Os 15 anos de Senhora do Destino são o tema do #TBTdaTelevisão

Publicado em 27/06/2019

Há 15 anos, em 28 de junho de 2004, a Rede Globo lançou em seu horário nobre um dos maiores sucessos da emissora e o maior dos anos 2000: Senhora do Destino. A novela de Aguinaldo Silva com direção-geral de Wolf Maya foi a mais vista da faixa das 21h de 2001 a 2010. Sua média de audiência ficou em 50,4 pontos. O que hoje equivaleria a cerca de 35, em virtude de mudanças na aferição que ocorrem de tempos em tempos. Com efeito, uma marca bastante significativa, relembrada no #TBTdaTelevisão desta semana.

A história de Senhora do Destino

A história da novela tem início em 1968. Maria do Carmo Ferreira da Silva (Carolina Dieckmann) cria seus cinco filhos em Belém de São Francisco, interior de Pernambuco. O marido Josivaldo (Manoel Candeias) partiu para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições e com a promessa de buscar a família quando tudo se arranjasse. Disposta a encontrá-lo, Maria do Carmo decide partir para lá com as crianças, incluindo a menor, Lindalva, bebê de colo. Os outros quatro filhos são todos meninos: Reginaldo (Miguel Rômulo), Viriato (Michel Max), Leandro (Ramon Motta) e Plínio (Cássio Ramos).

Após uma longa e exaustiva viagem de ônibus, Maria do Carmo e os filhos desembarcam num Rio de Janeiro convulsionado pelos acontecimentos políticos. É 13 de dezembro de 1968 e o governo militar promulga o Ato Institucional Nº 5, que restringe as liberdades individuais e torna crime qualquer ato que possa ser tomado por subversivo ou contrário à ordem estabelecida. Ela se desencontra do irmão, Sebastião (Luiz Carlos Vasconcelos), que se atrasa para encontrá-la na rodoviária em virtude de estar encarregado de um serviço por sua patroa, a empresária de comunicação Josefa de Medeiros Duarte Pinto (Marília Gabriela).

O trauma que atinge a família Ferreira da Silva

Sem saber como encontrar o irmão e o que fazer enquanto isso não ocorre, Maria do Carmo cai na lábia de Nazaré (Adriana Esteves). Fingindo ser enfermeira e dando o nome de Lourdes, ela ganha a confiança da família Ferreira da Silva. Tudo para na primeira oportunidade poder ganhar o mundo levando Lindalva consigo. Ela precisa de uma criança para enganar o amante José Carlos (Tarcísio Filho), e assim fazê-lo casar-se com ela. Objetivo atingido, Lindalva passa a ter o nome de Isabel. Enquanto isso, Maria do Carmo inicia uma busca frenética pela filha, que jamais desiste de querer encontrar. Leandro, que se culpa pelo sequestro da irmã, uma vez que foi de seus braços que Nazaré a levara, é quem mais sofre de todos os filhos.

Quando enfim encontra Sebastião e é ajudada por ele, Maria do Carmo se instala numa região periférica distante do Centro da cidade, onde alguns lotes já começam a abrigar construções rudimentares erguidas pelos próprios donos. Ela vê nisso um meio de vida e abre uma loja de materiais de construção, uma vez que clientes na região não lhe faltariam por bom tempo. Nasce assim a Vila São Miguel, na Baixada Fluminense.

Anos depois

Cerca de 20 anos depois, reencontramos Maria do Carmo (Susana Vieira) bem de vida, respeitada e querida por toda a comunidade e com os filhos criados. Ela segue pensando em Lindalva. Em sua casa há um quarto montado, pronto para quando a filha aparecer. Do Carmo nunca encontrou o marido, e vive um romance com Dirceu de Castro (José Mayer), cujos pedidos de casamento ela sempre recusa.

Outro pretendente de Maria do Carmo é Giovanni Improtta (José Wilker). Ex-bicheiro, envolvido em negócios escusos, ele agora “não deve nada à polícia, nem ao fisco” e atua como empresário dentro da lei. No entanto, seus hábitos e amizades remetem o tempo todo à antiga vida de contravenção. Viúvo há muitos anos, ele criou os filhos João Manoel (Heitor Martinez) e Jennifer (Bárbara Borges) com a ajuda da sogra, Flaviana (Yoná Magalhães). Os dois vivem às turras, trocando ironias nem sempre finas. Flaviana desconfia de que a morte da filha tem dedo do genro. Mas no fundo se gostam muito e não vivem um sem o outro.

Os filhos da Senhora do Destino

Reginaldo (Eduardo Moscovis) sempre quis o melhor da vida sem muito esforço. De tal forma que, assim que pôde, ele se envolveu com a política. Ele é no começo da segunda fase vereador, representante da Vila São Miguel na Câmara. Seu objetivo: emancipar a região e tornar-se o primeiro prefeito do novo município. Um degrau a mais em sua escalada rumo à presidência da República. A assessora e amante Viviane (Letícia Spiller) é sua maior cúmplice de trapaças.

