Assim como Cristianne Fridman com Topíssima e Jezabel, o #TBTdaTelevisão relembra outras ocasiões nas quais novelistas tiveram dois trabalhos inéditos no ar ao mesmo tempo

Publicado em 20/06/2019

As duas novelas inéditas da Record TV hoje são de autoria da mesma profissional: Cristianne Fridman. Tanto Topíssima (19h45min) quanto Jezabel (20h45min) são criações por ela, que assinou também Chamas da Vida (2008/09) e Vitória (2014/15), entre outras, na emissora. No entanto, ter duas obras inéditas no ar ao mesmo tempo não é privilégio de Cristianne Fridman. Anteriormente, outras profissionais da dramaturgia viveram a mesma situação. Vamos relembrar quais no #TBTdaTelevisão desta semana.

Ivani Ribeiro: anos antes de Cristianne Fridman, o primeiro exemplo de autora com duas obras inéditas no ar ao mesmo tempo

Ivani Ribeiro, autora de novelas para rádio e televisão, falecida em 1995 (Divulgação)

Nos primórdios da telenovela diária, nos anos 1960, os autores eram contratados não das emissoras de televisão, mas de agências de publicidade. Estas se valiam das novelas para promover os produtos de seus clientes. De tal forma que na época os horários dedicados ao gênero tinham nomes como “Novela Colgate”. Egressa do rádio, Ivani Ribeiro foi contratada da Colgate-Palmolive. E desenvolveu para a empresa diversas novelas, exibidas pelas TVs Tupi e Excelsior.

Alma Cigana (1964) foi adaptada por Ivani de um original de Manuel Muñoz Ricco. Inaugurou tanto a telenovela diária quanto o horário das 20h para o gênero na Tupi. Era a história de uma freira, a Irmã Estela (Ana Rosa), que à noite mudava completamente. Podia ser vista dançando, esfuziante, conhecida entre os ciganos como Esmeralda. Seriam duas pessoas diferentes, ou era um caso de dupla personalidade? Ao mesmo tempo que Alma Cigana estava no ar, Ivani tinha em cartaz na TV Excelsior às 19h a novela Ambição. Só para ilustrar, o romance de Guida (Lolita Rodrigues) e Miguel (Tarcísio Meira), alvo da inveja da irmã da jovem, Belinha (Arlete Montenegro), foi uma das primeiras grandes mostras do poder de penetração do gênero. A gravação do casamento do par central juntou tanta gente que objetos e móveis foram danificados.

Nova rodada de Ivani Ribeiro entre os novelistas duas novelas inéditas no ar ao mesmo tempo

Na época, as novelas eram bem mais curtas do que hoje, duravam de dois a três meses. De tal maneira que, ainda em 1964, tanto Alma Cigana quanto Ambição terminaram. A TV Tupi escalou para as 20h A Gata, outro original de Muñoz Ricco. Ao passo que a Excelsior substituiu o par Lolita/Tarcísio às 19h por Rosamaria Murtinho e Hélio Souto em A Moça que Veio de Longe, de Abel Santa Cruz. As duas adaptações foram feitas por Ivani Ribeiro, que não era funcionária de nenhuma das duas emissoras.

A Gata se passava nas Antilhas do começo do século 19. A personagem-título era vivida pela modelo Marisa Woodward; Adriana, apelidada de “Gata”. Dona de uma fazenda cuja irmã, Mercedes (Rita Cleós), acabou assumindo o posto de protagonista. O fato ocorreu em virtude da inexperiência da colega. Já A Moça que Veio de Longe era Maria Aparecida (Rosamaria). Uma humilde empregada doméstica que conquista o coração de Raul (Hélio), filho dos patrões.

