Da Cor do Pecado

O #TBTdaTelevisão relembra Da Cor do Pecado, que terminava há 15 anos

Maior sucesso das 19h nos anos 2000 terminou há 15 anos

Publicado em 29/08/2019

Há 15 anos, em 27 de agosto de 2004, a Rede Globo levava ao ar o 185º e último dos capítulos da novela Da Cor do Pecado, de João Emanuel Carneiro. Maior sucesso do horário das 19h em toda a década de 2000 e estreia do autor como titular no gênero, a história é o tema do nosso #TBTdaTelevisão nesta semana.

Os antecedentes de Da Cor do Pecado

João Emanuel Carneiro atuava como roteirista de cinema quando ingressou na televisão. Central do Brasil (1997), de Walter Salles, A Partilha (1998), de Daniel Filho, e Cronicamente Inviável (2000), de Sérgio Bianchi, foram alguns dos filmes que contaram com seu trabalho nos roteiros. Ele também escreveu as minisséries A Muralha (2000) e Os Maias (2001) com Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, e estreou em novelas na equipe de Euclydes Marinho em Desejos de Mulher (2002). Todavia, João Emanuel desejava ser autor titular e ter controle da história a ser contada, em que pese seu reconhecimento da importância da função que ocupara, de colaborador. Assim, ele apresentou à Rede Globo uma sinopse de novela intitulada Chocolate.

Na época, 2003, João Emanuel Carneiro estava reservado pela emissora para integrar a equipe que escreveria Celebridade (2003/04) com Gilberto Braga. Mas Silvio de Abreu, ao ler a sinopse de Chocolate, gostou dela a ponto de “bancá-la” ante a empresa e oferecer-se para supervisioná-la, caso fosse produzida. De tal forma que, com a aprovação do projeto, a história criada por João Emanuel ganhou a vaga de sucessora de Kubanacan (2003/04), de Carlos Lombardi, um dos “reis” do horário das 19h.

A história de Da Cor do Pecado

Em São Luís, Maranhão, a jovem Preta (Taís Araújo) ajuda a mãe, Lita (Solange Couto), na venda de ervas medicinais. Ela conhece o botânico Paco (Reynaldo Gianecchini), em visita à cidade, e os dois se apaixonam. Ele está em São Luís com a noiva Bárbara (Giovanna Antonelli), que não o ama e está interessada apenas em sua fortuna. Paco é filho e único herdeiro do empresário Afonso Lambertini (Lima Duarte). Ela mantém um relacionamento paralelo com o fotógrafo Caíque (Tuca Andrada), que a ama verdadeiramente, mas é apenas usado nas trapaças da amante. Paco e Preta se envolvem e os dois são separados por uma intriga da noiva pilantra, e pela mesma época ele descobre que é passado para trás por Bárbara com Caíque.

O rapaz volta ao Rio e Bárbara tenta fazer com que Afonso interne o filho numa clínica, par recuperar-se de um mal que não existe. Paco tenta fugir à internação num helicóptero e acaba levando Bárbara consigo. Mas após um acidente Paco é dado como morto, uma vez que seu corpo não é encontrado. Ele nem imagina que Preta espera um filho seu, já que caiu na armadilha da noiva.

A família Sardinha e a nova identidade de Paco

Paco vai parar na casa da família Sardinha, um clã de lutadores que acredita ser ele Apolo (também Reynaldo Gianecchini), o mais velho dos filhos de Edilásia Sardinha, a Mamuska (Rosi Campos). Apolo e o irmão Ulisses (Leonardo Brício) sofrem um acidente e Paco é encontrado no lugar do outro rapaz. Em sua juventude, Edilásia (Leona Cavalli) trabalhou como empregada na casa dos Lambertini e se envolveu com Afonso, cuja mulher não podia conceber. Uma gravidez surgida desse envolvimento gerou gêmeos, cada um criado por um dos progenitores sem que um irmão soubesse da existência do outro. O botânico enxerga nessa confusão uma chance de recomeçar sua vida longe de duas mulheres que ele crê terem-no enganado e do pai que sempre pensou mais em dinheiro do que na felicidade da família. De modo que assume a identidade de Apolo.

Um quê de HQ

Viúva de Napoleão (Jamil Hamdan), Edilásia teve com ele outros quatro filhos. Thor (Cauã Reymond), Dionísio (Pedro Neschling) e Abelardo (Caio Blat) são os outros irmãos de Apolo. Todos são tratados pela mãe como se fossem ainda crianças, num contraponto ao cotidiano de disputas violentas. Apenas Abelardo não se identifica com a tradição dos Sardinha, e seu desejo é ser maquiador e artista. Alvo dos preconceitos de todos, nem por isso ele deixa de despertar a atenção da bela Tina (Karina Bacchi), verdadeira “maria-tatame” que se relaciona com todos os irmãos. Através desse núcleo, que caiu no gosto do público infantojuvenil, o autor relembrava seu trabalho como roteirista de histórias em quadrinhos de Ziraldo, com uma linguagem próxima das HQs.

Uma dupla perigosa de olho na fortuna da família Lambertini

A história tem uma passagem de tempo de oito anos. Preta cria com a ajuda de Lita o filho que teve com Paco, Raí (Sérgio Malheiros). Um bom garoto, inteligente, solidário, carinhoso, que a moça decide apresentar à família do pai depois de anos escondendo a verdade sobre sua origem. O acontecimento crucial para que Preta tome essa decisão é a morte da mãe. De sua parte, “viúva” de Paco, Bárbara também deu à luz a um filho, Otávio (Felipe Latgé), cujo pai é Caíque. No entanto, já que ignora a verdade, Afonso paga a Bárbara uma pensão para que cuide do menino. Mesmo passados quase 10 anos desde a suposta morte de Paco, Bárbara ainda enxerga em Preta um obstáculo para seus planos de tomar conta do patrimônio de Afonso, já que Raí é mesmo neto do empresário, ao contrário de seu filho.

