Nos 89 anos de Hebe Camargo, relembre a trajetória da Rainha da Televisão Brasileira

Publicado em 08/03/2018

Hebe Maria Monteiro de Camargo: esse era o nome completo da apresentadora mais importante da história da televisão brasileira, nascida na cidade paulista de Taubaté em 1929, no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher – e não poderia haver melhor data para que viesse ao mundo uma figura feminina tão representativa como foi Hebe.

Já no programa inaugural da televisão brasileira, em 18 de setembro de 1950, na entrada da TV Tupi no ar, Hebe cantaria o “Hino da Televisão”, composto pelo poeta Guilherme de Almeida. Mas deu o cano na equipe para sair com o namorado e quem interpretou o hino foi sua grande amiga Lolita Rodrigues. O humorístico Rancho Alegre foi o primeiro que contou com Hebe, e nos primeiros anos ela apareceu frequentemente no vídeo, já que era cantora desde a adolescência. Em 1944, ela começou a cantar na Rádio Tupi, após sua família se mudar de Taubaté para a capital do estado.

Foi o ator e apresentador Walter Forster (1917-1996) quem teve a ideia de lançar Hebe, que até então era apenas cantora, como apresentadora de TV. Em 1955, estreou na TV Paulista O Mundo É das Mulheres, um programa que ela comandava ao lado de parceiras como Yara Lins, Eloísa Mafalda e Cacilda Lanuza no qual eram tratados temas do interesse da mulher junto aos convidados, e cuja última pergunta era sempre a que aludia ao título: “O mundo é das mulheres?” Em 1960, na TV Continental do Rio de Janeiro, deu início ao programa Hebe Comanda o Espetáculo, que durou até o começo de 1962.

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Em 1964, Hebe decidiu abandonar a carreira para se dedicar ao casamento (com Décio Capuano) e à família. Mas voltou alguns anos depois. Aos domingos, entre 1966 e 1973, era Hebe a dona das noites com seu programa na Record TV. Todas as figuras de destaque do cenário cultural e político da época passaram pelo sofá da loira, embora sua simpatia e sua maneira simples e doce de falar fossem confundidas com burrice e falta de cultura por seus detratores.

Após seu casamento com Lélio Ravagnani e uma passagem pela Rede Tupi entre 1974 e 1975, da qual não guardou boas recordações especialmente devido ao desacerto de suas relações com o produtor e diretor Wilton Franco (1930-2012), Hebe passou alguns anos afastada da televisão, dedicada apenas a seu programa na Rádio Mulher de São Paulo, e só voltou aos estúdios de TV em 1979, agora pela Rede Bandeirantes. Foi uma relação de seis anos, com uma pausa entre 1981 e 1982 em razão de divergências da apresentadora com o diretor da emissora na época, Walter Clark (1936-1997), que em sua gestão afastou-a do horário noturno dos domingos e desejava que ela apresentasse um programa na faixa diurna, na qual supostamente o público ideal para ela a sintonizaria. Mesmo antes e depois da gestão de Clark na emissora, a Bandeirantes não tratava sua maior estrela da melhor forma, embora obtivesse com sua presença no cast grande prestígio.

A estreia de Hebe no SBT ocorreu em 1986. Ao longo de quase 25 anos, semanalmente a apresentadora conduziu seu programa com a simpatia e a desenvoltura de sempre, fazendo para os convidados as perguntas que acreditava que o público de casa gostaria de fazer se tivesse a oportunidade e reagindo da maneira mais espontânea às respostas e situações no palco. No início da década de 1990 ela chegou a ter não um, mas dois programas distintos nas noites da TV de Silvio Santos: além do Programa Hebe, havia o Hebe por Elas, que estreou na programação especial dos 10 anos de SBT em 1991 e abordava com viés sério e analítico os problemas do universo feminino, sem futilidade nem superficialidade. Foi exibido até 1993. Em 1998, Hebe foi escolhida para ser a Madrinha do Teleton, campanha beneficente que arrecada todos os anos donativos para a ação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) durante uma maratona de mais de 24 horas ininterruptas que o SBT dedica à causa.

Especialmente a partir da década de 1980, quando inaugurou mais uma das muitas fases de sua na ocasião já extensa carreira, Hebe provocou diversas polêmicas em razão das opiniões politizadas que manifestava em seu programa – mas desde os anos 1970 já causava celeuma de vez em quando com a Censura, já que recebia em seu sofá pessoas às quais o regime não era muito simpático, como o dramaturgo e ator Plínio Marcos e o cantor e compositor Juca Chaves. A classe política foi duramente criticada por ela em um sem-número de ocasiões, quando Hebe falou sobre a desigualdade social, a vida dos aposentados e sua baixa renda após décadas de trabalho, a posição e os direitos da mulher, a corrupção, a violência. Isso inclusive levou a que o Programa Hebe deixasse por vezes de ser apresentado ao vivo, tendo de ser gravado para que eventuais dissabores pudessem ser evitados. Também não faltaram vozes a acusá-la de hipocrisia, ao falar de males do povo quando manifestava sua simpatia a figuras da direita como Paulo Maluf.

No final de 2010, Hebe anunciou no próprio programa sua saída do SBT. Em março de 2011, estreou na Rede TV!, onde ficou até setembro de 2012. A rescisão contratual foi de comum acordo. Ela voltaria ao SBT, e inclusive já havia assinado um novo contrato, quando faleceu.

Hebe Camargo nos deixou em 29 de setembro de 2012, após uma parada cardíaca e uma luta de mais de dois anos contra um câncer no peritônio (membrana que reveste o abdômen e os órgãos dessa parte do corpo). Uma rede de hospitais estaduais de combate ao câncer em São Paulo ganhou seu nome, bem como uma avenida no bairro do Morumbi, na capital paulista, onde vivia. Seu lugar na televisão brasileira permanece vago – a esposa, a mãe, a tia espirituosa, a madrinha, a avó de língua solta e muita opinião, a “caipira” que nunca deixou sua personalidade simples de lado, segue insubstituível. Como dizia o tema de abertura de seu programa nos anos 1980, já no SBT: “Hebe, Hebe/O amor em primeiro lugar/Hebe, Hebe/Uma estrela no ar!”

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