Entrevista

Flávio Tolezani revela autocrítica ao assistir as cenas de Roy na reprise de Verdades Secretas

Ator viveu um músico que se acaba no mundo das drogas ao lado de Larissa (Grazi Massafera)

Publicado em 02/12/2021

Verdades Secretas está sendo reprisada pela Globo e tem agitado o elenco da trama. Flávio Tolezani, que viveu Roy, é um dos atores que acompanha a novela.

Intérprete do músico que se acaba no mundo das drogas, ele faz um balanço desse trabalho tão importante. Por mais que o personagem irritasse o público, ele também era uma vítima.

Flávio destaca que Roy passava por um grave problema psicológico, assim como a sua namorada, Larissa (Grazi Massafera). A parceria rendeu elogios visto às cenas realistas que mostravam o drama dos viciados em crack.

Em entrevista, o ator rememorou a participação na primeira temporada de Verdades Secretas e revelou que é bastante autocrítico com o trabalho. Confira.

Como você descreve o Roy?

Eu costumava dizer sempre na época das gravações: por mais que ele tenha suas atitudes extremas, seu comportamento negativo, ele também é uma vítima. Ele é uma vítima da sociedade, uma vítima do sistema. O Roy é um dependente químico e isso tem que ser visto como uma doença — o que não acontece na maior parte dos casos, ainda mais no crack. Roy é um cara que tinha um futuro promissor e ele se frustrou. Um cara muito legal que teve contato com as drogas e virou dependente químico, e a partir daí só foi para o fundo do poço. E, no momento em que está tentando se livrar disso, conhece a Larissa. Ele desanda completamente com essa paixão que chega e o desestabiliza ainda mais.

Como foi o trabalho de composição do personagem? Você chegou a conversar com dependentes químicos e terapeutas?

A construção, a composição do personagem, foi feita com um trabalho intenso anterior de preparação, de ensaios com o preparador de elenco, que era o Sergio Penna, com a Grazi (Massafera) e com o elenco todo que compunha esse núcleo da cracolândia. Foi um trabalho super intenso, porque é muito delicado falar desse tema e com a realidade que a gente retratou, isso tinha que ser muito bem cuidado. Então fizemos uma grande pesquisa do que é ser um dependente químico e o que é estar no fluxo, na cracolândia. A gente teve, além de trabalhos nossos nos Estúdios Globo, em salas de ensaio, um trabalho em São Paulo de pesquisa, de fato, na cracolândia, nos arredores e conversando com dependentes químicos. Tudo isso foi feito com muito cuidado, com muita segurança. Todos foram muito bem orientados de como se comportar lá e, daí, sim, ter o contato com dependentes, com especialistas. Um trabalho muito bonito que foi guiado pelo Maurinho (Mauro Mendonça Filho), que sabia que a gente precisava ir muito a fundo.

Qual a principal lembrança que você tem do período de gravação?

A principal lembrança que eu tenho é das diárias na locação que era a nossa cracolândia. Tenho muito forte essa lembrança de estar naquele lugar, com aquele visual, com uma equipe gigantesca, não só de filmagem, mas, principalmente, a equipe de figuração e de elenco de apoio que compunha esse ambiente. Era muito emocionante estar lá, muito tocante, porque mexemos com uma realidade difícil, e era tudo feito de uma forma em que se buscava uma verossimilhança muito grande. A gente tinha momento de realmente se emocionar, até fora de cena — eu, Grazi, os colegas de elenco. Foi tudo feito com muita atenção, com olhar artístico muito grande e com cuidado humano. A gente ficava muito tempo lá gravando e o resultado eram cenas de tempo até curto, porque era muito trabalhoso.

Qual foi o grande desafio desse trabalho como um todo?

O grande desafio foi justamente falar de um assunto muito delicado. Acho que foi muito acertado o jeito que o Walcyr escreveu e que o Maurinho retratou, como toda a equipe lidou. E o resultado é que a gente teve um retorno muito bom — não só artístico, mas também como função social. Esse assunto foi muito discutido. Não só do ponto de vista dos dependentes e de potenciais dependentes como também dos familiares. O grande desafio foi falar sobre esse tema de um jeito que tocasse as pessoas na medida, com o máximo de realidade possível e que ainda levantasse o assunto, que viesse à tona essa discussão social sobre o que é ser dependente químico. Está aí a importância de retratarmos e falarmos sobre isso na TV. Uma mídia de alcance extremamente potente, grande e popular. É extremamente importante isso, Verdades Secretas foi muito além do entretenimento. Em todas as tramas, tinha ali uma questão social muito latente envolvida.

O público o abordava muito nas ruas por conta da trama quando ela foi exibida originalmente?

A partir do momento em que a trama em torno das drogas estava muito evidente eu era muito abordado. Até porque tinha o visual muito marcante do personagem, o cabelão, a barba. Era muito fácil ser reconhecido e as pessoas assistiam muito à novela. Tinham todos os tipos de abordagem, desde o elogioso até críticas por ter levado a Larissa para o mundo das drogas. Mas as pessoas eram sempre muito carinhosas.

Como foi a parceria com Grazi Massafera?

Dessa parceria eu só tenho coisa boa para falar. Acho que está aí o resultado: o quanto que esse trabalho foi comentado e o quanto a Grazi foi reconhecida. A gente tinha uma cumplicidade em cena que adquirimos rápido, não nos conhecíamos antes desse trabalho. Precisávamos de uma confiança muito grande, porque tínhamos cenas muito delicadas e profundas, situações muito extremas. E a gente se apoiou um no outro. Ela foi de uma generosidade enorme, o tempo todo. Tenho um carinho, um amor por esse trabalho e pela parceria com ela

Você está assistindo novamente à trama? É muito autocrítico ao rever um trabalho antigo?

Sempre que possível eu estou revendo. E a autocrítica? Ai, minha autocrítica é enorme! Acho que quando a gente revê um trabalho que já tem alguns anos, tendemos a ter um olhar um pouco diferente, porque cinco, seis anos já se passaram. Então, a gente já nem se reconhece mais como aquela pessoa. É engraçado, né? A gente já está em outro lugar, já evoluiu, pensa diferente. Acho que não é mais uma autocrítica tão grande e, sim, uma análise de: “Olha, nessa cena o caminho poderia ter sido um pouquinho diferente”. Quer dizer, dói menos do que uma autocrítica muito fresca, de um trabalho que está acontecendo ou acabou de acontecer.

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