Bastidores

Coautor de Babilônia, João Ximenes Braga faz desabafo sobre fracasso da novela e trabalhos cancelados de Gilberto Braga

Autor culpou intervenção pelo insucesso da trama de 2015

Publicado em 30/10/2021

O roteirista João Ximenes Braga abriu o coração a respeito da perda do autor Gilberto Braga – seu amigo, chefe e colaborador em vários trabalhos na Globo – e dos últimos anos da carreira na Globo do recém-falecido novelista.

Em entrevista à jornalista Cristina Padiglione, Ximenes explicou que Gilberto tinha muita vontade em produzir um novo trabalho após Babilônia (2015), projeto que assinaram juntos, em parceria ainda com Ricardo Linhares, e que ficou marcado com o pior Ibope da história da Globo às 21h.

O fracasso artístico e de audiência de Babilônia não pode ser atribuído a Gilberto, e sim à intervenção mal intencionada que destruiu completamente a espinha dorsal da novela. Tenho zero esperança de que alguém venha a público assumir que o fracasso (…) seja responsabilidade de intervenção, e não dele e de sua equipe“, alfinetou.

[Braga] me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. Pode parecer irrelevante lembrar de um fracasso neste momento em que todos o homenageiam pelos sucessos. Mas superar esse fracasso era importante PARA ELE“, frisou João.

Segundo ele, Gilberto chegou a chamá-lo para outro dois projetos na Globo. Um deles era uma minissérie sobre Elis Regina. “Apesar de os seis capítulos entregues, nunca foi produzida, porque o filme Elis [do diretor Hugo Prata, lançado em 2016] chegou primeiro.

Já o outro era destinado à hoje extinta faixa das 23h. “Ele queria revisitar Brilhante (1981), que havia sido tão censurada que ficou incompreensível, e refazer a história como deveria. Ganhou [até] outro título, Intolerância. Teve seus 60 capítulos escritos e entregues, mas foi sucessivamente adiada e, por fim, cancelada, pelas mesmas forças que destruíram Babilônia.

Na sequência, Ximenes Braga comentou o cancelamento de outro trabalho do autor, Feira das Vaidades – adaptação do clássico britânico Vanity Fair (1885) destinada à faixa das 18h. “Feira das Vaidades foi cancelada este ano porque, segundo ele [Gilberto] me disse, diante da crise da pandemia a emissora não faria mais produções de época.

O novelista – autor também da premiada Lado a Lado (2012), em parceria com Cláudia Lage – encerrou o depoimento a Padiglione fazendo um apelo à Globo para que disponibilize, mesmo que a título de doação, os capítulos roteirizados de Intolerância e, se possível, os 80 capítulos de Babilônia escritos antes da intervenção.

A Babilônia que vocês viram não chega aos pés da Babilônia que concebemos. É o mínimo a fazer com a memória de Gilberto. Em seu último telefonema para mim, ele insistia que queria fazer uma nova novela para não encerrar sua carreira com o fracasso que lhe foi imposto“, concluiu.

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