Horário nobre

Lícia Manzo, autora de Um Lugar ao Sol revela surpresa ao ver primeiros capítulos: “Incrédula”

Trama é protagonizada por Cauã Reymond, Andréia Horta e Alinne Moraes

Publicado em 29/10/2021

Lícia Manzo, autora de Um Lugar ao Sol, próxima novela das nove, estreou na profissão aos 15 anos, assinando o primeiro texto encenado pelo grupo Além da Lua, fundado por ela e vencedor do Prêmio Molière como o melhor grupo de teatro para crianças, em 1984.

Há 20 anos na Globo, escreveu para os humorísticos Sai de Baixo, Retrato Falado, A Diarista, entre outros, e foi criadora do seriado Tudo Novo de Novo, com direção geral de Denise Saraceni, em 2009. Em 2011, Lícia emplacou sua primeira novela, o sucesso A Vida da Gente, reprisada recentemente em edição especial na faixa das seis.

Em 2015, foi ao ar sua segunda novela, Sete Vidas, também das seis. Agora, com Um Lugar ao Sol, prepara-se para estrear sua primeira obra no horário das nove. Mestre em Literatura Brasileira pela PUC/Rio, Lícia publicou o ensaio biográfico Era uma vez: eu – a não-ficção na obra de Clarice Lispector, indicado para o Prêmio Jabuti, em 2003. 

Ela é ainda autora do sucesso teatral A História de Nós 2 (indicado para o Prêmio Shell na categoria melhor texto), e do espetáculo Aquela Outra, com direção de Clarice Niskier. 

Confira a entrevista com a autora de Um Lugar ao Sol.

Como surgiu a ideia de escrever Um Lugar ao Sol?

Difícil saber de onde vêm as ideias. Lembro que havia terminado um trabalho, em 2017, e viajei de férias para São Miguel dos Milagres. Sentada na praia, ouvi uma canção de Tracy Chapman, ‘Mountain of Things’. Lembro de ter pensado pela primeira vez, ali, nas linhas gerais da história, que anotei no bloco de notas do celular.

De volta ao Rio, assisti na Globonews ao documentário ‘Meus 18 Anos’, sobre jovens que, ao completarem a maioridade, precisam deixar o abrigo para menores onde foram criados. Lembro de ter ficado comovida com os depoimentos desses jovens: alguns sonhavam ser advogados, médicos, engenheiros, enfim. Aos 18 anos, estavam sozinhos no mundo, entregues à própria sorte. Ainda assim, sonhavam se tornar alguém, fazer diferença, ter um lugar ao sol.

A partir daí, acredito, foi se formando para mim o novelo central da novela: dois irmãos gêmeos, idênticos, separados no nascimento. Um deles, Christian, encaminhado a um abrigo. O outro, Renato, adotado por um casal abastado. Ao trazê-los para o centro da trama, ou mais que isso, ao fundi-los em um só (na medida em que o primeiro deverá tomar para si a vida e identidade do segundo) questões como integridade, ética, desigualdade social são levantadas na novela, não de um ponto de vista estatístico ou factual, mas íntimo, subjetivo e humano. 

Você disse há algum tempo em uma entrevista: “Relações humanas, familiares, tendem a ser, desde sempre, meu principal interesse”. Isso tem sido uma marca sua – e já foi até tema de monografia. Como isso está presente em ‘Um Lugar ao Sol’?

Não saberia, eu acho, abordar qualquer assunto a partir de uma perspectiva macro. A chave de compreensão, para mim, está sempre na perspectiva micro, particular, íntima. O fato importando menos, eu acho, que a repercussão do fato no indivíduo.

Outra característica das suas obras é retratar com profundidade o universo feminino, trazendo a força da mulher. ‘Um Lugar ao Sol’, apesar de ter um protagonista masculino, mantém essa linha de várias personagens femininas centrais na trama. É uma escolha ou isso vai surgindo naturalmente?

Mais que naturalmente. Mulheres representam metade da humanidade, embora até hoje sejam tratadas como uma espécie de minoria. Escrever uma trama sem personagens femininas centrais, seria escrever sobre um mundo manco. Um mundo que não conheço.

Seu processo de trabalho durante a pandemia foi muito diferente do habitual? Quais foram os maiores desafios?

Sim e não. O autor de novelas, de certo modo, já vive uma espécie de quarentena. Você não viaja, não vai a festas, não sai para beber com os amigos. O maior impacto, para mim, foi não poder encontrar minha equipe. Durante um ano e meio trabalhamos remotamente – o que num processo humano, sensível, criativo, pode ser desafiador. De todo modo, durante quase um ano, me refugiei no mato e escrevi de lá, cercada de cachorros, galinhas – o que ajudou a restaurar minha humanidade.

Um Lugar ao Sol é a sua primeira novela das nove. A expectativa (ou o frio na barriga) está sendo diferente das suas novelas anteriores?

Sim e não, novamente. Sem frio na barriga não existe criação. Mas a pandemia, nesse sentido, foi um desafio a mais. E ao assistir os primeiros capítulos em casa, me flagrei surpresa, incrédula, com o resultado impecável e com a capacidade de adaptação da equipe e da empresa, que rapidamente criou condições seguras para que o trabalho pudesse seguir.

Como foi a escolha do elenco?

Muito harmônica, junto com a direção. Se eu e Maurício divergimos em algum nome, eu nem me lembro. Desde que estive nas primeiras leituras, saí aliviada e com a certeza de que tínhamos feito as escolhas certas.

Como foi a parceria com o diretor Maurício Farias durante essa jornada?

Sou admiradora do trabalho dele. Me sinto muito feliz com esse encontro.

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