Caminhos do Coração, a “novela dos mutantes”, estreava há 10 anos

Publicado em 28/08/2017

No dia 28 de agosto de 2007, a Record colocava no ar um dos maiores sucessos de sua história: a novela Caminhos do Coração, escrita por Tiago Santiago e dirigida por Alexandre Avancini. A novela chamava a atenção pela trama inusitada, que misturava thiller policial com fantasia, ao contar a história de um grupo de crianças e jovens mutantes que passam a ser perseguidos por um vilão misterioso.

Caminhos do Coração girava em torno de Maria (Bianca Rinaldi), uma artista circense que vive no circo Don Pepe, ao lado dos pais Ana Luz (Fafá de Belém) e Pepe (Perfeito Fortuna). Quando Maria descobre que é filha adotiva, acaba envolvida numa armadilha: a polícia a encontra deitada com uma seringa perto do corpo do Dr. Sócrates (Walmor Chagas), o poderoso dono da Clínica Progênese, e é acusada de matá-lo. Assim, a mocinha descobre que, na verdade, é filha do médico, e passa a ser perseguida por bandidos que não querem que ela acesse a herança que tem direito.

Quando vai presa, Maria é ajudada pelo policial Marcelo (Leonardo Vieira), que ficou viúvo recentemente. Sua esposa foi morta por causa de um doce envenenado, que estava destinado à sua filha Tatiana (Letícia Medina), uma menina com poderes mentais. Ao ajudar Maria a escapar da prisão, Marcelo se torna um fugitivo da lei, e os dois, juntos, descobrem que um ser misterioso quer acabar com várias crianças que foram concebidas por meio de intervenções realizadas pela Clínica Progênese. Isso porque a Dra. Júlia Zaccarias (Ítala Nandi), uma médica da clínica, cria há 30 anos seres humanos geneticamente modificados, num projeto de nome “Projeto DNA”, que dá origem a humanos com superpoderes.

Entre eles, Tati, mas há também Vavá (Cássio Ramos), o menino-lobo; Ângela (Julia Magessi), uma menina com asas; e Aquiles (Sérgio Malheiros), um rapaz com supervelocidade; entre outros. No decorrer da trama, Maria e Marcelo passam a proteger as crianças mutantes, que são constantemente perseguidas pela trupe de vilões formada pelo delegado Taveira (Gabriel Braga Nunes), Helga (Preta Gil), Eric (Tuca Andrada) e Ramon (Alexandre Barilari). Os dois últimos são comparas de Helga, e recebem ordens de exterminar os mutantes de um vilão oculto. Capítulos à frente, Maria se descobre, também, a primeira das experiências da Dra. Júlia, ou seja, é também uma mutante, que possui superforça.

Caminhos do Coração estreou muito bem. A trama vinha na difícil missão de manter a boa audiência das novelas das 22 horas da Record, substituindo a muito bem-sucedida Vidas Opostas. A história de Tiago Santiago não apenas conseguiu manter os números, como elevou os índices. Apesar do tema inusitado, tratava-se de uma trama bem interessante, pois mesclava com competência o folhetim tradicional com o realismo fantástico. Entretanto, com o sucesso da novela, Tiago Santiago se viu obrigado a esticar além da conta sua trama, além de aumentar o espaço dos mutantes da obra.

E foi assim que Caminhos do Coração se perdeu. Santiago perdeu mão de sua história ao incluir outros adultos mutantes (que iam contra a história inicial de que o Projeto DNA existia há 30 anos e Maria havia sido a primeira experiência), e colocá-los numa ilha onde ficavam as “experiências que não deram certo” da Dra. Júlia. De repente, a trama central foi desviada e a novela passou a perder tempo com duelos toscos e diálogos mais toscos ainda entre mutantes. Por fim, ainda veio a pior das decisões: a trama ganharia uma segunda temporada. No final de Caminhos do Coração, foi revelado que a própria Dra. Júlia era a mandante dos assassinatos dos mutantes e, para fugir, experimenta um soro da juventude em si mesma, tornando-se Juli (Babi Xavier).

Começava Os Mutantes – Caminhos do Coração, que se perdeu logo de cara. Qualquer sinal da trama folhetinesca desapareceu, e a novela andou praticamente sem história, apenas aumentando sua cartela de mutantes cada vez mais bizarros. Também foram acrescentados outros elementos à “mitologia” da história, com a presença dos homens-formiga, que viviam embaixo da Terra. Com tantas reviravoltas, a trama se perdeu ainda mais, e a audiência foi caindo aos poucos. Para tentar conter a queda dos índices, deu-se início à terceira temporada da obra, chamada de Mutantes – Promessas de Amor.

A nova fase voltou a apostar num romance, entre Sofia (Renata Dominguez) e Amadeus (Luciano Szafir), casalzinho atrapalhado pelo vilão Nestor (Léo Rosa). A “guerra” entre mutantes e humanos prosseguia paralelamente, e ganhava mais desdobramentos, com a revelação de que a tecnologia usada para a criação de mutantes era, na verdade, alienígena. Os ET’s, então, invadiram a Terra, e Nati (Maytê Piragibe) e Valente (Marcos Pitombo) estavam à frente nesta batalha interplanetária. No final de tudo, Dr. Sócrates acaba reaparecendo, revelando-se um alienígena. Era ele quem guiava Júlia/Juli todo este tempo. E assim, quando a Terra estava prestes a acabar, Amadeus salvava Sofia de ser sequestrada por Nestor. Ou seja, nada mais fazia sentido, e a audiência foi lá no pé.

Assim, Caminhos do Coração pode ser lembrada como um grande sucesso da Record, mas que acabou se tornando um fiasco justamente porque a emissora não soube a hora de parar, prolongando a trama indiscriminadamente, tornando-a um “samba do mutante doido”. Foi uma trama histórica por ser a primeira novela da Record a liderar na média geral do Ibope, em 6 de fevereiro de 2008. Neste dia, a novela registrou 22 pontos de média, contra 20 pontos da Rede Globo, que exibia um jogo de futebol. Em seu pico de audiência, Caminhos do Coração registrou 27 pontos, ante 15 da Globo. O último capítulo da primeira temporada registrou média de 23 pontos e 32% de share, prejudicando a estreia de A Favorita, que no mesmo horário marcou 35 pontos e se tornou a pior audiência de estreia da Globo no horário até aquele momento.

Leia também:

Estúpido Cupido estreava há 41 anos

Reveja uma das muitas batalhas constrangedoras de Caminhos do Coração:

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade