PIQUETE À VISTA

Operários de Hollywood votam a favor de greve; e agora?

Votação promovida pela entidade mostra que 98,7% dos filiados aceitam a paralisação

Publicado em 04/10/2021

O sindicato dos operários de Hollywood, o Iatse (Aliança Internacional de Funcionários de Palcos Teatrais), anunciou nesta segunda-feira (4) que 98,7% dos filiados votaram a favor de uma greve em Hollywood, todos eles envolvidos diretamente com o impasse atual. Porém, isso não significa que os trabalhos na indústria de entretenimento americana vão parar imediatamente.

Essa votação começou na última sexta (1º) e terminou domingo. A consulta serviu para os diretores do sindicato saberem qual a posição dos integrantes da entidade. Dos quase 60 mil trabalhadores qualificados ao voto, 90% compareceram às urnas.

Com a autorização quase unânime, os executivos estão livres para decretar uma greve oficial caso não haja acordo com os patrões, no caso os estúdios e produtoras de Hollywood, representados pela AMPTP (Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas).

O Iatse consiste de várias divisões que reúnem os mais diferentes profissionais do entretenimento como operadores de câmera, figurinistas, maquiadores, carpinteiros e tantos outros.

Ao longo da história já houve pequenas paralisações pontuais e localizadas. A atual possível greve seria a primeira de grande porte (atingindo os Estados Unidos e Canadá) desde a fundação do Iatse, há 128 anos.

Próximos passos

Com essa autorização de decretar greve, o sindicato dos operários vai retomar as conversas com os patrões com muita vantagem. A AMPTP ficou sabendo do resultado da votação imediatamente, informada pelo presidente internacional do sindicato, Matthew Loeb. Uma nova rodada de negociações foi marcada para terça-feira (5).

Loeb ganhou a permissão de mandar cerca de 60 mil operários cruzarem os braços, trabalhadores filiados às divisões do Iatse que estão representadas na mesa das negociações. A greve iria parar a produção de inúmeras séries de streamings e da TV aberta americana.

Atrações de canais pagos como Showtime, Starz e HBO passariam ilesas. Isso porque essas empresas fazem parte de um outro contrato, cuja a vigência termina só em dezembro do ano que vem.

Entenda o caso

O acordo em questão venceu no dia 31 de julho deste ano. Desde então, conversas foram feitas para chegar a uma resolução. Em 10 de setembro venceu a data limite estipulada para assinar um novo trato. Os trabalhadores estão orientados a seguirem batendo o cartão até uma segunda ordem.

As demandas do sindicato são bem pontuais como aumento de salário, reajustes de benefícios (plano de saúde, por exemplo) e oferecer maior tempo de descanso aos operários (“não nos tratem como máquinas“, diz um documento do Iatse). O maior entrave de todos é na relação com os streamings.

Cada vez mais, os estúdios (como Warner, Universal) criam as próprias plataformas para lucrar com a mina de ouro que é o streaming. O sindicato quer um retorno digno dessa fatia que as produtoras abocanham no mercado. Eis o que diz o Iatse sobre isso:

Nós ajudamos a criar a Nova Mídia [os streamings]. E nós merecemos ser recompensados por isso. E não se trata apenas das empresas estritamente do streaming, que estão entre as mais valiosas corporações do planeta, mas de redes e canais de TV, tal qual os estúdios, onde nossos filiados trabalharam duro para facilitar que todas elas se tornassem bem-sucedidas.

Integrantes do Iatse criaram uma página no Instagram para que os operários pudessem, anonimamente, compartilhar com o público sobre as dificuldades de se trabalhar em Hollywood. São relatos de um lado obscuro que as câmeras não mostram, como abuso moral e burnout, que chegam a levar a ideações suicidas.

Eu espero que os estúdios vejam isso [a aprovação pela greve] e procurem um meio de atender as demandas dos nossos filiados“, disse Matthew Loeb, em um comunicado. “Agora é com eles. Se eles querem evitar uma greve, basta retornarem à mesa de negociações e apresentarem uma proposta razoavelmente aceitável“.


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