Liberdade criativa

Cinco vezes em que Triunfo do Amor ‘traiu’ O Privilégio de Amar

Maite Perroni é a protagonista da versão 'atual'

Publicado em 23/04/2021

Após cinco meses de exibição, a novela mexicana Triunfo do Amor entrou oficialmente em sua reta final nas tardes do SBT. Em breve, o público conhecerá o desfecho dos apaixonados Maria Desamparada (Maite Perroni) e Maximiliano (William Levy), além de vilões como Helena (Dominika Paleta), Guilherme (Guillermo García Cantú) e Bernarda (Daniela Romo).

Apesar de ser um remake de uma das histórias latinas mais famosas já transmitidas por Silvio Santos – O Privilégio de Amar, produzida pela Televisa em 1998 -, Triunfo do Amor não se preocupou em manter-se fiel ao roteiro original, trilhando por vezes caminhos bem diferentes da trama precursora – ousadia que motivos críticas de alguns e elogios de outros.

Vejamos algumas ocasiões em que a história atualmente em cartaz fugiu aos limites impostos por sua versão mais famosa.

Lourença (Sabine Moussier, à esquerda), em O Privilégio de Amar, e Linda (Dorismar Kerchen, à direita), em Triunfo do Amor (Reprodução / Televisa)

A morte de Linda

Logo nos primeiros meses de Triunfo do Amor, uma mudança fundamental veio alterar completamente os rumos esperados para a saga. Personagem de grande destaque nas roupagens prévias da obra, Linda (Dorismar Kerchen) foi simplesmente eliminada do remake!

Após uma rápida incursão pelas vilanias – outra novidade em relação ao texto-base -, a roommate de Maria Desamparada acabou assassinada por Helena e Guilherme, em represália por ter tentado chantageá-los. Com tudo, toda – ou quase toda – a longa história que seria vivida por Linda na sinopse teve de ser jogada no lixo.

Em O Privilégio de Amar, ela corresponde a Lourença (Sabine Moussier), que permanece viva até o fim da história e chega, inclusive, a redimir-se de seu lado mais ‘saidinho’ ao descobrir-se portadora de câncer de mama. Em Triunfo, esse entrecho acabou sendo reciclado entre os dramas de Vitória Sandoval (Victoria Ruffo).

Tamara (Cynthia Klitbo, à esquerda), em O Privilégio de Amar, e Helena (Dominika Paleta, à direita), em Triunfo do Amor (Reprodução / Televisa)

O direito de nascer

Em ambas versões da obra de Delia Fiallo – como também em Cristal, remake brasileiro que o próprio SBT produziu em 2006 -, a primeira grande separação dos pombinhos Max e Maria é motivada pela descoberta de que Helena espera um filho do galã. Criança esta que, na verdade, é fruto do affair proibido da vilã com Guilherme Quintana.

Tal premissa foi respeitada em Triunfo do Amor, mas ganhou desdobramentos inéditos no decorrer da trama. Em O Privilégio de Amar, Tamara (Cynthia Klitbo), a ‘Helena da vez’, sofre um aborto espontâneo ao ser acidentalmente atropelada pelo mocinho Vítor Manuel (René Strickler), fato que chega a usar para chantageá-lo emocionalmente.

Na versão rodada em 2010, o filho de Helena chega a nascer, sendo batizado de Osvaldinho em homenagem ao avô paterno, Osvaldo Sandoval (Osvaldo Ríos). Isso gera uma decepção ainda mais profunda em Max ao descobrir, posteriormente, que Guilherme é o verdadeiro pai do bebê.

Ana Joaquina (Marga López, à esquerda), em O Privilégio de Amar, e Bernarda (Daniela Romo, à direita), em Triunfo do Amor (Reprodução / Televisa)

O segredo da beata

A obsessão de Bernarda de Itavera (Daniela Romo) em fazer do filho, João Paulo (Diego Olivera), um sacerdote escondia na verdade o desejo de expiar um enorme sentimento de culpa, relacionado a um episódio do passado. O mesmo acontecia a Ana Joaquina (Marga López), precursora da megera religiosa em O Privilégio de Amar.

O que mudou de uma versão para a outra, no entanto, foi o segredo de ambas personagens. Ana Joaquina havia roubado o amor do marido, Raimundo (Luis Uribe), de sua amiga Rosália, que, numa insana vingança suicida, ateou fogo ao próprio corpo e invadiu a igreja durante a cerimônia de casamento da vilã – que nunca se perdoou por isso.

Já Bernarda trazia a ficha bem mais suja. Ainda solteira, ela se deixou seduzir por Gonçalo (Arturo Carmona) – o verdadeiro pai de João Paulo – e acabou grávida. Ao descobrir que o amante era casado, a maluca provocou um incêndio que o matou junto da esposa.

Permaneceu entre ambos folhetins, porém, o entrecho em que Fidélio / Fausto (Carlos Amador / Juan Carlos Franzoni), filho da vítima de Ana Joaquina / Bernarda, regressa em busca de vingança e faz-se passar por empregado da vilã.

Os padres João da Cruz (César Évora, à esquerda), em O Privilégio de Amar, e João Paulo (Diego Olivera, à direita), em Triunfo do Amor (Reprodução / Televisa)

Sacerdote maroto

Todo o contrário da mãe falsa religiosa, o padre João da Cruz (César Évora) era apresentado em O Privilégio de Amar como um modelo de virtude cristã. O cuidado da roteirista Liliana Abud – que, por sinal, também assinou a adaptação de Triunfo do Amor – na condução do sacerdote católico dentro da história de 1998 foi tão acertado que recebeu, à época, elogios do próprio Vaticano!

O remake de 2010, porém, permitiu-se ‘desencaretar’ um pouco mais essa figura tão emblemática em todas as versões da história. João Paulo Itavera chegou a abandonar temporariamente a batina para se dedicar exclusivamente à filha, Maria Desamparada, e até violou o segredo de confissão da própria mãe, Bernarda, ao revelar à protagonista o parentesco que os unia.

Alonso foi vivido por Toño Mauri (à esquerda) em O Privilégio de Amar e por Mark Tacher (à direita) em Triunfo do Amor (Reprodução / Televisa)

Merchandising social x ficção científica

Além de disputar o amor da mocinha Cristina (Adela Noriega) com Vítor Manuel, Alonso (Toño Mauri) vivia um drama bastante pessoal em O Privilégio de Amar. Perto da reta final da história, ele se descobria vítima de leucemia, numa elogiada retratação da doença, que ainda serviu perfeitamente às necessidades dramáticas do roteiro.

Salvador Mejía, o produtor de Triunfo do Amor, entendeu que esse entrecho poderia render muito mais em sua releitura da história, e transformou a enfermidade do fotógrafo – que, agora interpretado por Mark Tacher, conservava o mesmo nome da outra trama – em um vírus desconhecido, altamente mortal e contagioso, que chegou a afetar outros personagens, como os próprios protagonistas.

Isso fez com que a trama, à época, ganhasse ares de ficção científica. No entanto, em 2020, com o início da pandemia do coronavírus, alguns fãs da trama passaram a encarar esta parte de Triunfo do Amor como uma espécie de profecia da covid 19. Cruzes!

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