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Peaky Blinders: série dá aula de história ao expor ascensão do fascismo

Drama britânico inseriu acontecimentos reais de quase um século atrás para alertar o público atual

Publicado em 17/06/2022

Ideologia política nefasta que se perde no debate público tão polarizado atualmente, o fascismo é tema recorrente na mídia e em livros. A série Peaky Blinders fez uma contribuição importante ao dar uma aula sobre o assunto, expondo os bastidores da ascensão real do fascismo na Europa, especificamente no Reino Unido. E explicou minuciosamente o que é ser de direita e de esquerda no universo político.

Desde a quinta temporada, Peaky Blinders acompanhou os passos do político Oswald Mosley (Sam Claflin), uma figura que realmente existiu. Na sexta leva de episódios, lançada na semana passada na Netflix, as intenções do líder fascista ficaram mais claras ao se aproximar de Thomas “Tommy” Shelby (Cillian Murphy), mesmo o gangster sendo integrante do Partido Trabalhista.

A última temporada da série se passou em meados dos anos 1930. O fascismo europeu estava se fortalecendo mais e mais, uma década após ele se desenvolver e criar corpo na Itália de Benito Mussolini. Oswald Mosley era o principal nome dessa ideologia na ilha britânica e, naquela época, tinha acabado de fundar o British Union of Fascists, o partido fascista do Reino Unido.

Mosley era popular, chegando a cumprir dois mandatos no parlamento. Ele era um líder carismático e ouvido pelas massas em discursos, seja no rádio ou em comícios. O político ganhou força e planejava uma Grande Limpeza, parte de um plano que pensava em tornar a Grã-Bretanha grande de novo

Não havia meias palavras nos discursos xenófobos, racistas e preconceituosos. Peaky Blinders deixou isso claro com Diana Mitford (Amber Anderson), acompanhante de Mosley. Foi ela quem, sem cerimônias, destilou os comentários mais repugnantes contra judeus, negros e outras pessoas que, na visão dela (uma mulher da elite, loira e branca), eram inferiores. E o parceiro não a freava em nenhuma ocasião.

Mosley colocava Diana ao seu lado em todas as conversas sobre o fascismo e a meta de assumir o comando do Reino Unido. Os dois formaram uma parceria que acabou em casamento, realizado na casa de Joseph Goebbels, ministro da propaganda do nazismo alemão, tendo Adolf Hitler como convidado.

Sam Claflin e Amber Anderson em Peaky Blinders
Sam Claflin e Amber Anderson em Peaky Blinders

Visão dos bastidores

Peaky Blinders apresentou muito bem as intenções dos fascistas, não deixando dúvidas a qualquer pessoa que preste o mínimo de atenção. Narrar essa parte da história britânica, ocorrida há quase um século, é essencial para a atual geração, que é facilmente tragada por fake news, ver as motivações reais dessa ideologia podre.

O discurso extremado a favor do nacionalismo, questionar o processo eleitoral democrático comandado pelo povo e restringir a liberdade política são alguns traços do fascismo que Peaky Blinders revelou com nitidez no retrato de Oswald Mosley. Tais características, que oprimem o povo trabalhador, colocam a ideologia na extrema-direita do mundo político.

Na trama de Peaky Blinders, Tommy se juntou a Mosley para armar um golpe, sendo informante infiltrado com o intuito de minar o fascismo, não fortalecê-lo. Mas ele teve de demonstrar que acreditava na causa e, contrariado, precisou fazer uma saudação nazista e clamar pela morte de judeus.

Peaky Blinders não deixou dúvidas sobre as origens e motivações do fascismo. A trama fica eternizada quase como um guia acerca dos bastidores dessa ideologia. Entre outras coisas, a série serve de plataforma de conhecimento para o povo não perecer nas mãos de poderosos e nem deixar que a história se repita. ⬩

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