Primeira plataforma a apostar nos k-dramas em escala global, a Netflix lançou recentemente uma trinca de séries que mostra ao mundo a veia crítica do soft power sul-coreano. Espectadores puderam se entreter com produções ousadas e também passaram a refletir sobre temas vitais do cotidiano, como capitalismo, religião e educação escolar.
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O trio Round 6, Profecia do Inferno e All of Us Are Dead usaram alegorias para examinar o impacto social direto de assuntos espinhosos. E isso feito sem medo de expor o lado mais repugnante de regimes e pensamentos que afetam a grande maioria da população do planeta. Isso coloca as séries dentro de um escopo macro, com tramas de fácil entendimento.
Crueldades do capitalismo
Querendo ou não, a Terra se move no balanço do capitalismo. Mesmo quem está em um país cujo sistema econômico seja outro, existe a influência direta do regime que beneficia o lucro e contamina o povo fisgado pela busca desenfreada pelo dinheiro e consumo.
Round 6 tratou desse assunto com rara eficácia, mesmo de forma macabra. Os 456 jogadores participantes de uma competição atrás de uma fortuna, que só aumentava a cada morte dos rivais, revelou por metáforas até onde o ser humano vai para ficar rico. É a definição do comportamento selvagem, de matar ou morrer. O dinheiro jogou aquelas pessoas em dívidas; e o próprio capital as levou a cometer atrocidades.
No que crer?
Até o agnóstico está ligado à religião (para ele existir é preciso ter algo a se combater). Profecia do Inferno retrata como a fé em um ser superior pode ser deturpada, conscientemente, apenas para enganar gente simples e inocente. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
A série apresenta três monstros do além que matam humanos (supostamente) pecadores. Surge uma religião voltada a incentivar o povo a pedir perdão de pecados cometidos, clamando pelo arrependimento. A quem caia nessa. E o poder de controlar a mente das pessoas se concentra na mão de poucos religiosos manipuladores.
Perversidade no ensino
Em All of Us Are Dead, zumbis tomam conta de uma escola. O criador da série optou por escalar atores com traços comuns, transmitindo que aquela instituição de ensino é como qualquer outra. Alunos sofrem humilhação pelo baixo desempenho atlético, por exemplo, e há preconceito contra estudante bolsista, pregado por uma aluna privilegiada.
Interessante que mesmo no cenário caótico, dos mortos-vivos dominando a escola, esse sentimento de divisão de classes não evapora. Ele persiste até de outras formas, com o eu sobrepondo o outro e o coletivo.
A perversidade do sistema escolar atrás somente de resultados fica escancarado na postura do diretor da Hyosan High School, que esconde denúncia de bullying por estar mais preocupado com a avaliação do colégio perante a sociedade…
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