Uma história, duas sagas: as semelhanças e diferenças entre A Que Não Podia Amar e sua versão original, Sigo te Amando

Publicado em 27/06/2019

Desde que estreou nas tardes do SBT, há aproximadamente três meses, A Que Não Podia Amar vem fisgando de jeito o público que gosta de acompanhar folhetins mexicanos no canal de Silvio Santos. Pudera: a relação de amor e ódio entre a determinada Ana Paula (Ana Brenda Contreras) e o autoritário Rogério (Jorge Salinas) é de deixar qualquer noveleiro com os olhos vidrados na telinha!

O que talvez, porém, muitos fãs da atração não saibam é que essa mesma história já foi vista na tela do próprio SBT em um passado não muito distante. Estamos falando de Sigo te Amando, obra produzida pela Televisa em 1997 e transmitida pela rede dos Abravanel três anos depois, também no período da tarde.

Ambas tramas tinham como base a radionovela La Mujer Que No Podía Amar (A Mulher Que Não Podia Amar), dos anos 1950. Embora preservem em comum a essência do argumento original, ambas versões revelam leituras bastante distintas do argumento original escrito pela cubana Delia Fiallo (O Privilégio de Amar). Vejamos algumas diferenças entre as duas novelas.

Claudia Ramírez e Luis José Santander, os protagonistas de Sigo te Amando (Divulgação / Televisa)

Faça amor, não faça guerra

Quem acompanhou tanto Sigo te Amando como A Que Não Podia Amar é unânime em afirmar que a diferença fundamental entre elas reside no ‘tom’ de cada novela.

Criada para ir ao ar no horário nobre mexicano do fim dos anos 1990, Sigo te Amando ficou marcada como uma novela pesada e truculenta, considerada até apelativa por parte da imprensa local. Já A Que Não Podia Amar adotou uma linha bem mais amena, voltada para mais o drama leve e o romantismo açucarado.

Sergio Goyri como Inácio Aguirre em Sigo te Amando (Divulgação / Televisa)
Sergio Goyri como Inácio Aguirre em Sigo te Amando (Divulgação / Televisa)

Vilão ou mocinho?

Em A Que Não Podia Amar, a disputa pelo amor de Ana Paula ocorre de forma bastante ‘democrática’ entre o gentil Gustavo (José Ron) e o autoritário Rogério (Jorge Salinas). Isto é: desde o começo da trama, fica claro que ambos, cada qual com suas virtudes e defeitos, possuem chances reais de um happy ending ao lado da protagonista.

Embora Gustavo tenha sido seu primeiro amor ao final da trama será nos braços de Rogério que a protagonista terminará. Inicialmente apresentado como um homem autoritário e amargurado, Rogério pouco a pouco irá revelando um lado mais doce de sua personalidade, transformando-se em um homem melhor em nome do amor por Ana Paula – e ganhando de vez seu coração.

Algo completamente distinto ao que se viu em Sigo te Amando. O fazendeiro Inácio Aguirre (Sergio Goyri) manteve-se durante toda esta versão anterior da história como o mais cruel e perverso dos vilões. Ele atormentou tanto a mocinha Luíza (Claudia Ramírez), por quem nutria uma obsessão sem limites, que seria inconcebível imaginar que ela em algum momento pudesse chegar a amá-lo.

Outra diferença está na forma como a questão da invalidez foi inserida no personagem. Inácio começava a trama como um homem perfeitamente saudável, tornando-se paraplégico somente a partir de certo ponto da história, em decorrência de um grave acidente. Rogério, por sua vez, já se apresentava confinado a uma cadeira de rodas desde sua primeira cena em A Que Não Podia Amar.

Ana Brenda Contreras e Claudia Ramírez viveram a mesma personagem em novelas diferentes (Reprodução / Televisa)

Conflito de gerações

O perfil da heroína também é bastante diferente de uma versão à outra. Ana Paula, como a vemos hoje em A Que Não Podia Amar, é uma jovem recém-formada na carreira de enfermagem, vinda de uma família humilde e sem muitos recursos.

Luíza, por sua vez, apresentava-se em Sigo te Amando como uma moça bem mais jovem e, portanto, mais dócil e ingênua também. Recém-formada no ensino médio, ela vinha de uma família tradicionalmente abastada, porém falida e cheia de dívidas – fato que o vilão Inácio usava para tentar se casar à força com a mocinha.

