Porto dos Milagres, sucesso de Aguinaldo Silva, estreava há 17 anos

Publicado em 08/02/2018

Prestes a voltar ao horário nobre da Globo com O Sétimo Guardião, Aguinaldo Silva resgatará, em sua próxima trama, a marca que o consagrou: o realismo fantástico. “Herdeiro” de Dias Gomes, Silva assinou novelas passadas em cidadezinhas onde tudo era possível, como Pedra Sobre Pedra, Fera Ferida e A Indomada. No entanto, depois de Porto dos Milagres, que escreveu em parceria com Ricardo Linhares, e que completa 17 anos esta semana, o autor enveredou para tramas urbanas e não mais brindou o público com suas novelas de sotaque nordestino.

Porto dos Milagres estreou em 5 de fevereiro de 2001. A trama começava quando o casal de bandidos Félix Guerrero (Antonio Fagundes) e Adma (Cassia Kis) dá um golpe na Espanha e foge para o Brasil. Eles vão parar em Porto dos Milagres, uma pequena cidade portuária da Bahia, onde Bartolomeu Guerrero (Antonio Fagundes), irmão gêmeo de Félix, é um dos homens mais importantes e bem-sucedidos. Adma, então, arma para se livrar do cunhado e assumir as rédeas de sua fortuna. Bartolomeu, então, é assassinado, e Félix herda sua fortuna, tornando-se um homem forte do local.

Passam-se os anos e Félix se torna prefeito de Porto dos Milagres. Corrupto e autoritário, ele é constantemente atacado pelo grupo de pescadores do local, insatisfeitos com seus desmandos. O líder dos pescadores é Guma (Marcos Palmeira), que não sabe a verdade sobre sua própria origem. Guma é filho de Bartolomeu com a prostituta Arlete (Letícia Sabatella), que o deixou num cesto antes de ser morta, e foi adotado por uma família de pescadores. Além de viver às turras com Félix, Guma se apaixona por Lívia (Flavia Alessandra), sobrinha herdeira de Osvaldo (Fulvio Stefanini) e Augusta Eugênia (Arlete Salles), uma família importante, porém falida do local. Para tirar o pé da lama, Augusta Eugênia quer que Lívia se case com Alexandre (Leonardo Brício), filho de Félix.

Enquanto Félix comanda Porto dos Milagres e galga importantes posições no cenário político nacional, Adma faz de tudo para manter o poder do marido. Mesmo que, para isso, ela tenha que eliminar qualquer ameaça. Então, ela conta com a ajuda de seu capanga Eriberto (José de Abreu), e sempre faz uso de um anel, no qual carrega um veneno que usa para dizimar seus desafetos. Entretanto, uma das piores ameaças a Félix está para surgir: Rosa Palmeirão (Luiza Tomé). Irmã de Arlete, ela estava presa por matar um homem, e retorna à cidade como dona do Centro Noturno de Lazer, um bordel que dá o que falar. Rosa surge disposta a descobrir o que aconteceu com sua irmã (que foi assassinada a mando de Adma, quando descobriu que ela carregava o herdeiro de Bartolomeu) e desmascarar Félix. Mas o vilão acaba se apaixonando por ela, fazendo Adma agir.

Para escrever Porto dos Milagres, Aguinaldo Silva se inspirou em dois romances de Jorge Amado, Mar Morto e A Descoberta da América Pelos Turcos. No entanto, a novela pouco tem a ver com os romances, aproveitando apenas os nomes de alguns personagens e o fato de abordar o cotidiano de pescadores da Bahia, contexto recorrente à obra de Jorge Amado. E, claro, usou e abusou do realismo fantástico, como o fato de ser sempre lua cheia em Porto dos Milagres, a vice-prefeita Epifânia (Claudia Alencar) voltar como fantasma para azucrinar Adma após ser assassinada por ela, ou ainda Genésia (Julia Lemmertz), uma carola que cuspia pitombas quando ficava nervosa.

Um grande sucesso, Porto dos Milagres consagrou Adma Guerrero como uma das mais pérfidas vilãs da dramaturgia nacional, em mais um trabalho genial de Cassia Kis. Na reta final da novela, a atriz engravidou, e chegou a declarar que fez cenas muito pesadas naquelas condições. Alguns entenderam a declaração da atriz como uma reclamação ao autor. Cassia, então, disse na TV publicamente que não foi o que quis dizer, pedindo desculpas ao autor Aguinaldo Silva e agradecendo-o pela personagem.

Luiza Tomé também se destacou como Rosa Palmeirão. Embora a personagem tenha aparecido apenas nos primeiros capítulos para retornar praticamente na metade da obra, Rosa acabou se tornando a grande heroína da história. Seu romance com Félix e sua rivalidade com Adma deram o que falar. E seu final foi ousado: quando Félix se torna governador da Bahia, Rosa o esfaqueia na frente de todos, matando-o no dia de sua posse.

Porto dos Milagres também foi a primeira novela do ator Vladimir Brichta. Ele vivia Ezequiel, um sujeito que chegava a Porto dos Milagres e passava a provocar Genésia, a beata que não queria se entregar aos “prazeres da carne”. A dupla divertiu bastante. Outro destaque foi o ator Tadeu Mello, que vivia Venâncio, mordomo da perua Amapola (Zezé Polessa). Outra dupla que também rendeu grandes momentos cômicos.

Porto dos Milagres foi escrita numa época bem movimentada para Aguinaldo Silva, que engatilhou uma novela atrás da outra. Após concluir A Indomada, em 1997, ele foi recrutado novamente para a faixa das oito e optou por enveredar para uma trama urbana, Suave Veneno, de 1999. Mas a trama não emplacou e o novelista, novamente escalado para o horário, voltou às origens em Porto dos Milagres, em 2001. Depois disso, Silva ganhou um descanso maior, retornando ao horário apenas em 2004, com Senhora do Destino, drama urbano de grande sucesso. Na época, ele declarou que não tinha interesse em voltar ao realismo fantástico, pois, segundo ele, a realidade já estava mais absurda que o realismo fantástico. Mas, depois de anos e de várias novelas urbanas, ele voltará ao regionalismo este ano, com a estreia de O Sétimo Guardião, novela que sucederá Segundo Sol e que, por sua vez, entra na vaga de O Outro Lado do Paraíso.

Com 203 capítulos, Porto dos Milagres foi escrita por Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, com colaboração de Nelson Nadotti, Filipe Miguez, Glória Barreto e Maria Elisa Berredo, direção de Fabrício Mamberti e Luciano Sabino, direção geral de Marcos Paulo e Roberto Naar, e direção de núcleo de Marcos Paulo.

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Reveja a abertura de Porto dos Milagres:

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