Leila (Maria Luiza Mendonça), a infeliz esposa, morre ao flagrá-lo com a outra num motel. Os filhos Bruno (Thadeu Matos) e Bianca (Marcela Barrozo) passam a contar com a avó para suprir a ausência de ambos os pais. Sim, já que Reginaldo só pensa em politicagens e maracutaias. De tal forma que ele não hesita em tentar se aproveitar da popularidade e respeitabilidade da mãe para ganhar votos. Só que Do Carmo rechaça seu mau-caráter. E repele aproximações que a façam perder o carinho do povo. Bem como detesta Viviane, sendo verdadeira a recíproca.

Viriato (Marcello Antony) trabalha como sommelier num restaurante francês, o Monsieur Vatel, cujo proprietário é Edgard (Dan Stulbach). Nenhum dos dois sabe disso, mas a avó de Edgard era a Madame Bertha Legrand (Tonia Carrero). A cafetina para quem Nazaré/Lourdes trabalhava quando se envolveu com José Carlos. A vida de Viriato se transforma quando ele conhece a rica jovem Maria Eduarda (Débora Falabella). Ou Duda, como todos a chamam. Os dois se apaixonam perdidamente e, devido à diferença de classe social, enfrentam grande oposição dos pais da moça, Leonardo (Wolf Maya) e Gisela (Ângela Vieira).

Infelicidade conjugal e inconsequência

Leandro (Leonardo Vieira) trabalha como contador de confiança de Giovanni. Ele vive um casamento no qual só existe amor de sua parte. A saber, sua esposa Nalva (Tânia Khalil), destaque de escola de samba, muito bonita, é apaixonada por Viriato. Plínio (Dado Dolabella), o caçula dos rapazes, não quer nada com nada da vida. Dorme até tarde, é mimado pelas empregadas Clementina (Mirian Pires) e Cícera (Stela Freitas) e tem a inconsequência como princípio de vida.

Nazaré: uma vilã de desenho animado que marcou os telespectadores

O próprio autor Aguinaldo Silva definiu Nazaré Tedesco como uma vilã típica dos desenhos animados. De tal forma que Senhora do Destino apresentou-a em diversas situações nas quais seus planos não davam certo, o que provocava novos problemas. Só para ilustrar, como quando ela transa com Paulo Henrique (Delano Avelar), que poderia eventualmente favorecê-la em questões relativas à herança de José Carlos. Ele pouco se importa com os pedidos dela. Apenas se aproveita da situação, sem se comprometer nem arriscar seu emprego por alguns minutos de volúpia. Ou na vez em que Nazaré acaba apanhando de Maria do Carmo, quando marca um encontro com ela fingindo ser irmã da sequestradora de Lindalva e pedindo dinheiro em troca de informações sobre a jovem.

Confused lady, meme de sucesso mundial

Nesses 15 anos, até meme que se espalhou pelo mundo inteiro Nazaré virou. Como se não bastassem as expressões que a personagem usava e são repetidas até hoje, a exemplo de “anta nordestina”, “flageladinhos”, “gostosa pra dedéu” e “raposa felpuda”, as duas últimas em referência a ela mesma. Com uma edição que inseriu equações matemáticas junto ao rosto de Renata Sorrah em cena como Nazaré, a confused lady rodou o mundo através da rede.

Além disso, qualquer possibilidade de personagem atirado escada abaixo, concretizada ou não, já traz à lembrança a “escada da Nazaré”, cuja principal e primeira vítima foi justamente o marido dela. José Carlos é morto pela mulher ao ser empurrado do alto da escada e ter negado um remédio que o ajudaria a pelo menos suportar até que um eventual socorro chegasse. Pouco antes ele havia assistido a um programa jornalístico que contou o “Caso Lindalva” e mostrou uma imagem da sequestradora manipulada por computador, com uma aproximação de suas feições tanto tempo depois do crime. Foi o rosto de Nazaré que José Carlos viu na tela do televisor, claro, e em virtude disso decidiu denunciá-la.

Barão de Bonsucesso e seu núcleo: um dos grandes destaques de Senhora do Destino

Afora a trama principal de Senhora do Destino, um núcleo que teve bastante força e foi querido pelos espectadores foi o do Barão de Bonsucesso. Pedro Corrêa de Andrade e Couto (Raul Cortez) já foi muito rico, mas sua vida de dissipação o levou a chegar à velhice sem a fortuna do passado. Sem perder a pose, ele vive com a esposa Laura (Glória Menezes) apenas com uma mesada paga por seu único filho, Leonardo.

Após uma tentativa de trabalhar no gabinete do deputado Thomas Jefferson (Mário Frias), amigo da família e pretendente de sua neta, o Barão acaba por se encontrar ao obter o emprego de personal stylist de ninguém menos que Giovanni Improtta. Com efeito, a união do ex-bicheiro e contraventor com o refinado e culto barão e sua simpática e algo aérea esposa foi uma das melhores sacadas da novela.

