Histórias sem fim

Relembre outras novelas que, como Nazaré na Band, foram transmitidas incompletas

Quase Anjos, Minha Vida e Abigail foram alguns exemplos

Publicado em 10/01/2022

Em cartaz desde maio nas noites da Band, a novela portuguesa Nazaré não vai se despedir exatamente em grande estilo do público brasileiro. A história protagonizada por Carolina Loureiro chega ao ‘fim’, por assim dizer, nesta sexta-feira (14), cedendo lugar a partir da próxima segunda (17) ao novo programa de Faustão no Morumbi.

O que será mostrado ao final desta semana, na qualidade de desfecho de Nazaré, será na verdade a conclusão da primeira temporada da história. Por questão de falta de espaço na grade – e também do fraco desempenho em sua própria audiência -, os 123 capítulos que compõe a segunda fase não serão exibidos pela Band, deixando a plateia tupiniquim sem conhecer o verdadeiro desfecho da história lusitana.

Embora nunca vista com agrado pelos noveleiros de plantão, uma situação como a de Nazaré está longe de ser inédita na televisão nacional. Relembremos outros casos de folhetins que tiveram sua transmissão interrompida sem direito ao happy ending puro e concreto.

Trama colombiana fez sucesso em vários países (Divulgação)
Trama colombiana <strong>Paixões Ardentes<strong> fez sucesso em vários países Divulgação

Paixões Ardentes (RedeTV!)

Animada com o êxito de Betty, a Feia – que chegou a passar mais de um ano no ar, entre 2002 e 2003 -, a RedeTV! tentou, sem sucesso, repetir o fenômeno com a importação de seu ‘similar’ masculino, Pedro, o Escamoso. Mesmo com esse primeiro fracasso, a emissora de Marcelo de Carvalho e Amílcare Dallevo insistiu no filão de tramas importadas em seu horário nobre e escalou o sucesso internacional Pasión de Gavilanes para dar sequência à faixa.

Desta vez, porém, o estrago foi ainda maior: Paixões Ardentes, como a novela foi rebatizada por aqui, chegava a dar traço em alguns capítulos! Com isso, o canal não se fez de rogado e retirou a história colombiana do ar no capítulo 65, sem jamais exibir sua conclusão. Curiosamente, a atração – um fenômeno de audiência internacional, que ganhará inclusive segunda temporada neste ano – agora pode ser conferida em sua totalidade no catálogo da Netflix Brasil, onde consta sob o título original em espanhol.

Catherine Fulop e Fernando Carrillo protagonizaram a novela <strong>Abigail<strong> DivulgaçãoRCTV

Abigail (Band)

Atraída pela popularidade internacional desta trama venezuelana, a Band a adquiriu em 1992, na esperança de conquistar os fãs de dramalhões latinos. A trama trazia como protagonista o ator Fernando Carrillo, galã de Rosalinda, ao lado de sua esposa à época, Catherine Fulop.

Os índices de audiência de Abigail por aqui, no entanto, começaram tão, mas tão baixos que a novela sequer completou uma semana no ar, sendo cancelada após apenas três episódios exibidos.

E vejam só que ironia: parte do roteiro original de Abigail foi posteriormente adaptado pela Televisa em Maria do Bairro (1995), que anos depois, em 1997, alcançaria estrondosa popularidade no SBT – e também no catálogo do Globoplay, onde estreou no mês passado.

Elenco central da terceira temporada de Quase Anjos (Divulgação / Telefe)
Elenco central da terceira temporada de <strong>Quase Anjos<strong> DivulgaçãoTelefe

Quase Anjos (Band)

A Band – mais uma vez ela – se deu bem em 2010 ao escalar, para sua grade matinal, as novelas teen Quase Anjos e Isa TK+, exibidas em sequência. Disposta a dar continuidade ao filão, a emissora do Morumbi garantiu junto à rede argentina Telefe a compra da terceira temporada de Quase Anjos – a qual, infelizmente, não se saiu tão bem no Ibope quanto a anterior.

Para piorar, atrasos no envio dos capítulos pela distribuidora acabaram atrapalhando o processo de dublagem e mesmo de exibição desta fase da história – que leva a assinatura de Cris Morena, criadora de Chiquititas e Rebelde. A gota d’água aconteceu quando Quase Anjos 3 perdeu o patrocínio da marca de refrigerante Guaraná, sua única anunciante.

A Band, então, desistiu de vez da novela e encerrou sua exibição no capítulo 113, corresponde ao de número de 97 da edição original. Ao todo, haveria mais 40 episódios do ciclo em exibição e ainda uma quarta temporada completa por vir – ambos materiais até hoje inéditos na TV brasileira.

Carolina Kasting foi a protagonista de <strong>Brida<strong> DivulgaçãoManchete

Brida (Manchete)

Não são apenas os folhetins estrangeiros que já saíram do ar inconclusos na telinha nacional. Em 1998, no auge de sua crise financeira, a hoje extinta Rede Manchete apostou numa proposta ambiciosa como estratégia para se reerguer, adaptando para telenovela o best seller de Paulo Coelho, Brida.

A investida, porém, revelou-se um verdadeiro tiro no pé. Com meta de 10 pontos, Brida estacionou em apenas 2, afugentando os anunciantes e agravando ainda mais o já periclitante quadro financeiro da Manchete.

Dois meses após a estreia da trama, elenco e equipe de produção entraram em greve, já que estavam sem receber salários, e a situação, que era difícil, tornou-se insustentável. Brida saía então do ar com 54 capítulos, tendo como único ‘desfecho’ uma narração de Eloy de Carlo, que explicava como a história chegaria ao fim.

