Após o bispo Edir Macedo, proprietário da Record TV e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, se pronunciar publicamente nas redes sociais, a favor do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, jornalistas da emissora estão passando por dificuldades para manter a imparcialidade referente as eleições 2018.
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O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, logo depois recebeu denúncias de jornalistas do Grupo Record, que inclui a emissora, rádio e o portal de notícias R7, por estarem sofrendo pressão da direção da emissora para que de certa forma beneficiem o candidato Bolsonaro (PSL) e por outro lado prejudique o candidato concorrente Fernando Haddad (PT).
Segundo o sindicato, outras expressões dessa virada são decisões de não colocar em rede reportagens relevantes – exibidas em afiliadas – barradas na grade de noticiário nacional da emissora, por avaliações de que poderiam prejudicar Bolsonaro ou ajudar Haddad afinal. Posteriormente portal R7 também passou a ser dirigido a favor do candidato do PSL de forma explícita: por vários dias seguidos, os destaques da rubrica “Eleições 2018” na home se dividiam entre reportagens favoráveis a Bolsonaro e reportagens negativas a Haddad.
As pressões internas pela distorção do noticiário tomaram a forma de assédio a diversos jornalistas. Ao mesmo tempo, a tensão na redação tornou-se insuportável para alguns profissionais.
Confira a nota de repúdio do sindicato:
Em defesa do direito à informação correta e equilibrada na cobertura das eleições, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo repudia as pressões feitas pela direção da Record e exige o respeito à autonomia de apuração e edição dos jornalistas da empresa. Em função da situação, adota ainda as seguintes providências:
- a)respeitando a autonomia da Comissão de Ética do SJSP, reforça o pedido para que a direção da Record endosse o “Protocolo Ético para o Segundo Turno das Eleições 2018”, enviado pela Comissão de Ética para a chefia do jornalismo de todas as empresas de comunicação do Estado;
- b)solicita uma reunião imediata com a empresa para expressar diretamente sua posição e reivindicar garantias de que as pressões sobre os jornalistas serão interrompidas o quanto antes;
- c)insiste desde já com as empresas de rádio e televisão do Estado para que, nas negociações da campanha salarial deste ano (data-base em 1º de dezembro), seja incluída a cláusula de consciência, integrante da pauta de reivindicações;
- d)decide inserir as denúncias relativas à Rede Record no dossiê que prepara para entregar ao Ministério Público dos Direitos Humanos sobre a violação de garantias profissionais dos jornalistas no atual período eleitoral; e
- e)coloca-se à disposição de todos os jornalistas da emissora para fazer debates, reuniões e adotar todas as medidas necessárias para garantir o respeito à autonomia profissional a que todos os jornalistas, e cada um, têm direito.
São Paulo, 19 de outubro de 2018
Direção – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.
*Até o momento do fechamento da matéria, a emissora não se pronunciou sobre o caso.