Bastidores

Plágio, espiritismo velado e cura gay: abrimos a caixa preta de Floribella, nova reprise da Band

Novela volta ao ar em julho

Publicado em 13/05/2020

A notícia de que a Band reprisará Floribella a partir de julho foi recebida com festa pelos fãs da novela infanto-juvenil – que fez grande sucesso em 2005 e 2006, quando suas duas temporadas foram ao ar pela primeira vez.

Tão marcante, porém, quanto a história de amor entre a atrapalhada Flor (Juliana Silveira) e o sisudo Frederico (Roger Gobeth) foram os bastidores da atração, marcados por séries de fatos curiosos e dúvidas até hoje nunca esclarecidas.

Pensando nisso, o Observatório da TV revirou a ‘caixa preta’ da trama do Morumbi e preparou para você uma lista de anedotas – algumas até bem polêmicas – que rolaram por trás das câmeras, desta e das diversas versões que a história teve mundo afora. Confira!

Florencia Berttoti e sua Floricienta versão argentina e original de Floribella Divulgação Cris Morena Group

Origem latina

Floribella é, na verdade, uma adaptação livre de Floricienta, novela produzida entre 2004 e 2005 na Argentina, sob a batuta de Cris Morena, a mesma criadora de sucessos como Chiquititas e Rebelde.

O título original da trama nada mais é que um neologismo entre o nome da protagonista, Flor, e a palavra ‘Cenicienta’, que em português significa ‘Cinderela’. Em ambas versões, a comparação entre a heroína da trama e a famosa princesa dos contos de fadas é uma constante no enredo.

Eiza González e Aarón Díaz protagonizaram a Floribella mexicana Divulgação Televisa

Franquia de sucesso

Além do Brasil, Floricienta também ganhou regravações em Portugal, Colômbia, Chile e México. Neste último, foi produzida por Pedro Damián – o mesmo da versão mexicana de Rebelde (2004-2006) – sob o título de diferenciado de Lola, Érase Una Vez (2007).

A hoje hollywoodiana Eiza González deu vida à protagonista, enquanto o galã ficou por conta de Aarón Díaz, o Ricardo de Betty, a Feia em Nova York.

Juliana Silveira antes e depois de Floribella Divulgação Band Record TV

Para sempre Flor

O trabalho em Floribella marcou a carreira de sua protagonista, Juliana Silveira, até hoje lembrada pelo papel. À época de sua escolha para a trama, ela havia acabado de estrelar outro sucesso teen – as temporadas 2002 e 2003 de Malhação, ao lado de Henri Castelli -, e a trama da Band veio a estreitar ainda mais suas relações com esse público.

Houve, inclusive, uma preocupação da parte de Juliana em conservar sua imagem próxima à da audiência infantil após o fim da trama. Ela chegou a recusar o convite da Globo para atuar em Paraíso Tropical (2007) porque sua personagem seria uma prostituta – papel que ficou com a então iniciante Ísis Valverde. Preferiu ir para a Record TV interpretar uma cantora em Luz do Sol, reaproveitando os dotes musicais que havia aperfeiçoado ao longo de Floribella.

Frederico Roger Gobeth morreu na metade de Floribella Reprodução Band

Príncipe encantado ‘deposto’

Um dos momentos mais polêmicos – e chorosos – da trama da Band foi a morte do galã original, Frederico Fritzenwalden (Roger Gobeth). O personagem sofre um acidente de avião, enquanto viajava para a Alemanha a fim de tentar anular seu casamento com a vilã Delfina (Maria Carolina Ribeiro), no fim da primeira temporada. Um novo amor, então, surge na segunda etapa da história para a heroína, na figura do conde Máximo (Mário Frias).

15 anos depois, muita gente ainda se pergunta o porquê dessa troca de protagonistas, algo tão incomum no universo da telenovela – e até hoje apontado pelos fãs como o grande ponto negativo de Floribella. Esse elemento, na verdade, é uma herança da original argentina.

Juan Gil Navarro, intérprete do galã de Floricienta, recusou-se a renovar seu contrato para o segundo ano da trama. Por essa razão, a produtora Cris Morena decidiu matar seu personagem e escalar Fabio Di Tomaso para viver o novo herói do programa. Não contente, ela também fez questão de pedir a ‘cabeça’ de Frederico nas versões posteriores, exigindo que todas elas – somente Brasil e Portugal chegaram a ter segunda temporada – seguissem à risca esse mote do formato original.