No decorrer de Senhora do Destino, Raul Cortez teve de se ausentar das gravações devido a problemas de saúde. Glória Menezes passou a liderar o núcleo sozinha, enquanto se desenvolvia a trama do acometimento de Dona Laura pelo mal de Alzheimer. O Barão era citado e os personagens conversavam com ele pelo telefone, enquanto se resolvia se Raul poderia ou não voltar à novela. Como o ator não poderia seguir a rotina de gravações devido aos cuidados médicos que inspirava, Pedro e Laura deixaram a novela cerca de um mês antes do último capítulo. Os dois partiram num cruzeiro, ainda que ela estivesse cada vez mais comprometida pela doença. Raul Cortez faleceu em 2006 e, depois da novela, fez apenas uma breve participação na minissérie JK, no papel do político mineiro Antônio Carlos.

Curiosidades sobre o elenco de Senhora do Destino

Dinastia e A Dona do Destino foram dois títulos provisórios pensados para a novela antes que valesse definitivamente Senhora do Destino. Inicialmente, Regina Duarte seria Maria do Carmo e Susana Vieira ficaria com o papel de Nazaré. Mas Regina desejava ter a filha Gabriela Duarte ao lado na novela, como Lindalva/Isabel, a filha perdida. Susana mudou de personagem, Renata Sorrah foi convidada para o papel da vilã e Carolina Dieckmann escalada para viver Do Carmo jovem e, posteriormente, a filha.

As novelas começam a ter definições de diversos detalhes quando ainda falta um tempo considerável para a estreia. É o que se convenciona chamar de pré-produção, até que se iniciem as gravações e o primeiro capítulo enfim seja exibido. Nesse ínterim, costumam ocorrer diversas alterações de elenco entre os nomes desejados, os que aceitam os papéis que lhes são destinados e os que efetivamente entram para o projeto naquilo que vale para exibição. No entanto, Senhora do Destino é uma das novelas com mais exemplos que podem ser citados nesse sentido.

Diversas alterações de elenco entre pretendidos e confirmados

Além dos casos envolvendo diretamente as protagonistas, Senhora do Destino também deixou de contar com Fernanda Montenegro no papel de Dona Laura, a Baronesa de Bonsucesso, que ficou com Glória Menezes. Para viver o Barão, pensou-se em Jorge Dória, mas quem vimos em cena foi Raul Cortez. Curiosamente, os mesmos dois atores dividiram o personagem Herbert Alvaray em Brega & Chique (1987), de Cassiano Gabus Mendes. Na primeira fase, Beatriz Segall foi convidada para viver a Madame Berthe antes de Tonia Carrero.

Victor Fasano seria Leonardo, filho do Barão e pai de Duda, mas o personagem acabou ficando com o diretor Wolf Maya. Ainda, Ana Paula Arósio foi um nome pensado de início para o papel da moça rica que se apaixona pelo sommelier suburbano. Antes de Tânia Khalil ser escalada para viver Nalva, uma das noras de Do Carmo, a imprensa noticiou que Sheila Carvalho era um nome cogitado para o papel. Além disso, as atrizes Maria Maya e Carol Castro trocaram de personagens entre si: a primeira seria Angélica, suposta Lindalva, enquanto a segunda interpretaria Regininha, filha de Sebastião e Janice (Mara Manzan).

Anteriormente, em Tieta (1989/90), o autor Aguinaldo Silva também fez uma referência ao dia da promulgação do Ato Institucional Nº 5 com conotação negativa. Foi nesse dia que a protagonista (Cláudia Ohana) foi expulsa de Santana do Agreste pelo pai, Zé Esteves (Sebastião Vasconcelos); 13 de dezembro de 1968. Ao chegar em casa depois de escorraçar a jovem, o velho arranca a página da folhinha correspondente àquele dia e diz: “Faz de conta que esse dia nunca existiu”.

As reprises: até aqui, duas

Reprise bombou na audiência (Divulgação/TV Globo)
Reprise bombou na audiência DivulgaçãoTV Globo

Senhora do Destino está completando 15 anos e, nesse ínterim, já foi resgatada pela Globo em duas ocasiões para exibição no Vale a Pena Ver de Novo. Em 2009, a novela foi condensada em 123 capítulos, exibidos de março a agosto. Embora fizesse sucesso, a reprise foi curta (pouco mais da metade da duração original) em virtude de problemas com as normas de classificação indicativa dos conteúdos, que deveriam seguir diretrizes de adequação ao horário de exibição.

Ademais, uma nova reapresentação da história foi feita pela emissora em 2017, e durou quase o ano todo. Transmitidos de março a dezembro, os 195 capítulos dessa reprise de Senhora do Destino tornaram-na a mais longa do Vale a Pena Ver de Novo desde sua criação, em 1980. Com efeito, foi uma consequência do grande sucesso de audiência atingido pela produção, cujo repeteco no final da tarde alavancava a grade noturna.

Com toda a certeza, considerado o carinho de boa parcela do público pela novela e sua eficácia comprovada em três ocasiões até agora, Senhora do Destino será novamente reprisada num futuro próximo. Se não pela Globo, pelo Canal Viva.

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