Traficante em série da HBO, ator quase virou padre e criminoso na vida real: “A arte me salvou”

Publicado em 27/07/2019

Em Pico da Neblina a comercialização da maconha para fins recreativos é mais do que uma realidade. Biriba (Luiz Navarro) segue a lei e conta com Vini (Daniel Furlan) um amigo um pouco inexperiente para viabilizar seu negócio. Biriba deixou para traz o mundo do crime, mas seu antigo parceiro Salim (Henrique Santana) segue no modo tradicional dos negócios, a ilegalidade. Eis o ponto central da nova série da HBO com estreia marcada para o próximo dia 04 de agosto no Brasil e em seguida em mais 70 países. 

A produção original brasileira começou a ser produzida em 2013 em parceria com a 02 Filmes e debate a vida de pessoas que estão ligadas diretamente com as drogas tendo como cenário a periferia da cidade de São Paulo, em especial a Zona Leste. Em entrevista ao Observatório da Televisão, direção e elenco da produção destacaram a importância da série.

Experiência

“Nasci na Zona Leste de São Paulo. Um dos meus irmãos se envolveu na parada [tráfico]. Lá o pessoal [desde os moradores aos irmãos envolvidos na criminalidade] me chama de ‘artista’. Estudei quatro anos pra ser padre, fiz teatro no seminário, sai da igreja, fiz faculdade… Uma hora ou outra eu seria o Salim da vida real. A arte me salvou”, disse Santana ao fazer um paralelo entre a sua vida e a do personagem Salim.

“Não vejo como um submundo [o tráfico], quem está de fora pode ver, mas eu não vejo assim. São pessoas que comercializam aquilo que o sistema permite, aquilo que chega na mão dele para que ele repasse. Tenho amigos ricos que veem muito sorrisos nesse submundo do que nesse mundo que a sociedade cidade constrói.  Salim não é uma pessoa má, ele sabe como as pessoas funcionam, luta com aquilo que se tem, ele vive disso. A partir daí ele vai atrás dos seus objetivos”, completou.

Família 

“As pessoas que moram no meu bairro e viram o teaser disseram que o meu personagem não parecia um traficante: ‘ele é fofo’. Não vilaniza”, ressaltou Luiz que também mora na periferia de São Paulo. Na história ele é irmão de Kelly (Leilah Moreno) mulher negra que tem duas filhas de relacionamentos diferentes. Os irmãos moram com a mãe (Teca Pereira).

Emocionada, Leilah comparou o contexto da série à realidade de muitas famílias, inclusive a dela: “Quando me chamaram achei que ia cantar. Mas quando me falaram da Kelly fiquei completamente enlouquecida. É uma família muito feminina. Retrata muito a minha mãe, a minha vida. Cai dentro da minha casa, muitos vão se identificar com ela”. Leilah fez suspense sobre o futuro da família, em especial as mulheres. 

EUA

Já o diretor Quico Meirelles explicou como a série pode contribuir para que a sociedade entenda parte das questões que estão sendo decididas pela justiça em relação a comercialização das drogas, em especial a maconha que serve como tratamento para milhares de pessoas.

“A série não se posiciona contra ou a favor, mas traz o assunto para o público, é um assunto muito importante. Pesquisamos como os EUA e países da Europa lidam com a questão. Nos últimos meses na Califórnia grandes empresas passaram a dominar este mercado. A gente achou que na série o mercado americano fosse o mais parecido com o modelo da série para que pudéssemos desenvolver nossa história”.

Sabrina Petraglia e Maria Zilda Bethlem também estão no elenco em participações especiais. Há também a entrada de uma atriz trans no decorrer da primeira temporada que conta com dez episódios de uma hora cada. De acordo com a direção, uma das mulheres entrará para o tráfico de drogas. 

Bolsonaro 

Em meio a polêmica envolvendo o financiamento de produções audiovisuais pela Ancine, braço do governo federal, o diretor da HBO Roberto Rios fez questão de dizer que a produção não conta com incentivos fiscais. Todo o custo foi bancado pela HBO. Vale lembrar que o presidente Bolsonaro criticou o longa Bruna Surfistinha com Deborah Secco. O filme lançado em 2011 contou com o apoio da estatal e na visão do político não contribui para os valores familiares.

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