Juliana Silveira em trecho do clipe da canção Te Sinto Reprodução Band

Polêmica religiosa

É importante lembrar, porém, que o amor entre Flor e Frederico não desapareceu completamente da história. Como o romance dos protagonistas era a grande atração, Cris Morena deu um jeito de mantê-lo ‘presente’ na segunda temporada. Explica-se: em Floricienta, o conde Máximo (Fabio Di Tomaso) era uma espécie de reencarnação de Frederico Fritzenwalden, cuja alma passava a habitar o corpo do conde para ensiná-lo a ser uma pessoa melhor e aproximá-lo de Flor.

Na versão brasileira de Floribella, esse elo ‘espiritual’ entre Frederico e Máximo foi eliminado da história. No entanto, trechos da letra da canção Te Sinto remetem a essa inusitada conexão que originalmente existiria entre os protagonistas de ambas fases.

As alusões à espiritualidade, aliás, por pouco não foram um problema para Floribella ser produzida em Portugal. A equipe da ‘terrinha’ fez questão de alterar totalmente a letra de canções como Te Sinto e Crianças Não Morrem, por entender que difundiam a doutrina da reencarnação entre as crianças.

Mariah Rocha e Igor Cotrim como Bruna e Mateus o casal que não aconteceu em Floribella Reprodução YouTube

Suave na nave

Diferentemente da original Floricienta, que conseguiu abranger um público tanto de crianças como de adolescentes, no Brasil Floribella acabou cativando uma audiência maiormente infantil – e isso foi decisivo nos rumos que a adaptação tupiniquim tomaria a partir de certo etapa. Existiu da parte das autoras, Patrícia Moretzsohn e Jaqueline Vargas, a preocupação de atenuar aspectos da história que soariam inadequados para a audiência mirim.

Um exemplo foi o romance que aconteceria entre a adolescente Bruna (Mariah Rocha), uma das irmãs do galã, e o advogado Mateus (Igor Cotrim), dez anos mais velho. Esse entrecho, que deu o que falar na trama original, foi completamente eliminado da versão brasileira – culminando, inclusive, na saída precoce de Igor Cotrim do elenco.

Outro exemplo foi o ‘incesto de mentirinha’ que envolveria o personagem Guto (Gustavo Leão). Na reta final da primeira temporada, ele teria um envolvimento com uma mulher madura, bem mais velha – e ainda por cima esposa de seu próprio tio. Mais uma vez, nada disso aconteceu por aqui.

Leonardo Cortez como Evaristo o mordomo heterossexualizado de Floribella Divulgação Band

Cura gay?

Outro elemento de Floricienta modificado em Floribella dizia respeito à sexualidade de um dos personagens da segunda temporada. Na versão argentina, o mordomo Evaristo (Alejo García Pintos) era abertamente homossexual, chegando a expressar em diversas ocasiões uma paixão platônica pelo próprio patrão, o conde Máximo (Fabio Di Tomaso).

Embora não se saiba se a alteração se deu por motivos dramatúrgicos ou, de fato, pelo temor às reações conservadoras da audiência – afinal, tratava-se de um personagem gay dentro de uma novela infantil -, o fato é que, em Floribella, Evaristo (Leonardo Cortez) foi transformado em hétero, sendo até ‘promovido’ a par romântico da governanta Helga (Vic Militello).

A título de curiosidade, a ‘cura gay’ do mordomo também se repetiu na versão portuguesa da história, onde o personagem foi vivido pelo ator local Rui Mello. Uma mudança que, à época da trama, passou praticamente despercebida, mas que nos dias atuais certamente teria dado o que falar.

Florencia Bertotti foi acusada de plágio por sua novela Niní Divulgação Telefe

Flor ‘paraguaia’

Em meio às tantas versões de Floricienta/Floribella pelo mundo, uma delas se deu de maneira, digamos, ‘extraoficial’. Em 2009, a estrela da trama original, Florencia Bertotti, decidiu tomar as vezes de produtora e lançar a novela infantil Niní, da qual também foi protagonista.

A personagem que dava nome à trama era uma jovem atrapalhada e divertida, contratada por Tomás Parker (Federico Amador), um sisudo embaixador estrangeiro, como babá de seus cinco filhos adotivos, de diferentes idades e nacionalidades.

Essa premissa te soou parecida a Floribella? Pois é, Cris Morena também achou isso. Tanto que resolveu levar a questão aos tribunais, acusando Florencia Bertotti de plagiar sua criação – e obtendo rapidamente ganho de causa. Niní só pôde continuar sua exibição na TV argentina porque Bertotti e Morena chegaram a um acordo, que obrigava a primeira a repassar à segunda uma volumosa porcentagem dos lucros gerados pelo programa. Que babado!

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