Janete Clair: “Nossa Senhora das Oito” também está com Cristianne Fridman na lista dos autores em dose dupla de inéditas

Janete Clair
Janete Clair (Divulgação)

No começo de 1969, a “Maga das Oito” Janete Clair chegou a desenvolver não apenas duas, como também uma terceira novela em simultaneidade. Os capítulos finais de Passo dos Ventos (1968/69), exibida às 19h pela Rede Globo, foram escritos ao mesmo tempo que os primeiros de Rosa Rebelde. Atração que estrearia dali a pouco, às 20h, em substituição a A Gata de Vison (1968/69), de Glória Magadan. Além disso, Janete Clair escreveu na mesma época Os Acorrentados, novela exibida pela TV Rio. Na ocasião, a saber, a novelista fez o trabalho às escondidas, para ajudar o amigo Daniel Filho. O diretor havia saído da Globo por um período breve e logo voltou à emissora de Roberto Marinho. Nesse ínterim, poucos meses, Daniel conduziu o projeto da novela, protagonizada por Leila Diniz e Leonardo Villar. E que contou com duas jovens futuras estrelas do gênero telenovela: Betty Faria e Dina Sfat.

Aguinaldo Silva: “colega” de Cristianne Fridman entre os autores com dose dupla de inéditas na TV

Aguinaldo Silva autor de O Sétimo Guardião
Aguinaldo Silva, autor de O Sétimo Guardião (Reprodução/TV Globo)

Ao deixar a autoria de Partido Alto (1984), novela na qual tanto Glória Perez quanto ele estrearam como titulares no gênero, Aguinaldo Silva dedicou-se à adaptação do romance Tenda dos Milagres. A obra de Jorge Amado foi transposta para o formato de minissérie. Posteriormente, ele foi escolhido por Dias Gomes para desenvolver Roque Santeiro. A npvela enfim ganharia a tela 10 anos depois de censurada. Nesse ínterim, Tenda dos Milagres foi escolhida para ocupar a grade da Rede Globo em meio à celebração dos 20 anos da emissora. Por isso, a minissérie foi ao ar ao mesmo tempo em que Aguinaldo também estava no ar com Roque Santeiro.

Dias Gomes

O dramaturgo e autor de novelas Dias Gomes, falecido em 1999 (Reprodução/TV Brasil)

Outro caso envolvendo Dias Gomes ocorreu em 1988. Após algumas tentativas frustradas pela Censura, o dramaturgo pôde enfim ver adaptado para a televisão seu êxito O Pagador de Promessas, sucesso internacional nos palcos e no cinema. Escrita e gravada em 1987, a minissérie baseada no texto teatral só foi exibida em abril de 1988, quando a novela das 20h da Rede Globo era Mandala, concebida por Dias e desenvolvida por ele e por Marcílio Moraes.

Gilberto Braga

Gilberto Braga (Divulgação)
Gilberto Braga (Divulgação)

Gilberto Braga adaptou com Leonor Bassères o romance O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, que com toda a certeza é um dos grandes títulos do cânone da língua portuguesa. Dirigida por Daniel Filho, a minissérie feita a partir da obra de Eça foi exibida em junho de 1988, quando Gilberto e Leonor, junto com Aguinaldo Silva, já estavam no ar com uma novela das 20h, Vale Tudo.

Silvio de Abreu

Silvio de Abreu dramaturgia Globo
Silvio de Abreu (Divulgação)

Após concluir a novela Sassaricando, em junho de 1988, Silvio de Abreu tirou um período de férias e embarcou de cabeça no projeto de sua primeira minissérie. Inicialmente intitulada A Farsa, a história foi concebida e escrita em 1989. Quando o projeto foi produzido e exibido, já rebatizado como Boca do Lixo, Silvio estava no ar com uma nova novela, Rainha da Sucata, que marcou sua estreia como autor do horário nobre. Mais um caso semelhante ao de Cristianne Fridman, com duas obras inéditas exibidas simultaneamente. No caso, uma escrita e gravada antes e a outra, em processo tradicional, exibida enquanto escrita e gravada.

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