ANÁLISE

Mesmo com pecados, série sobre Maradona tem lugar no altar do ídolo

Drama do Prime Video, Maradona: Conquista de Um Sonho é retrato cru da vida do craque argentino

Publicado em 25/11/2021

Há um ano, uma frase viralizou nas redes sociais para sintetizar Diego Maradona (1960-2020), que morreu naquele 25 de novembro: “o mais humano dos deuses“. Essa definição, criada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, resume perfeitamente o retrato pintado pela série Maradona: Conquista de Um Sonho, disponível no Prime Video.

A trama não esconde os deslizes do craque argentino enquanto mostra os feitos magistrais dele dentro das quatro linhas. Existe ali um casamento entre a paixão ensandecida dos fãs, a ponto de criarem uma religião para adorar Maradona, e os inúmeros pecados da pessoa civil, o que justifica o fato de ser “o mais humano dos deuses.

Eduardo Galeano (1940-2015) escreveu a sentença monumental no livro Espelhos – Uma História Quase Universal, obra focada na “humanidade sob a ótica dos desvalidos, dos esquecidos da história oficial“, como afirma a sinopse. Maradona ocupou um espaço especial nesse ensaio.

Como se fosse um roteirista da série Maradona: Conquista de Um Sonho, o escritor descreveu o eterno camisa 10 da Argentina com a precisão de quem esteve sentado na sala de roteiristas da produção da Amazon e propôs uma abordagem da narrativa.

Qualquer um podia reconhecer nele [Maradona] uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável“, resumiu Galeano.

Nazareno Casero na pele de Maradona e com a camisa do Barcelona
Nazareno Casero na pele de Maradona e com a camisa do Barcelona (Divulgação/Prime Video)

Maradona na conquista do sonho

A atração da Amazon não oculta os pecados da vida de Maradona. Mostra a iniciação no mundo das drogas; as traições à Claudia (Julieta Cardinali), a mulher dele; a negação de um filho; as atitudes raivosas, as mentiras… Tudo o que fora elencado pelo escritor uruguaio.

O curioso é que as falhas de caráter, combustível dos críticos, são necessárias para mitificar a imagem de Maradona. Pois, de uma maneira desvirtuada, isso cria uma conexão com o povão, até pelo fato de o jogador ser de origem humilde, um homem que à sua maneira mostrava uma lealdade à família.

Por onde passou, em clubes da Argentina, Espanha ou Itália, Maradona demonstrou um talento extraordinário com a bola nos pés, habilidade genial que invariavelmente rendeu comparações com Pelé, tido como o maior jogador de futebol de todos os tempos. 

Até hoje, há quem fique em cima do muro ou pula para o lado argentino nas conversas de botequim sobre quem foi o melhor entre os dois. Os mais diplomáticos colocam cada um deles em lugares distintos: um recebe a coroa de rei; o outro é venerado como um deus.

Maradona: Conquista de Um Sonho entrega aos fãs uma obra marcante sobre os percalços e triunfos da vida de um ícone do esporte. Tais tropeços e vitórias não se diferem muito da trajetória de uma pessoa comum, na batalha suada percorrendo ruas das cidades ou nas estradas de terra da zona rural. 

Por isso, há uma identificação fácil. O admirador mais fanático de Maradona tem a noção das falhas da lenda, mas mesmo assim bate cheio de orgulho a pele tatuada com o rosto do camisa 10. A série do Prime Video só alimenta ainda mais a devoção, tendo um espaço incontestável no altar do ídolo.


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