‘É como se o mundo ignorasse a existência de pessoas gordas’, diz Guilhermina Libanio, no ar em Malhação como jovem vítima de gordofobia

Publicado em 13/05/2018

É apenas o primeiro papel de Guilhermina Libanio, 20, na TV e a atriz já virou musa inspiradora para diversas mulheres jovens e adultas. Ela está no ar como Úrsula, em Malhação: Vidas Brasileiras, da Globo. Na trama, a adolescente é vítima de gordofobia. Vive conflitos com o corpo e sofre preconceito por parte de alguns colegas do colégio.

“Gordofobia é um problema real. As pessoas sofrem porque não estão dentro de um padrão imposto pela sociedade e isso é muito grave. É preciso que meninas gordas se amem. Eu me achei muito feia durante um tempo porque não tinha o corpo ideal”, ressalta ela. Confira o bate-papo:

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Úrsula é sua primeira personagem na TV, né? Como se sente tendo a incumbência de representar pessoas que sofrem com a gordofobia?

Sim. Eu me sinto muito honrada de estar colocando esse assunto em discussão, de estar fazendo as pessoas pensarem sobre o que é gordofobia e qual é a importância de falar sobre isso. É muito bom saber que muitas meninas estão se sentindo representadas através da Úrsula e também é muito bom saber que meninas estão em busca do amor próprio também influenciadas pela personagem. Representatividade importa.

Em algum momento da sua vida, você sofreu preconceito por ser gordinha?

Nunca sofri preconceito diretamente, mas acho que o preconceito está presente quando vou a uma loja e não encontro uma roupa do meu tamanho. Quando sento no ônibus e me sinto apertada no assento, quando sento em uma cadeira e não sei se ela vai aguentar o meu peso. É como se o mundo ignorasse a existência de pessoas gordas, utilizando a desculpa de que não quer estimular a obesidade. Tamanho único então, é uma afronta. Único para quem? (Risos)

O que diria para as meninas que sofrem por não se encaixarem nos padrões de beleza impostos pela sociedade?

Você não tem que se encaixar em nada. O padrão não existe, foi inventado. Então crie o seu próprio padrão de beleza. Vá atrás de pessoas com quem você se identifica, que sejam parecidas com você. Mude suas referência de beleza. Você não precisa ficar se anulando para entrar em um padrão que não te acolhe.

Vi no seu Instagram que você se tornou musa inspiradora para meninas que passam pelos mesmos dilemas da Úrsula…  

Jura?! Não me vejo nesse lugar. Mas sei a importância de estar representando tantas meninas na tv. Eu não tive essa referência e hoje vejo que fez falta. Fico feliz que as pessoas consigam se ver através de mim e se isso gera amor próprio, melhor ainda. Se empoderar é importante demais e pra isso precisamos de referências.

Conta para a gente como está a repercussão da sua personagem e o que mais os fãs têm falado para você.

Está sendo muito positiva! Tenho recebido muito amor e carinho. Mensagens de mulheres na faixa dos 30, 40 anos dizendo que se tivessem tido uma referência quando eram jovens tudo seria diferente. Meninas que estão nesse processo de empoderamento e me dizem o quanto é importante estar vendo uma menina gorda na TV. As pessoas querem se ver, se sentirem representadas, quando elas veem isso acontecendo elas ficam muito felizes. É como se fosse a confirmação da sua existência, entende?

E quais são as suas musas inspiradoras?

Tem tantas!! Eu amo exaltar mulheres que eu admiro. Plus Size tem a Ashley Graham, a Mariana Xavier, Flúvia Lacerda. Mulheres em um geral tem a Luellem de Castro, Antonia Pellegrino, Carolina Jabor, Patrícia Pillar, Alice Wegmann, Glória Pires, Fernanda Montenegro…

Malhação está discutindo o tema preconceito sob diversas perspectivas. Você acha que sua geração é uma geração mais consciente, que entende melhor a diversidade?

Não sei se é, mas deveria. A minha geração tem muito acesso à informação pra ficar reproduzindo preconceitos, principalmente as pessoas privilegiadas como eu. Não é possível que em 2018 as pessoas ainda estejam olhando apenas para o próprio umbigo. A diversidade que constrói um mundo mais interessante!

Dizem que as redes sociais, muitas vezes, estimulam as pessoas a acharem que a vida dos outros é sempre perfeita e melhor do que a delas. Você concorda? Acha que os adolescentes precisam se conscientizar mais sobre o uso das redes sociais, para não pirarem com os “corpos perfeitos” e “vidas perfeitas” que vêem por aí?

Eu concordo. E é por isso que de uns tempos pra cá comecei a mudar o tipo de pessoas que sigo em minhas redes sociais. Não dá para acreditar e ficar consumindo a “vida perfeita” de alguém. Mas não acho que isso seja um problema dos jovens. Os adultos também acreditam muito na vida perfeita que existe nas redes sociais. A verdade é que as fotos que vemos são o melhor das pessoas e não como elas estão 100% do tempo. Então nós ficamos comparando a nossa vida real com o melhor do outro e isso só gera frustração.

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