Domingão do Faustão: entre altos e baixos, 30 anos no ar

Publicado em 26/03/2019

O Domingão do Faustão completa 30 anos de sua estreia na Rede Globo nesta terça-feira, dia 26. Com toda a certeza, a atração comandada por Fausto Silva tornou-se um símbolo do domingo na TV brasileira, tanto quanto o Programa Silvio Santos, no ar há 55 anos. O domingo há décadas é um dia de disputa renhida pela audiência, e por isso a longevidade de um programa apresentado nesse dia é motivo particular de celebração.

Nascido em 1950 na cidade paulista de Porto Ferreira, Fausto Silva estreou no rádio ainda nos anos 1960, aos 14 anos, como repórter da Rádio Centenário, de Araras. Na década de 1970 instalou-se na capital do estado e passou por diversas rádios, como Record, Jovem Pan, Globo e Excelsior. Foi na Rádio Globo que começou a trabalhar com o locutor Osmar Santos, que foi para a Excelsior apresentar um programa de variedades e humor, com entrevistas e clima descontraído: o Balancê. Em 1983, Osmar deixou o programa e Fausto, que já participava dele como repórter e apresentador substituto, assumiu seu posto.

Fausto Silva chega à televisão

A estreia de Fausto Silva na televisão se deu no princípio de 1984. Isto é, como apresentador, já que anteriormente havia integrado a equipe do matutino Bom Dia São Paulo como comentarista esportivo. Ao participar de uma edição do Balancê, o jornalista Goulart de Andrade se empolgou com o que viu e propôs à equipe do programa que fizesse algo na mesma linha também no vídeo. Goulart comprou um horário na TV Gazeta de São Paulo e o Perdidos na Noite estreou em janeiro daquele ano. No entanto, em setembro passou para a TV Record, já sem a ingerência do criador do Comando da Madrugada.

Em 1986, Perdidos na Noite passou a ser exibido em rede nacional ao se transferir da Record para a Rede Bandeirantes. A saber, nessa mesma emissora Fausto comandou o Safenados e Safadinhos, a partir de 1987. Menos irreverente e com mais cara de show de variedades, era exibido às quartas-feiras, ao passo que o Perdidos ia ao ar aos sábados no final da noite. Até se falava dos filmes que a Globo apresentava no Supercine no mesmo horário, por exemplo.

A estreia do Domingão do Faustão: a fórmula da bagunça organizada

Ao chegar à Globo, com a missão de tirar audiência de Silvio Santos, Faustão recebeu carta branca de Boni, vice-presidente de operações da emissora, para fazer e dizer o que quisesse. Por óbvio, dentro dos limites da tarde de domingo. O primeiro diretor escolhido para o programa foi o tarimbado Augusto César Vannucci, de larga experiência em shows e humorísticos e retornando à casa após uma passagem pela Bandeirantes. Posteriormente, profissionais como Detto Costa, Carlos Manga, Maurício Sherman, Angela Sander e Jayme Praça comandaram o Domingão. Atualmente, Henrique Matias responde pela direção-geral da atração.

Digamos que a maior tarefa seria enquadrar a irreverência do apresentador num padrão global possível. Vários pilotos foram produzidos e jogados fora até que se encontrasse o ponto considerado ideal. Algo que não fosse anacrônico em relação ao estilo já conhecido do apresentador, democrático, anárquico, mas ao mesmo tempo limpo e bem produzido, num espírito de diversão e imprevisibilidade.

Tempos difíceis para o Domingão do Faustão

Na segunda metade da década de 1990, a concorrência com o Domingo Legal, de Gugu Liberato, no SBT, atrapalhou bastante a vida de Fausto Silva. Quadros como “Gugu na Minha Casa”, “Táxi do Gugu”, o erotismo sugerido e possível da “Banheira do Gugu” e outros faziam a glória das tardes e roubavam público do Domingão e do filme exibido antes dele, na sessão Temperatura Máxima. Para contra-atacar, a Globo investiu em atrações como o “Latininho”. Tratava-se de Rafael Pereira dos Santos, que em 1996 tinha 15 anos e apenas 87 centímetros de altura. Rafael era portador de uma doença que retarda severamente o crescimento, a síndrome de Seckel. O apelido se deu porque Rafael fez sua aparição vestido à imagem e semelhança do cantor Latino. Além disso, houve o lendário sushi erótico, com atores do elenco da emissora comendo itens da culinária japonesa servidos com mulheres cumprindo a função de bandejas e travessas. Com efeito, pegou muito mal. Gerou toda uma discussão na época, incrementada pela apelação de contemporâneos como o Ratinho Livre, em torno do mundo-cão e da busca desenfreada pelo ibope.

Todavia, no começo dos anos 2000 foi Gugu quem caiu em desgraça. Principalmente após uma entrevista com supostos integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), na qual apresentadores policiais como Marcelo Rezende e Milton Neves – este na época à frente do Cidade Alerta – foram ameaçados. Desmascarada a farsa, uma vez que os entrevistados não eram integrantes autênticos da organização, a imagem de Gugu e de seu programa dominical ficou “queimada”, como se diz.

Dança, música e artistas do passado: o Domingão do Faustão volta a uma fase de brilho

Até hoje, não falta quem diga que ser global pasteurizou o estilo de apresentação de Faustão. No entanto, o que se pode dizer é que ele se aprimorou dentro da liberdade possível na emissora dos Marinho. E os resultados, com maior ou menor folga em relação aos concorrentes e com alguns períodos de dificuldades, demonstram que para a Globo foi bom persistir com o Domingão, ao invés de colocar a grade para “voar” e/ou apostar apenas numa enxurrada de enlatados. Aliás, esta foi uma opção possível e largamente utilizada ante o domínio inabalável do Homem do Baú aos domingos.

Alguns anos atrás, tanto o mesmo SBT quanto a Record, com seus investimentos em filmes e jornalismo, também andaram incomodando o Domingão do Faustão. Uma nova geração passou a considerar Faustão chato, em especial por interromper os convidados enquanto falam e fazer piadas sem graça.

Um programa cuja abertura um dia foi embalada por uma música que aludia a um tempo em que “sapato grande era sapatão” e “sentar numa boneca era só quebrar um brinquedo” teve que se alinhar ao longo dos anos a novas pautas e a um público não mais tão disposto a uma abordagem datada. Mas quadros como a “Dança dos Famosos”, “Show dos Famosos” e o mais recente “Ding-dong” e outros revigoraram o Domingão do Faustão e deram a ele um novo frescor, necessário a atrações que cruzam décadas como ele. Além disso, diga-se que Faustão é dos poucos apresentadores que, mesmo antes dos recentes quadros musicais, sempre levou a seu programa na medida do possível artistas consagrados do passado, como Cauby Peixoto e Angela Maria. Goste-se dele ou não, Faustão e seu Domingão são emblemáticos demais para a televisão. Ô louco, bicho, rimou, meu! Eita…!

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