Gustavo (José Ron, à esquerda) e Luís Ângel (Luis José Santander, à direita) (Divulgação / Televisa)

O galã

Gustavo, de A Que Não Podia Amar, também guarda suas diferenças com seu percursor de Sigo te Amando. Na versão mais moderna, o personagem é um ético e engenheiro ambiental, exclusivamente devotado à profissão e ao amor por Ana.

Já na roupagem mais antiga, ele se chamava Luís Ângel (Luis José Santander) e dedicava-se a outra carreira: a medicina. Esse fator, inclusive, era determinante para a aproximação do protagonista com a família de Inácio Aguirre – ele era designado para curar o fazendeiro de sua paraplegia.

O histórico amoroso de Luís Ângel também era mais dramático que o de Gustavo: o médico havia passado pelo trauma de ter sua primeira noiva assassinada às vésperas do casamento.

O deficiente mental Lázaro (Osvaldo Benavides, à esquerda) e o menino Marquinho (Juan Bernardo Flores, à direita) (Divulgação / Televisa)

O protegido da mocinha

Em A Que Não Podia Amar, a presença de Marquinho (Juan Bernardo Flores) é uma peça fundamental no jogo de atração e repulsa entre Ana Paula e Rogério. É o garoto o pivô do primeiro conflito entre os dois, quando a enfermeira o defende de uma agressão do dono da Fazenda do Forte. Mais tarde, porém, o mesmo Marquinho acaba aproximando o casal e ajudando a suavizar o duro caráter de Rogério.

Uma função similar à do indefeso garotinho era exercida em Sigo te Amando pelas figuras de Lázaro (Osvaldo Benavides) e Ofélia (Magda Guzmán), um par de desequilibrados mentais que viviam como mendigos nos arredores da fazenda de Inácio Aguirre. Sem qualquer tipo de amparo, eles despertavam a compaixão da heroína Luíza, que por vezes punha a própria integridade em risco para defendê-los das maldades de seu cruel marido.

Osvaldo Benavides na novela O Que A
Osvaldo Benavides viveu Miguel em A Que Não Podia Amar (Divulgação / Televisa)

Parente é serpente

Na atual trama do SBT, as dores de cabeça de Ana Paula atendem por dois nomes: Rosaura (Ana Bertha Espín) e Miguel (Osvaldo Benavides – sim, ele de novo!). A primeira é a tia que a criou após a morte de sua mãe, e não poupa chantagens emocionais para manipular a sobrinha a seu próprio interesse. Já o segundo é seu irmão, um tipo irresponsável que vive metendo os pés pelas mãos e lhe causando problemas.

Em Sigo te Amando, essas duas figuras problemáticas era bem presentes na vida de Luíza, mas com algumas diferenças. Ao invés de tia, Paula (Carmen Montejo) era a avó da mocinha, a quem dominava de forma demarcadamente autoritária. Já seu irmão Alberto (Juan Manuel Bernal) era tão instável quanto Miguel, mas dono de um perfil muito mais rico: médico cirurgião, vivia afundado no alcoolismo.

Em ambas versões, Miguel/Alberto funcionava como isca para Rogério/Inácio obrigar Paula/Luíza a um casamento forçado. Em A Que Não Podia Amar, Rogério arquitetou uma falsa acusação de roubo contra o cunhado, a fim de mandá-lo para a cadeia e chantagear Ana Paula com a promessa de libertá-lo. Já em Sigo te Amando, este gancho teve contornos ainda mais dramáticos: Alberto foi o responsável por Inácio ter ficado paraplégico, ao operá-lo embriagado. O vilão, então, prometeu não denunciar o rapaz à polícia em troca de Luíza subir ao altar consigo.

María Rojo (à esquerda) e Mar Contreras (à direita) viveram personagens muito diferentes nas duas versões da história (Reprodução / Televisa)

A rival

Este é um dos pontos que mais divergem entre as duas versões da história. Em A Que Não Podia Amar, a antagonista do romance entre Rogério e Ana Paula atende pelo nome de Vanessa (Mar Contreras). Socialite fútil e mimada, ela foi capaz de terminar seu noivado com Rogério quando este ficou paralítico. Mais tarde, arrependida, lutou contra Ana Paula – de quem se descobriria meia-irmã – para recuperar o amor do fazendeiro.

Em Sigo te Amando, essa rival da heroína pelo coração de Inácio Aguirre também existiu, mas com um perfil totalmente diferente. Tratava-se de Felipa (María Rojo), mulher excêntrica que trabalhava para Inácio em sua fazenda e se deitava com ele pelas noites. Adepta de feitiços e de invocações ocultas, ela possuía uma cobra como animal de estimação e via em Luíza uma inimiga em potencial.

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