou Ricardo Miranda (José Mayer). Dono de 30% das ações da empresa, Ricardo é amante da nora de Dom Lázaro, a ambiciosa Isadora (Sílvia Pfeifer). Na verdade, Ricardo era filho legítimo do patriarca. A novela foi implantada às pressas e, ademais, deu uma grande mostra do talento do veterano Cassiano Gabus Mendes para desenvolver enredos em capítulos.

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