Víctor Mallarino e Paola Rey protagonistas da colombiana <strong>Um Amor de Babá<strong> <strong>La Baby Sister<strong> DivulgaçãoCaracol

Um Amor de Babá (Record TV)

A turma dos bispos também já fez das suas. Em 2002, a empolgação com o sucesso da saga venezuelana Joana, a Virgem levou a Record TV a buscar, na Colômbia, outro título de comprovado apelo internacional para dar sequência à faixa em sua grade noturna: La Baby Sister.

A trama, cujo título brincava com a expressão inglesa ‘baby sitter‘, centrava-se no romance caliente entre uma sensual babá, Fabiana (Paola Rey), e seu patrão, Daniel (Víctor Mallarino). A fim de potencializar a identificação do público brasileiro com a história, Edir Macedo rebatizou a obra como Um Amor de Babá e até trouxe a atriz protagonista ao Brasil para ajudar a promover o folhetim.

Tudo em vão: Um Amor de Babá derrubou os índices de audiência de Joana, a Virgem e acabou tirada do ar sem maiores explicações, com apenas 22 capítulos exibidos. Embora o baixo Ibope tenha sido apontado como o fator principal para o cancelamento da atração, rumores de bastidores davam conta de que parte da cúpula da Record teria ficado desgostosa com um núcleo de sátira religiosa que se formaria a certo ponto da história.

Destilando Amor foi exbida em 2007 no SBT (Divulgação)
<strong>Destilando Amor<strong> foi exibida em 2007 no SBT DivulgaçãoTelevisa

Destilando Amor (SBT)

Com Destilando Amor explodindo em audiência no horário nobre mexicano em 2007, o SBT decidiu trazer esse sucesso para as suas tardes, confiante de que ele se repetiria por aqui. Mesmo porque a obra da Televisa nada mais era que um remake do folhetim colombiano Café com Aroma de Mulher, transmitido com êxito pela emissora em duas ocasiões.

O tiro, no entanto, saiu completamente pela culatra: com médias em torno de míseros 2 pontos, Destilando Amor saiu do ar com apenas 20 episódios transmitidos. Algo parcialmente justificável – com seu desfecho ainda inédito no próprio México, antecipá-lo por aqui seria impossível! -, mas ainda assim desrespeitoso.

Sofia Alves como as gêmeas Luísa e Leonor em Olhos dÁgua ReproduçãoYouTube

Olhos d’Água (Band)

Rainha das retiradas bruscas de telenovelas importadas, a Band assinou, no final de 2003, um contrato de exclusividade com a distribuidora europeia NBP para a exibição de folhetins portugueses por aqui.

O sucesso internacional Olhos d’Água abriria esta parceria, estreando em 19 de janeiro de 2004 na faixa das 16h. A atração foi, inclusive, dublada em português brasileiro para facilitar a identificação com o público local. Os baixos índices de audiência, porém, não tardaram em decepcionar a emissora dos Saad, que decidiram remanejá-la para a ingrata faixa das 8h da manhã.

Com índices ainda menores, por vezes abaixo do 0,5 ponto, a obra lusitana – protagonizada pela estrela local Sofia Alves, na pele das gêmeas Leonor e Luísa – acabou saindo do ar em agosto, inconclusa e despercebida, com apenas 140 de seus 207 capítulos exibidos.

João Catarré e Benedita Pereira protagonistas da primeira temporada de <strong>Morangos com Açúcar<strong> DivulgaçãoTVI

Morangos com Açúcar (Band)

Espécie de Malhação portuguesa, Morangos com Açúcar foi um hit entre os adolescentes da ‘terrinha’, onde foi exibida de 2003 a 2012, em nove temporadas. De olho nesse êxito, a Band considerou que a trama teen poderia ter mais êxito em sua faixa das 16h do que também lusitana Olhos d’Água vinha alcançado às 4 da tarde.

No dia 29 de março de 2004, a temporada inaugural de Morangos com Açúcar passou a ocupar a faixa de sua precursora, transferida para as manhãs. Mas os números do Ibope permaneceram exatamente os mesmos. Com tão pouca repercussão, a saga adolescente de título esquisito mal durou 80 capítulos na tela do Morumbi. E o final que é bom, nada!

Novela Minha Vida é exibida na Band (Divulgação)
Novela <strong>Minha Vida<strong> foi exibida na Band Divulgação

Minha Vida (Band)

Campeã em colocar novelas no ar e não se preocupar em dar um encerramento digno a elas, a Band havia recorrido pela última vez a esse ‘artifício’ em 2019. Depois de alguns anos dedicando seu horário nobre a transmitir produções turcas, a emissora decidiu colocar um ponto final neste filão para dar uma nova chance à dramaturgia lusitana, com a premiada novela Ouro Verde.

Antes de liberar, porém, o espaço em sua grade para esta renovação, os irmãos Saad precisavam se ‘livrar’ de Minha Vida, título turco em cartaz naquele então. Só havia um problema: a novela era longuíssima, amargava baixa audiência e, para piorar, o canal só havia comprado os direitos de exibição das duas primeiras temporadas da história – transmitida como série em seu país natal.

A solução encontrada foi a de sempre: Minha Vida se despediu do público no exato gancho da segunda para a terceira edição da narrativa, sem qualquer coisa que pudesse se assemelhar a um desfecho – e o público, mais uma vez, ficou a ver navios…

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade