Entrevista

Especial Falas de Orgulho mostrará vida de Sasha Zimmer

"Claro que fui ferido e houve mágoas, mas sempre tive muita coragem para seguir em frente"

Publicado em 24/06/2021

Bailarino, cantor e artista. Foi através da maquiagem e das perucas que Fábio dos Santos – nome que Sasha recebeu ao nascer – cresceu, se fortaleceu e conseguiu se libertar. Aos 16 anos, o menino de Limeira (SP) descobriu a arte drag queen e aos 17 já se montava e fazia shows pela cidade.

A partir daí, sua personagem drag, Sasha Zimmer, passou a ocupar tanto espaço em sua vida que Fábio entrou com o processo para retificação do seu nome e foi aceito.

“Hoje eu me sinto melhor com Sasha. Como é um nome que pode ser tanto masculino quanto feminino, acho que combina mais comigo. Eu sou um homem gay, mas gosto de transitar entre os gêneros. E o nome Sasha e a arte drag me permitem isso”, explica ele, que é um dos personagens de Falas de Orgulho, especial que vai ao ar na TV Globo no dia 28 de junho, dia internacional do orgulho LGBT. 

Aos 14 anos, após assumir sua sexualidade para a família, Sasha foi levada para a igreja evangélica pela sua avó numa tentativa de que o menino “se encontrasse”. O que ela não esperava é que o encontro fosse justamente com a sua maior paixão: o entretenimento.

“Como bom fã de Beyoncé e Britney, eu aprendia a coreografia delas e colocava nas músicas de adoração. Comecei a cantar logo depois disso. Eu fazia e vendia CDs com a melodia dos hits pop, mas com letra gospel”, conta Sasha que hoje em dia, além de bailarino, tem mais de 30 músicas e 20 clipes lançados. Sobre a discriminação, Sasha fala da arte drag como um ato de resistência.

“Já aconteceu diversas vezes, tanto o preconceito racial quanto a homofobia. Quando me veem na rua montado, as pessoas não entendem o que é aquilo e querem ofender, olham torto. Mas sempre tentei tirar um aprendizado dessa dor. É claro que fui ferido e houve mágoas, mas sempre tive muita coragem para seguir em frente”, finaliza.

Entrevista

O seu nome é Fábio, mas o seu nome drag é Sasha Zimmer. Como você prefere ser chamado?

“Há um tempo entrei com processo de retificação do meu nome. Não é um processo de transição. Há pouco mais de 14 anos, todas as pessoas mais próximas me chamam assim. Hoje eu me sinto melhor com Sasha. Como é um nome que pode ser tanto masculino quanto feminino, acho que combina mais comigo. Eu sou um homem gay, mas gosto de transitar entre os gêneros. E o nome Sasha e a arte drag me permitem isso.”

Você já passou por alguma situação de preconceito quando estava “montado” [vestido como drag]?

“Já aconteceu diversas vezes, tanto o preconceito racial quanto a homofobia. Quando me veem na rua montado, as pessoas não entendem o que é aquilo e querem ofender, olham torto. Mas sempre tentei tirar um aprendizado dessa dor. É claro que fui ferido e houve mágoas, mas sempre tive muita coragem para seguir em frente.”

Quando você revelou a sua sexualidade para a sua família?

“Sempre fui muito afeminado, mas como eu sempre dancei, eles acreditavam que o meu jeito era por eu ter uma “veia artística”, um pensamento bem dos anos 90. Me assumi aos 14 anos e lembro das coisas mudarem a partir daí. Quando falei “sou gay”, a minha família começou a me fazer cobranças de “gente grande”.

A minha avó controlava a casa como um quartel. Ela chegou a me levar para a igreja evangélica achando que eu iria “me encontrar”. E tudo piorou até os meus 18 anos. Aos 16, eu conheci o drag e aos 17 já estava performando. Lembro de um dia que a minha avó chegou em uma boate que eu estava fazendo show e queria pular do segundo andar pra me esconder (risos).”

Você é religioso? Como foi esse tempo que frequentou a igreja?

“Eu amava aquele contato direto com Deus, mas eu era uma criança e não entendia porque eles falavam mal de outras religiões no culto e ao mesmo tempo pregavam que deveríamos amar uns aos outros. Mas posso dizer que foi ali na igreja que me encontrei como drag. Como bom fã de Beyoncé e Britney, eu aprendia a coreografia delas e colocava nas músicas de adoração. Comecei a cantar logo depois disso. Eu fazia e vendia CDs com a melodia dos hits pop, mas com letra gospel.”

E como surgiu a sua relação mais profissional com a dança?

“Toda a minha vida eu trabalhei muito com dança. Quando tinha 18 anos, minha tia me colocou para dar aula em um instituto que ela comandava. Dei aula de dança corporal para crianças deficientes auditivos, visuais e mentais. E elas dançavam de tudo! As meninas sempre pediam muito para colocar Shakira e Beyoncé (risos).”  

Para finalizar, como você vê a luta LGBTQIA+ atualmente? O que falta conquistar?

“Eu me orgulho de fazer parte dessa bandeira e também da minha luta individual. Mas acho que  ainda faltam tantas coisas. Respeito é o básico. Falta conquistar a liberdade de poder ser quem se é. Falta a gente poder sair de casa sem esse receio de ser chacota ou de ser assassinado. Às vezes parece que sempre que damos um passo para frente e conquistamos alguma lei, vem alguém para cortar as nossas asas.”

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