Relembre outras vezes que, como em A Dona do Pedaço, Walcyr Carrasco levantou a bandeira da inclusão social

Publicado em 25/05/2019

Com O Sétimo Guardião devidamente finalizada, todas as atenções já se voltaram para a nova novela do horário nobre da Globo: A Dona do Pedaço. Esta criação do controverso autor Walcyr Carrasco promete cativar o público ao unir a receita tradicional dos folhetins – a especialidade do novelista – com algumas surpresas.

Uma delas deve ficar por conta da presença da atriz transexual Glamour Garcia, 32 anos. Pela primeira vez atuando em uma novela, ela interpretará Britney, que, nascida como um rapaz chamado Rérisson, causa frisson na família ao desvelar sua verdadeira identidade de gênero. Mais tarde, a personagem se envolverá com um homem heterossexual, sem que ele sequer desconfie de sua origem biológica masculina.

Quem acompanha há mais tempo a carreira de Walcyr na telinha, especialmente na Globo, sabe que o escritor adora levantar a bandeira da inclusão social nas novelas que assina. Relembremos alguns casos.

A atriz Danieli Haloten era cega como sua personagem (Divulgação / Globo)

Anita (Danieli Haloten), de Caras & Bocas (2009)

Quando criou a personagem da irmã cega do mocinho Gabriel (Malvino Salvador), Walcyr Carrasco comentou com o diretor da trama, Jorge Fernando, que não gostaria de dar o papel a uma intérprete que simulasse a deficiência, tal qual já fora feito em diversos folhetins.

Foi quando chegou até ele o e-mail de Danieli Haloten, procurando por chances na carreira televisiva. Cega desde os 17 anos, ela se encaixou como uma luva nos planos de Carrasco, que fez dela a primeira atriz cega a atuar numa novela nacional.

Sua personagem, Anita, trabalhava vendendo flores às portas de restaurantes e acaba despertando a paixão de Anselmo (Wagner Satisteban), um simples garçom, que se passava por cliente milionário como forma de se aproximar da moça.

Rafael (Henry Fiuka), de muletas, ao lado de Ícaro (Mateus Solano) e Amanda (Carla Marins) (Divulgação / Globo)

Rafael (Henry Fiuka), de Morde e Assopra (2011)

Esta trama das 19h sofria de baixa audiência quando Walcyr provocou uma reviravolta inesperada na história: tirou de cena a robô Naomi (Flávia Alessandra), criada por Ícaro (Mateus Solano) para ocupar o lugar de sua supostamente falecida esposa, e trouxe de volta a versão humana da personagem – que, afinal, encontrava-se viva.

Naomi voltou acompanhada do pequeno Rafael, garoto de apenas dez anos que havia perdido parcialmente a mobilidade após um grave acidente e usava muletas para caminhar. Crente de que o garoto era seu filho, o cientista Ícaro fez o impossível para vê-lo voltar a andar normalmente, e a novela deu destaque a todo o longo processo de reabilitação que o garoto teve de enfrentar – bem como às dificuldades inerentes à sua inicial condição.

Bruna Linzmeyer brilhou como a autista Linda em Amor à Vida (Reprodução / Globo)

Linda (Bruna Linzmeyer), de Amor à Vida (2013)

Após duas bem sucedidas experiências em termos de merchandising social, Walcyr Carrasco decidiu ousar ainda mais em sua estreia no horário nobre da Globo, incluindo uma personagem autista na trama de Amor à Vida.

Superprotegida pela mãe, Neide (Sandra Corveloni), e desprezada pela irmã mau caráter, Leila (Fernanda Machado), Linda tinha uma intensa dificuldade de se relacionar com o mundo ao seu redor, bastante própria de sua condição. Parte dessa dificuldade se desvanecia depois que ela descobria o amor nos braços de Rafael (Rainer Cadete), advogado que, com sua sensibilidade peculiar, conseguia compreender o universo da jovem autista.

Bruna Linzmeyer, em sua terceira novela, brilhou numa impecável construção da personagem, enquanto o romance entre os dois pombinhos ganhava a torcida e a aprovação do público. Mesmo assim, algumas mães de autistas criticaram esse entrecho da novela, afirmando considerar “completamente fantasiosa” que pessoas na condição de Linda pudessem vivenciar um namoro comum, com alguém que não possuía suas mesmas limitações.

Juliana Caldas vive polêmica personagem em trama das 21 horas (Divulgação/TV Globo)
Estela (Juliana Caldas) em O Outro Lado do Paraíso (Divulgação/TV Globo)

Estela (Juliana Caldas), em O Outro Lado do Paraíso (2017)

Sem dúvida, a mais criticada e controversa abordagem de inclusão social no currículo do autor. Nessa novela de grande audiência, mas com qualidade bastante questionável, a anã Estela era uma das três herdeiras da milionária Sophia Montserrat (Marieta Severo), que a desprezava abertamente por sua condição e a chamava de ‘monstrengo’.

Ao invés de mostrar as dificuldades diárias do nanismo, bem como as ferramentas para superá-las, Walcyr limitou-se a construir uma Estela passiva e rebaixada, envolvida em um triângulo amoroso com o português interesseiro Amaro (Pedro Carvalho) e o gentil lapidador Juvenal (Anderson di Rizzi).

Foram tantas as críticas em cima dessa retratação tão superficial da síndrome que o autor acabou incrementando a trama de Estela. Aos poucos, ela foi deixando os conflitos amorosos em segundo plano para se tornar professora de alfabetização para adultos na carente região de Pedra Santa.

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