ANÁLISE

A Serpente de Essex: o choque entre Deus, pecado e o fanatismo religioso

Composta de seis episódios, a minissérie imperdível do Apple TV+ chega ao fim nesta semana

Publicado em 06/06/2022

Uma pessoa entra em espiral quando a ideia de Deus, a natureza pecaminosa e o fanatismo religioso se chocam. Tal verdade presente na atualidade acompanha o ser humano durante séculos, e a minissérie A Serpente de Essex, que chega ao fim nesta semana no Apple TV+, apresenta tal conflito no final dos anos 1800 dentro do período Vitoriano, na Costa Leste da Inglaterra.

Primorosamente protagonizada por Claire Danes e Tom Hiddleston, A Serpente de Essex propõe a discussão sobre o divino, as consequências lógicas da vida, o natural e a punição pelo pecado. Ali está o retrato de como as pessoas correm para o fanatismo religioso na tentativa de justificar algumas ações acima da compreensão limitada da mente humana.

A trama de A Serpente de Essex é baseada no livro homônimo premiado. Claire interpreta Cora, uma naturalista que deixa Londres para ir até o vilarejo de Aldwinter investigar a aparição de uma serpente, tida pelos moradores do local como instrumento da punição divina.

O padre da cidade de pescadores é Will, interpretado por Hiddleston. Ele pena para acalmar os ânimos da população que crê na instrumentação divina da tal serpente, que supostamente mata pessoas que vivem em pecado. O bicho estaria ali para impor a justiça celestial, segundo a visão dos fanáticos.

Claire Danes em cena de A Serpente de Essex
Claire Danes em cena de A Serpente de Essex

Onde entra a razão?

Duas pessoas foram atacadas pela tal serpente, segundo alegam os moradores do vilarejo, e morreram. Cora até acredita que exista um bicho diferente do comum nas águas da região, mas que ele é apenas uma espécie desconhecida, perdida na evolução de Darwin. Ela encontra um alento em Will, que prega incessantemente que não tem essa de serpente punindo pessoas pelos pecados.

Mas vai convencer a população disso… A esmagadora maioria das pessoas locais acredita no misticismo, de que a serpente seria um sinal da ira de Deus, que o julgamento final está para chegar, coisas do tipo. E até culpam Cora, uma viúva que anda pela cidade só, de trazer a serpente punitiva à tona. Ela, a naturalista, seria a responsável indireta pelas mortes.

A Serpente de Essex acerta em cheio nessa discussão presente no dia a dia de qualquer um, ateu ou crente em alguma divindade, sobre recompensa pelo bem e punição pelo mal praticado. Nesse debate tem a visão racional das coisas (representada por Cora) e a abordagem da fé mais equilibrada e mansa (pregada por Will). O fanatismo religioso se opõe a ambas e conquista o povo na base da histeria e do medo.

Boa parte da trama de A Serpente de Essex apresenta o romance que brota entre Cora e Will (mesmo ele casado). Entretanto o debate religião versus razão, tangenciado pelo radicalismo, sustenta a minissérie e culmina em argumentações interessantes. 

Aliada a uma fotografia bela e atuações afiadas da dupla de protagonistas, a atração é uma excelente opção de entretenimento com substância rica, atual e prática.

O sexto e último capítulo de A Serpente de Essex entra no Apple TV+ na sexta-feira (10) ⬩

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