Programa especial

“O maior intelectual brasileiro”, diz Ailton Graça sobre personagens em Falas Negas

Árduas trajetórias desses cinco personagens se cruzam

Publicado em 19/11/2020

É na luta que Milton Santos, Malcolm X, Lélia Gonzalez, Nina Simone e Virgínia Bicudo se encontram. As árduas trajetórias desses cinco personagens se cruzam em Falas Negras, especial, da Globo, idealizado e organizado por Manuela Dias e dirigido por Lázaro Ramos, que vai ao ar nesta sexta-feira (20), depois de A Força do Querer.

Além deles, outros 17 depoimentos históricos e autobiográficos de pessoas negras que lutaram contra o racismo e pela justiça poderão ser vistos em 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Os atores Ailton Graça, Samuel Melo, Mariana Nunes, Ivy Souza e Aline Deluna falam sobre a necessidade de se fazer da data não um momento de celebração, mas sim, de reflexão.

Milton Santos (Ailton Graça), do Falas Negras
Milton Santos Ailton Graça do Falas Negras DivulgaçãoGloboVictor Pollak

Ailton Graça interpreta Milton Santos


Geógrafo, jornalista, advogado e professor universitário, nasceu em São Paulo, e viveu entre 1926 e 2001. É reconhecido mundialmente como um dos maiores geógrafos brasileiros e, em 1994, foi consagrado com o Prêmio Vautrin Lud (o prêmio Nobel da Geografia) e tem mais de 40 livros publicados em sete línguas.

Como foi viver Milton Santos?

Além de ter sido um prazer, foi uma grande responsabilidade interpretar aquele que é apontado como o maior intelectual brasileiro. Ele teve uma carreira brilhante e tivemos uma equipe de pesquisadoras que municiaram a gente com informações superimportantes para gente poder mergulhar na interpretação dele.

O texto em si são pílulas desse pensador, e é de uma profundidade gigante. Ele tinha um conhecimento vasto sobre identidade do povo brasileiro.

O que significa o dia 20 de novembro para você?

Essa data tem um peso histórico para nós, negros, que militamos, traz um lugar de reflexão sobre o que foi feito, durante todos esses anos, para se resolver a questão racial no nosso país.

É um lugar que reúne muitas células. Para a gente ver os avanços e as coisas que ainda precisam ser trabalhadas. O dia 20 de novembro traz um pouco de luz nesse sentido. Não é uma data para se celebrar, mas para se refletir.

Malcolm X (Samuel Melo), do Falas Negras
Malcolm X Samuel Melo do Falas Negras DivulgaçãoGloboVictor Pollak

Samuel Melo interpreta Malcolm X

Ativista de direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1925 e 1965. Por influência dos irmãos aderiu ao islamismo. Por conta de sua inteligência, oratória, personalidade forte, logo arrebatou multidões. Com o tempo, seus discursos ficaram cada vez mais concorridos e inflamados. Assim como sua popularidade cresceu, aumentou sua rejeição e fez inimizades que o levaram a ser assassinado.

O que sentiu ao interpretar Malcolm X?

Quando eu recebi esse papel eu fiquei balançado, meio sem chão. Sabia que seria uma responsabilidade muito grande. Quando coloquei o figurino e entrei no estúdio, eu tremi. Mas era uma tremedeira não só de nervosismo, mas de felicidade, ansiedade, eu estava carregando um peso histórico.

Aqueles óculos me davam uma visão de grande futuro. É difícil falar porque é um dos líderes que eu mais admiro, que eu me identifico. Representar esse cara é uma grande responsabilidade, é estar num lugar de potência. Foi um homem que mudou a vida de muitas pessoas com suas palavras.

Qual a importância do especial nesse dia 20 de novembro?

Com esse especial exibido em uma grande emissora de TV aberta, o grande público será apresentado a uma história que sempre foi escondida, heróis escondidos, gente que fez muito pelo povo preto e a maioria das pessoas não sabe. Eu conversei com amigos que não têm conhecimento sobre quem é Malcolm X, e será uma oportunidade para conhecer.

