BEM-ESTAR

Hollywood no divã: saúde mental vira prioridade nos bastidores das séries

Indústria do entretenimento investe em especialistas para cuidar da psique de atores e operários

Publicado em 20/02/2022

Um novo tipo de profissional está cada vez mais requisitado em Hollywood: consultor de saúde mental. Estúdios e produtoras estão preocupados com o bem-estar dos trabalhadores e celebridades que trabalham em uma série, ainda mais se estiverem em alguma atração cujo assunto retratado seja extremo, como violência, tortura ou terror psicológico.

Essa função é recente no mundo do entretenimento. Começou a ser aplicada no Reino Unido, que também liderou a abertura para o consultor de intimidade há alguns anos, responsável por monitorar cenas eróticas e de sexo. Hollywood abraçou a boa sacada e a tendência é que o tal consultor de saúde mental se torne primordial, como editor de som ou carpinteiro.

Na semana passada, a Amazon determinou que consultores de saúde mental serão disponibilizados para todas as produções do Prime Video. A iniciativa é resultado do sucesso dessa implementação no drama aclamado The Underground Railroad (2021), sobre os horrores da escravidão nos Estados Unidos.

Criação do cineasta Barry Jenkins, a minissérie contou com Kim Whyte no cargo de consultora de saúde mental. Ela atendia toda a equipe, dos atores protagonistas aos assistentes de produção, que estavam ali trabalhando em encenações de histórias trágicas, gatilhos para minar o psicológico de qualquer um. 

Ela, porém, ia além do assunto da atração, oferecendo conselhos sobre as adversidades triviais da vida pessoal de cada um que lhe procurava.

“Nós pegamos esse trabalho orquestrado por Barry [Jenkins] e vamos usar em outras produções”, disse Margy Elliott, gerente do departamento de estratégia do Prime Video, em painel da feira European Film Market.

A elogiada atriz Michaela Coel em I May Destroy You
A elogiada atriz Michaela Coel em I May Destroy You

Método de trabalho

Tratar de saúde mental é estigma para muitos. Pessoas deixam de ir na terapia por causa do que os outros vão achar, por exemplo. Visão deturpada digna de ser tratada no divã, aliás. Como a função de consultor de saúde mental é nova, ainda se busca as maneiras ideais de fazer as intervenções dentro do set de gravação.

Há quem prefira, na verdade, atender o povo longe dali, justamente para que o paciente não receba o carimbo de “alguém com um problema”. Porém, existem outras alternativas e a aplicada por Kim Whyte em The Underground Railroad é bem prática 

Ela teve total liberdade nos sets, falando com todo mundo, desde o assunto mais bobo sobre o clima até a um tema sério. Assim, o observador não sabia ao certo se o papo era banal ou uma consulta terapêutica improvisada.

E o atendimento tem que ser com todo mundo mesmo de uma produção. O elenco precisa sim de ajuda, pois são as pessoas encenando o evento traumático, pesado. Mas os editores também sofrem carga forte, por terem de rever aquelas cenas várias vezes até chegar no corte final.

A elogiada série I May Destroy You, da HBO, foi uma das primeiras a contar com esse tipo de profissional da psique. A terapeuta Lou Platt trabalhou ao lado da atriz Michaela Coel, cuja personagem sofre violência sexual e revive o abuso várias vezes na mente. 

O objetivo de Lou não era necessariamente impedir que cenas pesadas fossem gravadas, mas sim tranquilizar a atriz e os atores ao redor antes das gravações. Isso porque alguém ansioso ou estressado não consegue fazer qualquer trabalho com tranquilidade, incluindo aí a atuação.

Desde abril de 2020, na explosão da pandemia de Covid-19, a Netflix desenvolve cursos sobre saúde mental, criados pela psicóloga clínica Jake Knapik. Ela foi contratada para orientar os trabalhos nas produções americanas e britânicas da plataforma, reforçando que esse tipo de trabalho psicológico veio para ficar.


Siga o Observatório de Séries nas redes sociais:

Facebook: ObservatorioSeries

Twitter: @obsdeseries

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade