Segunda Chamada

Estreando na Globo em Segunda Chamada, Linn da Quebrada fala sobre educação no Brasil: “Espero que a escola possa ser receptiva e menos hostil”

Natasha trava uma batalha contra a intolerância

Publicado em 07/10/2019

Atriz, cantora, compositora e paulista, Linn da Quebrada, de 29 anos, agora se prepara para figurar como uma das principais personagens de Segunda Chamada, nova série da TV Globo.

A história tem estreia agendada para a noite desta terça-feira (08) e foi totalmente gravada em São Paulo. é a primeira escrita pelas autoras Carla Faour e Julia Spadaccini e também marca a estreia de Joana Jabace na direção artística.

Linn da Quebrada interpreta Natasha na série Segunda Chamada (Reprodução: TV Globo)
Linn da Quebrada interpreta Natasha na série Segunda Chamada (Reprodução: TV Globo)

Linn, que recentemente se apresentou no Rock In Rio ao lado de Gloria Groove e Karol Conká, contou em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, que o convite para o teste a fim de integrar a produção, foi uma grande surpresa.

Eu venho do teatro, aconteceu como surpresa, mas agora poder atuar numa série numa emissora que tem tanto alcance foi uma surpresa maior ainda. Eu estou muito feliz por estar fazendo esse papel e por sentir que isso vai ser importante para tantas outras pessoas, não só pessoas trans e travestis, mas porque esse é um tema importante de ser discutido por todas as pessoas, estou muito feliz da minha mãe ter acesso a uma discussão dessa dimensão e de tantas outras pessoas agora se ver representadas e apresentadas, eu espero poder fazer isso dignamente“, disse.

Linn da Quebrada está no elenco de Segunda Chamada
Linn da Quebrada está no elenco de Segunda Chamada (Reprodução).

Questionada sobre o resultado final da série, da Quebrada salienta emoção em ver um produto de extrema relevância contextual no ar, além de servir para debates e proporcionar a inclusão e diversidade.

“É uma mega surpresa para mim porque tem muitas coisas que foram gravadas que a gente não viu que dão essa complexidade também ao tema da educação, não só relacionado a sexualidade de gênero, mas a tantos corpos diversos, tantas histórias complexas e contraditórias que eu acho que vai ser sucesso“, conta ela, que viverá Natasha, transexual que trava uma batalha contra a intolerância e a discriminação dos colegas.

Linn da Quebrada (Divulgação: TV Globo)
Linn da Quebrada (Divulgação: TV Globo)

Na fictícia Escola Estadual Carolina Maria de Jesus se desdobram rotinas particulares e dramas individuais, sem perder a garra e a imensa força de vontade que os move em direção aos seus objetivos. A artista faz uma reflexão sobre a produção sair do âmbito artístico e se tornar um grito, um alerta para as deficiências do ensino público no Brasil.

Eu me pergunto sobre isso principalmente porque eu acho que nós temos que também nos perguntar sobre o que é a arte e quais são os seus papéis? Algumas dizem que a arte é reflexo da sociedade, eu prefiro até pensar que a arte ela além de reproduzir o nosso sistema e a atualidade ela também produz o presente.

Segunda Chamada é uma coprodução da Globo com a O2 Filmes, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini (Divulgação: TV Globo)
Segunda Chamada é uma coprodução da Globo com a O2 Filmes, escrita por Carla Faour e Julia Spadaccini (Divulgação: TV Globo)

“Eu acho que essa série serve também para inspirar e mover porque é uma série extremamente atual que aborda assuntos que nos aproximam, porque a maioria das coisas que a gente vê de uma certa forma, pelo menos eu e tantas outras como eu que não se veem representadas, não se vê naquilo que está ali, essa é uma série que eu acredito que você que está assistindo e tem as experiências mais comuns e essas que merecem ser retratadas”.

“Ela fala de você, sobre mim e sobre nós, e como nós podemos desatar esses problemas para viver inclusive outras questões e abordar outros temas porque eu mesmo, enquanto travesti, acredito que posso falar sobre inúmeras outras coisas, não preciso estar cercada para falar da minha experiência apenas como se fosse de violência. Minha experiência enquanto travesti é de conquistas, vitórias e é isso que eu quero que essa série e que tantas outras possam retratar“.

Escola Estadual Carolina Maria de Jesus, cenário da série Segunda Chamada (Divulgação: TV Globo)

Sobre quem foi Linn da Quebrada na escola, ela explica que a Linn da Quebrada na escola ainda nem existia, já que na época estava vivendo sua transição. “Mas acredito que alguma coisa da Linn da Quebrada já existia naquele momento e passou pela escola como momento de muita pressão, de algumas violências, passou por algumas, por momentos de muito medo e essas coisas”.

“A escola não foi um ambiente receptivo à minha presença, e eu espero que a escola possa ser receptiva e menos hostil não só com pessoas trans, mas também a tantas pessoas pretas que possam ver na escola realmente um lugar onde você acredita, porque eu acredito na educação. Eu acho que é um lugar que é importante, que a gente invista materialmente. É significativo até a gente pensar que hoje há poucas pessoas querendo ingressar na profissão da educação como professores”.

Linn da Quebrada vive Natasha na série Segunda Chamada (Divulgação: TV Globo)
Linn da Quebrada vive Natasha na série Segunda Chamada (Divulgação: TV Globo)

“Ao mesmo tempo nós temos tantas pessoas querendo ser influencers, youtubers, querendo também fazer muito pelo presente, mas eu acredito que a educação também seja um dos principais espaços onde a gente deva investir, seja em qualquer das áreas, mas querer investir para que tenhamos professores com salários dignos e com empregos minimamente saudáveis para todo mundo“.

Linn abraçou música, e, com toda sua versatilidade, também alcançou lugares que lhe proporcionaram projeção internacional. Junto com a Jup do Bairro comandou o programa TransMissão no Canal Brasil; no cinema com o filme Sequestro Relâmpago e no documentário Bixa Travesty, sendo esta, uma obra selecionada para a Mostra Panorama do Festival de Berlim 2018, sucesso de critica.

A música foi extremamente significativa para mim, principalmente quando eu invadi o espaço, o funk foi um espaço onde eu pude imprimir a minha história, inventar novas histórias, inventar um presente e pensar na música enquanto arma apontada para minha própria cabeça para mudar e transformar o meu próprio pensamento, as minhas ações, a música está presente no cotidiano de quase todas as pessoas de alguma forma, de diferentes meios e eu acredito que elas sejam quase como um feitiço, uma maneira da gente pensar, sentir outras coisas, conectar e também de alguma forma nos formar enquanto grupo“, explicou.

Confira o videoclipe de Necomancia, em parceria com Gloria Groove:

Eu tenho inúmeras referências, desde eu mesma, sou a minha própria referência, Liniker, As Bahias, Majur, Pabllo Vittar, Emicida, Racionais… eu acho que tem muitas pessoas, é uma gama imensa que me representa e acabam se alternando porque hoje em dia nós temos muita coisa nova acontecendo. Tem Caetano também, Gal, Maria Bethânia, tantas outras pessoas que vem construindo a música já a tanto tempo, e acho que música é justamente falar sobre isso, sobre o presente, construir um presente, destruir um presente para construir um novo futuro, eu acho que é uma experiência coletiva, e por isso que é tão importante que a gente consiga construir coletivamente não só uma experiência, mas experiências múltiplas que nos representem de alguma forma

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