Lelia Gonzalez (Mariana Nunes), de Falas Negras
Lelia Gonzalez Mariana Nunes de Falas Negras DivulgaçãoGloboVictor Pollak

Mariana Nunes interpreta Lélia Gonzalez



Historiadora, antropóloga e professora, nasceu em Belo Horizonte, e viveu entre 1935 e 1994. Intelectual que dedicou parte de seu trabalho a analisar os efeitos da nefasta combinação entre racismo e sexismo na situação das mulheres negras, além de discutir a linguagem e criar as noções de amefricanidade e pretuguês.

Como foi viver Lélia Gonzalez?

Achei o máximo poder falar o texto da Lélia! Ela é muito clara em suas colocações, fala tudo de forma muito concreta. Lélia é a nossa grande pensadora. E o especial vai ser lindo! O Lázaro é um grande diretor, muito sensível, preciso e criativo.

O que o dia 20 de novembro significa para você?

É um dia que aquece meus sentimentos de pertencimento, ancestralidade e de vitória enquanto povo negro. Por outro lado, muitas questões trazidas no mês de novembro deveriam ser abordadas o ano todo.

Nina Simone (Ivy Souza), de Falas Negras
Nina Simone Ivy Souza de Falas Negras DivulgaçãoGloboVictor Pollak

Ivy Souza interpreta Nina Simone


Cantora, compositora e ativista pelos direitos civis, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1933 e 2003. Usava suas canções para expressar sua revolta com os conflitos raciais que testemunhou desde a infância no Sul dos EUA.

Como foi representar Nina no especial?

Nina tinha o mundo todo dentro de sua voz, e lutou incansavelmente pelo desejo de existir e resistir, de escolher sua própria trajetória, num mundo que tenta todo o tempo aniquilar e destruir a possibilidade de ser um sujeito que deseja no mundo.

Foi muito emocionante dar voz a essa mulher que tanto me inspira e é referência para mim e muitas outras pessoas. Espero que sua arte e sua luta continuem ecoando e nos ensinando a ter força para sermos quem somos.

O que 20 de novembro significa?

A memória é a coluna de um povo. Revisitar o passado, repensar, nas referências que construíram, a nossa subjetividade enquanto pretos é uma forma de valorizar e ressignificar a memória da nossa história. É símbolo de resistência, é dia de agradecer aos que vieram antes de nós e possibilitaram algumas das conquistas que nós desfrutamos hoje.

É dia de rabiscar e redesenhar o que foi apagado e de lembrar que ainda temos um caminho gigantesco a percorrer na luta pelos direitos e ‘sobre vivência’ da população preta. Dia 20 de novembro é todo dia.

Aline Deluna vive Virgínia Leone Bicudo, em Falas Negras
Aline Deluna vive Virgínia Leone Bicudo em Falas Negras DivulgaçãoGloboVictor Pollak

Aline Deluna vive Virgínia Leone Bicudo

Socióloga e primeira mulher psicanalista brasileira, nasceu em São Paulo e viveu entre 1910 e 2003. Cofundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise, é uma das responsáveis por importantes publicações na área.

Para você qual a importância desse projeto?

Resgatar figuras e feitos históricos do passado sempre muda a nossa maneira de olhar para o futuro. Ainda hoje quando se fala na história dos negros se pensa primeiro em escravidão, em sofrimento, mas muitos anos antes dessa história, para além dela, fomos heróis, reis, rainhas, exemplos de grandeza e sabedoria, e essas figuras precisam estar presentes para servir de modelo e inspiração.

Qual o significado de 20 de novembro?

Ter um feriado, uma data nacional, faz com que pelo menos uma vez no ano o tema não seja ignorado. Até aqueles que não reconhecem a importância humana desse dia, são, de alguma forma, obrigados a se deparar com a sua existência, e manter o tema vivo é um primeiro passo para que o debate aconteça. É preciso educar as pessoas, e “desensinar” essa discriminação aprendida, que ainda se perpetua ao longo dos anos.

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