Programa histórico

“Muhammad é um exemplo, ícone, ídolo a ser seguido”, diz Babu Santana sobre seu papel em Falas Negras

Ainda na atração, Heloísa Jorge interpreta a rainha Nzinga Mbandi

Publicado em 18/11/2020

Independentemente da época, a trajetória de luta contra o racismo e em favor da justiça e da liberdade coloca na mesma página a rainha Nzinga Mbandi (Heloisa Jorge), ex-escravizados como Baquaqua (Reinaldo Junior) e Harriet Tubman (Olivia Araujo) e o lutador Muhammad Ali (Babu Santana).

Os quatro dão alguns dos 22 depoimentos históricos que o público vai conferir em Falas Negras, especial idealizado por Manuela Dias e dirigido por Lázaro Ramos que a Globo exibe no dia 20 de novembro.

Em entrevistas abaixo, Heloisa Jorge, Reinaldo Junior, Olivia Araujo e Babu Santana falam sobre a experiência de participar do especial na pele de personagens tão emblemáticos.


 

Heloisa Jorge é Nzinga Mbandi 

A rainha do Reino do Dongo e Matamba nasceu na Angola e viveu entre 1583 a 1663, e simboliza a resistência africana à colonização e a comercialização de escravos. Foi uma rainha combatente, destemida, chefiou pessoalmente o exército até os 73 anos de idade. 

Como foi interpretar Nzinga Mbandi?

Foi mágico e desafiador ao mesmo tempo, porque a Rainha Nzinga Mbandi é uma referência muito valiosa para a construção da nossa história e identidade em Angola. Quando eu falo da Nzinga, me lembro da minha infância no meu país, me traz a sensação bonita do pertencimento, lembro com saudade do bairro da Maianga em Luanda onde eu estudei, dos primeiros livros de história que contavam que a Njinga foi a mulher destemida e astuta que lutou até quase os 72 anos de idade contra a coroa portuguesa.

A Nzinga é um dos mais importantes símbolos nacionais que nós temos lá. Essa mulher lutou muito para defender o reino do Ndongo e da Matamba, comandou um exército naquele tempo, uma estrategista nata que negociava em pé de igualdade com os portugueses.

Foi muito emocionante dizer as palavras que ela mesma escreveu na carta para o governador português da época, me senti orgulhosa por ser filha daquele país e muito feliz em poder honrar o lugar de onde eu vim partilhando um pouco do que a Rainha Nzinga representa não só para Angola, mas para todo o continente africano. 

Acredita que o programa vai tocar o espectador?

Espero que a partir dos relatos históricos as pessoas se interessem em refletir sobre o Brasil e o mundo que nós temos hoje. Acredito que será mais uma ótima oportunidade para se abrir a escuta e conhecer um pouco mais sobre a nossa história. 

Olivia Araujo é Harriet Tubman 

Ex-escravizada, tem data de nascimento imprecisa, tida como 1820 ou 22, e viveu até 1913. Ela se alistou como cozinheira e enfermeira durante a Guerra Civil Americana para espionar e captar informações, e ali ajudou na fuga de centenas de escravizados dos territórios dominados das fazendas do sul dos Estados Unidos rumo ao norte do país, onde não havia escravidão, e ao Canadá.  

Como foi viver Harriet Tubman?

Fiquei muito feliz e emocionada de ser a voz dela. Uma história linda dessa mulher que pensou e fez pelo coletivo, libertou pelo menos 300 pessoas escravizadas, foi enfermeira, foi para a frente de batalha e participou do movimento feminista. Uma mulher incrível que merece ser reconhecida e respeitada.  

O que 20 de novembro significa para você?

Essa data marca o reconhecimento por todos os que fizeram o caminho da liberdade, da humanização, e resgate da dignidade do povo preto. Lembra daqueles que se mantiveram vivos mesmo com toda a adversidade e crueldade para que hoje nós possamos estar aqui e seguir em frente com muito mais possibilidades.

Reinaldo Junior é Mahommah G. Baquaqua 

Ex-escravizado, viveu entre 1820 e 1857, nasceu na África Ocidental, no atual Benin, veio em um navio negreiro que aportou em Pernambuco. Mas o trabalho em um navio mercante, que o levou para Nova York, mudou sua vida completamente.

 Naquela época, os estados do Norte dos Estados Unidos já tinham abolido a escravidão, e Baquaqua conseguiu fugir. Em Detroit, publicou sua biografia, que é um dos poucos registros da época contados nas palavras de um negro escravizado no Brasil, e que descreve em detalhes os hediondos castigos cometidos contra os escravizados no país.  

Você se emocionou ao interpretar Baquaqua?

Ele nos deixa um legado de levante e rebeldia através da sua inteligência e a não aceitação da condição imposta como “escravo”. Impossível não se emocionar com um sentimento que nos atravessa há pelo menos 300 anos, que é o sentimento de “eu prefiro morrer do que viver como escravo”. Acredito que seja o grito engasgado da maioria de pretos trabalhadores que vivem em condições subalternas.  

Qual o maior mérito do especial para você? 

O de termos 22 vozes e relatos históricos, reais, para milhões de brasileiros que se reconhecem nesses corpos, falas e vivências! Identificação direta!  

Babu Santana é Muhammad Ali

Maior pugilista da História, eleito “O Desportista do Século”, nasceu nos Estados Unidos, viveu entre 1942 a 2016. Ali nasceu Cassius Clay e a vitória no pugilismo veio junto com sua conversão ao islã e a mudança de nome. Ele passaria então a se chamar Muhammad Ali.

Convocado, recusou-se a ir à guerra do Vietnã e desafiou o governo americano. A atitude rendeu a cassação de seu título de pesos pesados e o deixou por três anos longe dos ringues até que a Suprema Corte decidisse a seu favor. 

Como foi viver Muhammad Ali?

Foi demais porque Muhammad é um exemplo, ícone, ídolo a ser seguido. Quando eu era mais jovem, sonhava me tornar lutador e ele era um dos maiores lutadores do mundo. Quando o vi falando, foi a primeira vez que eu vi um lutador falar daquele jeito. Eu me emocionei pelas condições em que ele se encontrava, as condições da luta dele foram muito traumáticas.

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