ANÁLISE

This Is Us: o curioso caso da série cuja razão do sucesso é o choro do público

Drama chororô fenômeno chega ao fim nesta terça (24), nos EUA

Publicado em 24/05/2022

Quem recomenda This Is Us a uma pessoa próxima sempre faz algum alerta do tipo:se prepare, porque você vai chorar. O aviso é certeiro pois realmente não tem como escapar das lágrimas, não adianta. Nesta terça-feira (24), o drama chega ao fim nos Estados Unidos e entra para a história com a curiosa peculiaridade de ter feito sucesso à base do choro dos telespectadores; o episódio final entra no Star+ na quinta (26).

Geralmente, a recomendação de uma série vem acompanhada de observações triviais: “essa tem muita ação”, “aquela é para dar risada”This Is Us é a série do choro. Teve um tempo (terceira temporada) que predominou o pranto do desespero, pelo fato de exagerar em dramas ao colocar personagens no fundo do poço do desemprego e da depressão, por exemplo.

Mas na maioria das vezes, as lágrimas surgem de emoções genuínas, resultado de cenas de afeto, perda, amor, carinho…

Há seis anos, This Is Us nasceu com o desafio de revigorar a tradicional fórmula das séries familiares. Um dos truques foi sagaz: narrar a saga acompanhando a vida de múltiplas gerações de parentes, podendo assim abordar os mais variados temas, em épocas diferentes e com personagens bem distintos um do outro.

Melancolia foi algo muito presente, assim como a memória, ponto que dominou a parte final do enredo. Teve até uma dose de mistério sobre como o patriarca da família Pearson, Jack (Milo Ventimiglia), morreu. O destino dele ficou conhecido já no comecinho de This Is Us, porém a causa só foi revelada depois da metade da segunda temporada.

Contrabalanceando o choro

This Is Us conquistou tanta coisa, como quatro indicações ao Emmy de melhor drama e status de série mais vista da TV americana, pela qualidade fora do comum do roteiro. Tudo é muito bem contado e amarrado, deixando poucas pontas soltas. As adversidades e alegrias da vida convivem em harmonia nos episódios, fazendo com que o choro venha quando o público menos espera.

Por isso que a atração é especial. Mesmo a pessoa querendo segurar as lágrimas não dá. Os olhos brilham com as cenas. E a série tem isto: faz chorar ao olharmos no próprio espelho que é a tela pela qual estamos vendo os episódios. É a identificação do mundo real naquela trama fictícia.

O tal mistério de Jack ajudou a aliviar um pouco a choradeira, apresentando ao público quase uma investigação policial, desvendando pistas a cada episódio. Depois de resolver isso, This Is Us mergulhou em uma overdose de histórias tristes que extenuou o público. Quem contribuiu para isso encarnou a solução do problema.

Susan Kelechi Watson na série This Is Us
Susan Kelechi Watson na série This Is Us

Quando Beth (Susan Kelechi Watson) enfrentou o desemprego, questionou a vida e quase se separou de Randall (Sterling K. Brown), This Is Us fez morada no vale. Após a personagem voltar a ficar de pé e de cabeça erguida, a série passou a ter na instrutora de dança o alívio cômico necessário para refrigerar o drama.

Beth, então, se tornou uma personagem hilária e necessária. Por conviver com o clã desde a juventude adulta, ela conhece os Pearsons de olhos fechados. Da boca dela saem os comentários mais engraçados e irônicos contra a parentada. 

Essa guinada foi o sinal dado de que Beth já tinha chorado demais e era hora de um sossego. E a estratégia funcionou perfeitamente, ainda mais na última temporada, quando Beth foi comediante e detetive particular ao mesmo tempo. 

A expressão alívio cômico faz toda a justiça a Beth. Porque um sorriso é sempre bem-vindo, seja depois de um choro ou o antecedendo.

Semana após semana, os fãs de This Is Us usam as redes sociais para registrar que nunca choraram tanto acompanhando um episódio, até vim o próximo e dizerem a mesma coisa. Porém, agora não tem mais outro, é o último. Por isso cabe o recado: “se prepare, porque você vai chorar”. E torcer para Beth fazer uma piadinha sem graça, aliviando assim o clima. ⬩

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