Um antigo desejo de vingança

O parceiro ideal para Bárbara em todas as tramoias para passar a perna em Afonso e tirar Preta do caminho aparece na figura de Tony (Guilherme Weber). Trata-se de uma figura misteriosa que logo ganha a confiança da Afonso, chegando à vice-presidência da empresa. No passado, o pai de Tony se suicidou após perder tudo em meio à ascensão vertiginosa de Afonso. Isso fez com que ele crescesse firme no objetivo de um dia de se vingar do homem que provocou a desgraça de sua família. Tony desenvolve com Bárbara uma relação obsessiva e destrutiva, uma vez que o que sente por ela é tudo, menos amor. Enquanto isso, Caíque se cansa de ser usado e se propõe a ter para si o filho Otávio. Ademais, ele também se envolve romanticamente com outra pessoa, Olívia (Liliana Castro).

Afonso Lambertini: de arrogante a carinhoso, graças ao neto negro

Prepotente e orgulhoso, Afonso não acredita que Raí seja filho de Paco e enxerga em Preta uma golpista. Mas a relação que se estabelece entre avô e neto, apesar da desconfiança inicial, se configura no elemento dramático mais bonito da história. A pureza de Raí opera em Afonso uma grande transformação, iniciada com a perda de Paco. A humanização do personagem não seria tão verdadeira sem esse neto, que significa para o velho milionário uma espécie de nova chance. Para Raí ele pode ser um bom avô, não tendo sido um bom pai para Paco, apesar de amá-lo muito. Além disso, outra personagem importante na “melhora” de Paco é Germana (Aracy Balabanian), a governanta apaixonada por ele, que ajudou-o a educar o filho após a morte da esposa.

Paco ressurge, mas como Apolo

Enquanto isso, Paco se reaproxima da família e de Preta, passando-se por Apolo. Inclusive, ele retoma seu relacionamento com a moça, apesar de não se assumir de início. Descoberta a farsa, ela se magoa uma vez mais, porém tudo acaba perdoado posteriormente. Quem perde com isso é Felipe (Rocco Pitanga), com quem Preta havia se envolvido antes de reencontrar Paco. Felipe é filho de Ítalo (Jorge Coutinho), motorista de Afonso, e da cabeleireira Laura (Maria Rosa), e trabalha nas empresas de Afonso.

O humor em Da Cor do Pecado: Pai Helinho e o casal Eduardo e Verinha

Além das situações da família Sardinha, outros núcleos de Da Cor do Pecado fizeram sucesso com o público em virtude de seus entrechos cômicos. O Pai Helinho (Matheus Nachtergaele) era o melhor amigo de Preta em São Luís, e vivia de enganar os clientes que o procuravam em busca de alento espiritual. Por vezes ele até tirava “casquinha” das viúvas que iam à sua casa tentar contato com os maridos já falecidos. Com uma delas, Tancinha (Vanessa Gerbelli), Helinho se envolveu, e começou a incorporar de verdade o espírito do falecido marido dela, Roberval (Rodrigo Hilbert). Devido a essa situação, ele foi buscar a ajuda do Pai Gaudêncio (Francisco Cuoco), que surgiu no decorrer da novela. Com efeito, o novo personagem compôs com Helinho e seu assistente Cesinha (Arlindo Lopes) diversas passagens engraçadas da novela.

Falidos e mal pagos

No Rio de Janeiro, o casal falido Eduardo (Ney Latorraca) e Verinha (Maitê Proença) também rendeu risadas. Eles foram casados por anos e tiveram uma filha, Bárbara. No entanto, acabaram se separando após o patrimônio ser dilapidado numa vida de dissipação. Obrigados a dividir o apartamento, único bem que sobrou depois que os credores se apossaram do que puderam para cobrir as dívidas, Eduardo e Verinha aplicam golpes nos incautos. Ademais, a certa altura da novela junta-se a eles Becky (Graziella Moretto).

Sucesso de vendas para outros países, a novela já foi exibida três vezes no Brasil

Com 45 pontos de média geral de audiência, Da Cor do Pecado já foi reapresentada duas vezes pela Globo no Vale a Pena Ver de Novo. A saber, a primeira foi em 2007 e a segunda, em 2012. Este, aliás, foi um ano inusual para a sessão de reprises, todo ele ocupado por histórias que já haviam sido reprisadas em outras ocasiões. Só para ilustrar, Mulheres de Areia, Chocolate Com Pimenta e a própria Da Cor do Pecado. As duas últimas, inclusive, figuraram no Vale a Pena Ver de Novo poucos anos antes. Além disso, eram bastante recentes, especialmente diante da própria Mulheres de Areia, de 1993. Dificuldades de liberação de conteúdo cuja adequação para a faixa de programação livre não descaracterizasse a obra, bem como tentativas de investir mais vezes numa mesma produção em pouco tempo, a exemplo da concorrência, podem ser apontadas como hipóteses plausíveis para aquele momento.

Atualmente, Da Cor do Pecado é a vice-campeã de vendas internacionais entre as novelas da Globo. Foi por alguns anos a campeã, mas perdeu o posto para outra novela de João Emanuel Carneiro: Avenida Brasil (2012). No entanto, ambas já passaram da marca de 100 países. Junto com elas nas primeiras posições, só para exemplificar, estão O Clone (2001/02) e Escrava Isaura (1976/77).

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