Negócio da China: há 10 anos, terminava a única novela de Miguel Falabella às 18h

Publicado em 13/03/2019

Há 10 anos, em 13 de março de 2009, a Rede Globo levava ao ar o último capítulo de Negócio da China. Foi a primeira e única novela de Miguel Falabella para o horário das 18h da emissora, estreada em 6 de outubro de 2008. Todas as outras foram exibidas às 19h.

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A trama central de Negócio da China

Apaixonados e casados ainda bastante jovens, Heitor (Fábio Assunção) e Lívia (Grazi Massafera) acabaram por se separar. Cada um seguiu seu caminho, cuidando do filho pequeno Théo (Eike Duarte). Heitor, ainda apaixonado, tenta uma reaproximação com Lívia. Mas ela, ao voltar de Portugal, onde estava a trabalho, traz também outro homem apaixonado: o padeiro João (Ricardo Pereira). Este vem para o Rio de Janeiro com a mãe Aurora (Maria Vieira) para trabalhar na padaria de seu tio Belarmino (Joaquim Monchique).

No mesmo bairro, o Parque das Nações, mora o jovem Diego (Thiago Fragoso), estudante de direito. Com a morte do homem que cresceu chamando de pai, Ernesto (Antonio Fagundes), Diego descobre que não é seu filho verdadeiro. Diego empreende então, junto de sua mãe, Júlia (Natália do Valle), uma busca por seu pai. Com o intuito de conhecer o doador do sêmen à clínica em que Júlia fez a inseminação artificial mais de vinte anos atrás, o jovem compromete seu relacionamento com a namorada Celeste (Juliana Didone). A moça é filha de Belarmino e Carminda (Carla Andrino).

Esse doador é Adriano (Herson Capri), advogado paulista que vive com o pai, Dr. Evandro Fontanera (Francisco Cuoco). O empresário teme morrer sem que haja um neto que garanta a continuação do nome de sua família. Ligando as diversas tramas, um pendrive que o chinês Liu (Jui Huang) coloca na bagagem de Aurora no aeroporto de Lisboa e dá início a uma frenética busca pelo aparelho. Ele contém uma senha de acesso a uma conta com um bilhão de euros, dinheiro roubado pelo oriental.

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Uma novela problemática

Negócio da China era uma novela de premissa interessante, mas com muitos problemas em seu decorrer. O primeiro deles surgiu antes mesmo da estreia, a saber, ao ser anunciado o nome de Grazi Massafera para o posto de protagonista. A moça demonstrou segurança e não comprometeu o resultado. Era sua terceira novela. Depois, com um mês no ar, Fábio Assunção afastou-se das gravações por motivo de saúde e não mais retornou. Seu personagem sequestrado e assassinado pelo grupo marginal que buscava a posse do pendrive. Para fazer as vezes de Fábio no triângulo amoroso com Grazi e Ricardo Pereira, foi escalado Dalton Vigh, depois de se ter falado em Thiago Lacerda. No entanto, o Dr. Otávio de La Riva teve como função básica apenas cuidar da saúde de Théo, já que público aprovou o casal formado por Grazi e Ricardo.

Isso tudo, aliado a uma história confusa, hesitante entre o drama e a comédia, fez com que a audiência não correspondesse ao desejado. Autor habitual do horário das 19h, Falabella não encontrou às 18h o mesmo ambiente para seu estilo. Mais escrachado, irreverente, uma hora antes do comum ele foi obrigado a se adequar.

Destaques e curiosidades do elenco de Negócio da China

Em meio ao resultado desapontador em termos de audiência, restaram bons momentos do elenco. Os atores portugueses Joaquim Monchique, Carla Andrino e Maria Vieira foram atrações à parte. Com efeito, merece destaque também o trabalho Luciana Braga na pele de Denise, a invejosa e amargurada irmã de Júlia. Ainda, a jovem Bruna Marquezine, que vimos crescer na televisão. Aqui ela se firmou como grande promessa da teledramaturgia no papel de Flor-de-Lis.

Uma curiosidade é que Jui Huang só ganhou o papel de Liu porque o ator escalado em princípio, Anderson Lau, quebrou o pé e não pôde gravar os primeiros capítulos. Quando se restabeleceu, ele ganhou o papel de antagonista de Liu, Wu Chuang. Além disso, falou-se em Angélica para interpretar Lívia. No decorrer da história entrou Cláudia Jimenez como Violante, personagem criada em homenagem a Dercy Gonçalves. Outra atriz que entrou “com o bonde andando” foi Fernanda Rodrigues, como a mau-caráter Stelinha.

Falabella às 18h: um erro da emissora

Com toda a certeza, o horário foi um grande percalço a ser transposto pelo autor. Na época, Falabella declarou à jornalista Patrícia Kogut: “Tentei uma sutileza no perfil dos personagens, mas descobri que o público não quer sutileza. As pessoas querem um galã evidente, um vilão segurando uma tabuleta onde está escrito ‘vilão’. E por aí vai.” Ao final, Falabella declarou: “Novela das seis nunca mais, não é meu perfil”. Todavia, apesar de tudo, foi uma experiência válida.

Esse problema que vez por outra o horário das 18h enfrenta é até certo ponto um reflexo da postura da própria Globo ao longo de décadas. Ao estratificar as histórias conforme características que cada horário assumiu desde os anos 1970, tornou-se cada vez mais complicado propor temáticas diferentes. Desse modo, uma comédia fora das 19h ou uma novela de época que não fosse das 18h passaram a causar estranhamento. Só para ilustrar, desde 2003, com Esperança, a faixa principal não exibe histórias de época. Bem como as novelas das 19h não são dramas mais sérios e densos. Ademais, mesmo que se passem nos dias atuais, as novelas das 18h seguem mais “leves” e “despretensiosas” no geral. Ao mesmo tempo, nos últimos anos algumas das mais interessantes histórias da emissora têm ido ao ar nesse horário.

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