E lá se foi um mês de capítulos pedantes, insonsos e repletos de incoerências da novela Triunfo do Amor, a mais recente estreia inédita do SBT na faixa das novelas da tarde. Beirando a mediocridade, o folhetim protagonizado pela ex-RBD e agora estrela da Netflix, Maite Perroni, caminha para o topo no ranking dos piores títulos mexicanos da história da emissora no horário.
Veja também:
As atuações fogem do caricato e são tão desprezíveis que não caberiam sequer como paródia de um humorístico ultrapassado. A atriz Victória Ruffo, um das veteranas mais reconhecidas e prestigiadas no país de Thalía, dá vida a Vitória, uma poderosa estilista que comeu o pão que o diabo amassou ao engravidar de um seminarista e ser expulsa de casa. Sendo assim, obrigada a abandonar sua filha recém-nascida.
Ruffo nunca se perdeu tanto num papel como nessa adaptação. Chega a ser uma ofensa a Helena Hojo, que conduziu com glória e maestria essa mesma personagem em O Privilégio de Amar, versão de sucesso da rede de San Angel, produzida em 1998.
Adela Noriega, então, deve ter sentido dores de barriga ao assistir Maite Perroni destruindo a icônica Cristina encarnada de Maria Desamparada. E favoritismo não cabe aqui. Tampouco saudosismo. Ambas as atrizes tem suas qualidades e defeitos. A questão são as performances em cena. Perroni, sim, teve mais recursos que Noriega, mas não fez esforço algum na entrega de Maria.
Triunfo do Amor é toda controversa. Nada convence, é tudo muito leviano, recheada de problemáticas que não se sustentam, como por exemplo, Vitória e o padre João Paulo acreditarem numa falsa filha.
O assassinato diabólico da governanta Tomásia, que recebe um golpe de bengala na cabeça e tem seu corpo queimado na lareira dentro de casa, com a ajuda de um mero desconhecido, que entra inesperadamente na casa de Bernarda e se dispõe a ajudar no crime, gratuitamente. É bizarro!
O sumiço da funcionária não desperta a curiosidade do padre, que foi crido por ela. Nem mesmo a polícia é chamada para investigar o caso. O assassinato apenas começa e termina ali mesmo. Talvez, lá para o final da história, o assunto volte à tona e Bernarda pague pelo crime.
Produzida em 2010, pela Televisa, a trama originária de Cristal, de Delia Fiallo, gerou tantos problemas quanto a versão brasileira produzida pela rede de Silvio Santos, em 2006, também de nome Cristal. A crítica especializada caiu matando em cima de Mejía, que transformou a quase cinquentona Victória Ruffo em jovenzinha de 16 anos no início da novela.
Fiallo, questionada por um jornalista mexicano à época, sobre o que achava do nome Maria Desamparada para sua protagonista, ela foi taxativa: “É a coisa mais ridícula e melodramática que já vi”, esbravejou.
Com uma escalação de elenco completamente equivocada, com ressalva, é claro, para Daniela Romo, em perfeita sintonia com sua personagem religiosa do mal, Bernarda, a Televisa errou em quase tudo. Tanto é que personagens entram e saem da trama como num mercado em dia de promoção.
Ainda sobre Daniela Romo, mesmo em boa forma, sua vilã ardilosa não salva Triunfo do Amor do mais baixo nível de produção. Sem recursos técnicos o suficiente, Triunfo do Amor padece no ar sem investimentos.
Observamos que cenários, objetos de cena e a própria direção do renomado Salvador Mejía Alejandre se assemelhem ao clássico seriado Chaves. É risonho e ao mesmo tempo triste, levando em consideração a trajetória de grandes sucessos na carreira do produtor, com destaque para Fuego en La Sangre (2008), Mundo de Feras (2006), A Madrasta (2005), A Usurpadora (1998), e Esmeralda (1997).
Chega a ser uma ofensa à atração de Roberto Gómez Bolaños tal comparação. Maite Perroni e William Levy, em suas piores performances em cena, acredito eu que desejam apagar da história este trabalho. Na mesma medida que são shipáveis, são odiosos.
A novela ainda tem um longo caminho pela frente e a tendência é que a história se levante um pouco dessa leviandade. Em tempo, fica como lição para a direção do SBT, repensar melhor a escolha. Nem toda inédita merece nosso tempo.
*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.